Lia Ribeiro Dias
do Tele.Síntese
23/05/2014 – Fato comum é provedores de banda larga se juntarem para fazer compras em conjunto, aumentar a escala e, assim, conseguir melhores preços. Essa é uma prática antiga desse mercado, adotada com muito sucesso e origem de várias entidades setoriais. Caso raro é usar a associação para lançar uma marca comum, a ser construída sobre parâmetros técnicos, administrativos (em especial atendimento aos clientes) e financeiros.
Este é o desafio a que se lançou a Associação Nacional de Provedores de Internet que, apesar do nome ambicioso, reúne 16 provedores de banda larga que operam em cerca de 150 municípios dos estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, com uma base de 40 mil clientes. O processo de migração para a marca única começou recentemente e deve levar cerca de um ano.
“Não é um processo fácil, pois nem todas as empresas estão no mesmo estágio. Para se adotar a marca MilhaTelecom, a empresa tem que atender a uma série de parâmetros definidos pela associação. São parâmetros técnicos, em termos de tecnologia e configuração de rede, parâmetros administrativos e de atendimento ao cliente e parâmetros financeiros”, relata Leonardo de Lima Gomes Filho, presidente da entidade e dono da Ondanet que atua em 13 cidades, 11 delas na Paraíba (região de Santa Luzia) e duas no Rio Grande do Norte. Hoje, apenas cinco dos 16 sócios atenderiam aos parâmetros definidos.
Formalizada em 2007, a entidade desses provedores regionais, que começou como uma central de compras, evoluiu para outros serviços. Do seu cardápio hoje fazem parte uma central coletiva para atendimento dos clientes dos associados, procedimentos comuns para gerenciamento técnico e administrativo, treinamento coletivo das áreas técnicas, workshops em diferentes áreas, de atendimento ao cliente à gestão do negócio.
Não é uma entidade aberta a qualquer interessado. “Somos o clube do Bolinha”, brinca Alcimar Cortez, diretor geral da Cortez Online e um dos sócios fundadores da associação, com operação na região de São José do Mipibu, perto de Natal. Para ser admitido no clube, o provedor tem que ser aprovado por unanimidade e se comprometer a seguir as regras do estatuto.
Marca própria
A ideia de uma marca própria, que representasse uma base maior de clientes e que desse maior poder de fogo ao grupo, surgiu da percepção de que o mercado de provedores regionais de banda larga está mudando. Se até o ano passado havia espaço para todo mundo, em função da enorme demanda reprimida especialmente no interior do país, a partir deste ano o cenário está mudando. “Já estamos vendo pequenos provedores em acirrada competição, um tomando cliente do outro”, conta Gomes Filho, da Ondanet. E sua previsão é de que, nos próximos dois a três anos, haverá uma depuração do mercado. “Vão sobrar os que oferecerem bons serviços”, completa.
A concessionária local, que tem obrigação legal de levar banda larga a todos os municípios de sua área de concessão, nunca foi competidora desses provedores regionais. “Este mercado não interessa à Oi”, comenta Gomes Filho.
Mas não basta oferecer bons serviços. “É preciso construir uma marca de referência”, diz Maciel Fernandes, outro membro do clube, sócio da M4Net, que opera na região de Santa Cruz (RN). Ele relata que, quando a Oi começou a oferecer o serviço Velox na sua área de operação, perdeu vários clientes em função do peso da marca. “Depois muitos voltaram em função do nosso atendimento. Na minha empresa o cliente é atendido por uma pessoa; no serviço Velox, por uma máquina. E no interior o atendimento pessoal ainda é muito valorizado, até porque as pessoas têm menos informação e precisam de mais apoio”, diz.
Com uma marca comum, vão também ter condições de fazer campanha publicitária em televisão. “Este fator é fundamental para nossas empresas crescerem”, acredita Gomes Filho, um administrador de empresas que sempre gostou de tecnologia. O objetivo é associar a marca comum, já incorporada à marca própria de cada empresa, a um padrão de qualidade na oferta dos serviços e no atendimento ao cliente.
Novos serviços
Com um ticket médio de R$ 38 por cliente, bem abaixo do ticket médio das grandes operadoras, os provedores regionais procuram ampliar seu leque de atuação com serviços associados. Mas as empresas reunidas na Associação Brasileira de Provedores de Internet só oferecem banda larga e voz sobre IP. Mesmo para os clientes corporativos — que representam 20% da base – não oferecem telefonia fixa. “As exigências da Anatel são tantas que não compensa do ponto de vista financeiro”, diz Gomes Filho.
Também não está no horizonte dos provedores da associação a oferta de vídeo. “A questão está no conteúdo, muito monopolizado”, observa Fernandes. Segundo ele, é preciso ter alguma escala para comprar conteúdo da NeoTV. “No caso do vídeo, não adianta a escala gerada pela soma de várias operações, porque cada empresa tem que ter os equipamentos de head end – e cada um custa R$ 500 mil”, completa Cortez.
Frente a um cenário que consideram ainda sem definição e do limitado poder aquisitivo de seus clientes, preferem investir na rede a investir na oferta de vídeo. “Na minha cidade, Santa Luzia, na Paraíba, só existem 112 clientes de TV por assinatura. Todos via satélite, serviço oferecido na região pela Oi, pela Claro e pela Sky”, observa.
Mas se não se arriscam na oferta de vídeo, os provedores da associação já estão investindo em fibra óptica. Todos os 16 associados têm fibra no backhaul, e três deles têm fibra na casa de parte de clientes. “Já abandonamos o rádio há tempos, a não ser para o atendimento rural. Nas cidades, usamos o par metálico na última milha, como regra geral. Alguns poucos usam fibra”, informa o Gomes Filho.
Os eventos regionais são realizados pela Bit Social, com patrocínio do BNDES, do Sebrae e da Padtec e apoio da Furukawa.