O desafio de se conectar para educar

15/07 – O pedagogo Luca Rischbieter defende: uma RSE tem potencial para ser uma nova plataforma, que coloca efetivamente cada professor e cada aluno no centro de uma grande – e segura – rede de atividades e de diálogos.

Luca Rischbieter, consultor pedagógico da área de Tecnologia Educacional da Positivo Informática.

15/07/2014 – Há apenas alguns anos a atitude da grande maioria das escolas, quando se falava em uso das redes sociais, era de total rejeição. Isso está mudando e estamos aprendendo que é preciso buscar caminhos para explorar o grande potencial das novas tecnologias, o que obviamente inclui as redes sociais.

Mas tomar a decisão de explorar as redes sociais não implica cair no extremo oposto, e abrir-se totalmente a seu uso descontrolado, o que pode levar à inviabilização do funcionamento de uma escola, nos moldes a que estamos todos habituados. Esse é um risco real e, nos dias de hoje, as redes sociais já estão na origem de muitas dificuldades para nossas escolas, como todos nós sabemos e percebemos.

O que pode fazer a escola que deseja explorar as redes sociais e suas funcionalidades, mas que deseja controlar esse processo?

Uma primeira possibilidade é começar a usar, em atividades de natureza escolar, as redes sociais mais populares, utilizadas pelos estudantes. Nelas encontramos recursos que permitem, por exemplo, criar eventos (que podem ser desde projetos até questões de avaliação), ou gerar espaços de diálogo virtuais com grupos específicos.

Mas há uma serie de questões delicadas envolvidas em utilizar, para fins escolares, redes sociais como o Facebook, dentre as quais se destacam a falta de controle e de privacidade, a insegurança quanto a criar espaços seguros em uma rede aberta, a dispersão potencial. Compreende-se a hesitação da imensa maioria das escolas em oficializar, mesmo que de forma restrita, a presença de redes sociais em atividades escolares.

Ao reconhecermos tanto o grande potencial como os riscos do aproveitamento das redes sociais, surge uma pergunta interessante para as escolas e para criadores de materiais didáticos: “Como seriam ambientes com as mesmas funções de uma boa rede social, mas voltados exclusivamente para serem usados por escolas?”

As redes sociais educacionais são a resposta mais instigante a essa pergunta, e são uma das grandes inovações do mercado de produtos didáticos e pedagógicos.

Mas o que é uma rede social educacional (RSE)?

Uma RSE é um ambiente virtual de aprendizagem que oferece recursos de comunicação semelhante às redes sociais, mas com algumas diferenças fundamentais:

Segurança e registro. Tudo acontece de forma monitorada, controlada e segura. Uma RSE é uma rede de acesso restrito aos membros de uma comunidade escolar. Pode pertencer a uma escola, a uma rede de escolas privadas, à rede de um município ou agrupar centenas de escolas, de diferentes lugares e com diferentes perfis. Há um cadastro, que respeita os papeis dos atores do sistema escolar, e cada aluno inscrito passa a fazer parte de uma comunidade virtual em que suas turmas, seus parentes, seus professores estão claramente identificados, e cada participação (comentário, resposta, imagem, colaboração em projetos etc.) é registrada.

Gerenciamento. A operação de uma RSE “duplica” a estrutura da escola, e isso abre grandes facilidades para o gerenciamento do trabalho. Cada professor encontra recursos para dialogar e trabalhar com suas turmas, e para interagir com seus estudantes, em um contexto escolar em que tudo é registrado. Além disso, surgem possibilidades para criar e propor atividades para grupos específicos de estudantes, ou para trabalhar de forma individualizada.

Conteúdo. Uma RSE oferece conteúdos e ferramentas voltados para as atividades da escola, para ‘o ensinar e aprender’. Uma das forças de uma boa RSE está justamente na combinação das funcionalidades de uma rede social com a disponibilização de conteúdos multimídia, de ferramentas de autoria, de comunicação e de diferentes recursos educacionais. Os conteúdos e propostas são “mergulhados” em um ambiente virtual interativo, o que pode gerar muita motivação e até a troca, por alunos da escola, de horas gastas em uma rede “aberta” por interações na RSE. Os recursos de gerenciamento permitem que o professor crie e organize seus próprios percursos de ensino, estimulando e acompanhando a produção dos alunos, personalizando os desafios etc.

Registro e avaliação. A avaliação em diversas concepções é contemplada em uma RSE. Os bancos de dados trazem questões de testes nacionais e internacionais, testes elaborados por professores da escola, ferramentas de criação de questões,  tudo isso associado a mecanismos de registro de performance que permitem personalizar os testes e pensar em percursos didáticos criados em função dos resultados. Outras concepções de avaliação ganham novas possibilidades, especialmente a avaliação que é embasada na criação de portfólios formados a partir dos registros de atividades de cada estudante, nos bancos da RSE.

Incremento ao diálogo. Uma RSE permite integrar uma infinidade de novos recursos ao processo educativo de forma dinâmica, passando a empregar formas de diálogo que estão muito mais próximas dos processos interativos utilizados por crianças e jovens quando estão fora da escola. Elas estimulam o diálogo, mas mantêm o foco sobre aspectos priorizados pela escola. E, a partir de certa escala, que pode envolver apenas um punhado de escolas, uma RSE, mesmo restrita e segura, começa a abrir espaço para a interação e para o desenvolvimento de projetos entre estudantes de escolas que podem estar muito distantes, geográfica e culturalmente.

Estas são algumas das diferenças essenciais que fazem das RSEs produtos de grande interesse para escolas que se perguntam: “Como incorporar tecnologias digitais a nosso fazer escolar, buscando aumentar a qualidade das relações, a motivação e os resultados de aprendizagem?”.

Uma RSE tem potencial para ser uma nova plataforma, que coloca efetivamente cada professor e cada aluno no centro de uma grande – e segura – rede de atividades e de diálogos.

Em suma, “rede social educacional” é uma ideia fascinante. Um conceito, um produto, que vale a pena explorar, quaisquer que sejam as preferências, o currículo e o projeto de uma escola, ou de uma rede de escolas, no setor público ou privado.