Prêmio ARede 2014 – Setor Público | Tecnologia para acessibilidade
Escolas preparadas para a inclusão
Com softwares de acessibilidade instalados nos laboratórios de informática, São Paulo assegura formação para estudantes com deficiência em toda a rede Municipal.
Texto Fatima Fonseca | Foto Divulgação
ARede nº 101 – especial novembro de 2014
INSTALAR LABORATÓRIOS de informática em 560 escolas públicas de ensino fundamental, que atendem a um contingente de 1 milhão de alunos, não é tarefa fácil. E se torna ainda mais complexa se, nesse universo, existirem 25 mil estudantes com algum tipo de deficiência. Esse desafio foi superado, na cidade de São Paulo, por uma iniciativa do Núcleo de Informática Educativa, da Secretaria Municipal de Educação (SME). Os educadores e técnicos foram a campo buscar softwares de acessibilidade para que alunos com deficiência pudessem não apenas ser incluídos mas ter maior interatividade, inclusive social. O projeto Recursos Tecnológicos Acessíveis, vencedor do Prêmio ARede 2014, investiu também na formação dos professores especializados em informática educativa.
“Os professores tinham dificuldade em fazer com que alguns desses alunos com deficiência participassem da aula de informática”, conta Deise Tomazin Barbosa, assessora técnica de Informática Educativa da SME. “Diante dessa necessidade, decidimos realizar uma pesquisa e garimpar softwares para suprir a necessidade desses alunos dentro do laboratório de informática ou na sala de aula”.
O projeto, que começou em 2012, com seis programas de acessibilidade, envolve hoje dez sistemas e os chamados objetos de aprendizagem, entre os quais games educativos, cujo objetivo é fazer com que a criança aprenda brincando. De acordo com Deise, todas as escolas da rede têm equipamentos onde estão instalados os programas DosVox, MecDaisy, Eugênio, PCS, Teclado Virtual, Sarobã Virtual, Mouse Virtual, NVDA, Simon e MicroFênix. São soluções voltadas a pessoas com baixa visão, deficiência física, mobilidade reduzida, limitação motora, deficiência intelectual, dificuldade de leitura e escrita, deficiência auditiva e dificuldade em comunicação verbal e não verbal. Conforme outras necessidades vão aparecendo, os técnicos promovem novas pesquisas.
O projeto encontrou apoio na comunidade acadêmica e foi além dos muros da escola. Como alguns só têm a possibilidade da comunicação através do recurso tecnológico, os educadores orientam as famílias a instalar os softwares nos computadores de casa. “Também recebemos ligações de profissionais pedindo formação, propondo parceria. Por isso, na Diretoria de Educação temos uma equipe que trabalha diretamente com os alunos com deficiência”, conta Deise.
CAPACITAÇÃO DOCENTE
Já foram capacitados cerca de 900 Professores Orientadores de Informática Educativa (Poie), que atuam nos laboratórios. “Os softwares de acessibilidade foram instalados inclusive nas redes administrativas das escolas e os cursos são oferecidos para todos os professores que queiram se atualizar e aprender a elaborar as atividades e projetos para que alunos com deficiência possam participar das atividades com o uso de tecnologias”, acrescenta Deise. Esses cursos são coordenados por gestores ligados às 13 diretorias regionais de educação. Todos os dez softwares são livres, mas a formação para os profissionais da educação abrange também as atividades com a acessibilidade do Windows. “Estamos tentando cercar de todas as maneiras para que nenhum aluno fique fora do laboratório”, informa a assessora técnica de Informática.
Os números da Secretaria de Educação mostram que, ao todo, cerca de 2,6 mil profissionais, desde o professor da educação infantil até o professor de ensino médio, receberam formação em tecnologias para acessibilidade. O levantamento do número de alunos incluídos ainda está sendo feito pela equipe da Educação Especial. A gestão do programa contempla uma reunião mensal com os profissionais de informática educativa, que apreentam um relatório dos resultados em sala de aula.
Uma das gestoras em Informática Educativa, Maria Izilda Almeida Borges, relata os avanços. Integrante da Diretoria Regional de Educação de Freguesia do Ó, que responde por 49 escolas do ensino fundamental, ela se orgulha do uso, também por alunos deficientes, do scratch (criado pelo Media Lab, do Massachusetts Institute of Technology, MIT). “Essa linguagem de programação está sendo disseminada na nossa rede, contemplando a todos, inclusive os alunos com deficiências”, relata. Os estudantes usam o scratch para criar histórias animadas, jogos e outros programas interativos.
Há 26 anos na profissão, a professora Roselaine Chanes, orientadora da EMEF Zilka Salaberry de Carvalho, no Jardim Antártica, zona Norte de São Paulo, confirma: “As tecnologias de acessibilidade ajudaram bastante. Temos nesta escola alunos com deficiência motora, dificuldades na fala e muitos com paralisia cerebral, com enorme dificuldade até de se mexer. Para esses alunos é uma alegria quando conseguimos entender um pouco do que eles falam”, afirma. Com o uso do programa MecDaisy, que converte a escrita em fala, esses alunos se tornam capazes de se comunicar e elaborar uma narrativa ou uma história. “Mesmo não sendo a fala dele, o aluno consegue ouvir, e fica feliz por conseguir se comunicar. Isso tudo ajuda bastante no
aprendizado”, comemora a educadora.
http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Projetos/ie/Default.aspx