Daniel Cassol, do Conexões Globais
26/05/2013 – Os desafios da mídia alternativa, do jornalismo independente e da produção livre de informações frente à vigilância e às imposições do poder tradicional foi o tema de um dos mais concorridos e movimentados debate do Conexões Globais. Natália Viana, Cynara Menzes, Franklin Martins e Vera Spolidoro debateram “Comunicação e Poder na era da internet” e foram alvos de chuvas de perguntas presenciais e via redes sociais.
Os debatedores concordaram que é impossível prever o alcance dos meios alternativos na internet, mas uma coisa é certo: eles já incomodam o poder e as mídias tradicionais. “O alcance que isso vai ter é uma resposta que ninguém tem ainda. Mas a rede é uma realidade. Qualquer pessoa, como eu, pode ser dona de um meio de comunicação”, disse a jornalista Cynara Menezes, repórter da revista Carta Capital e “dona” do blog Socialista Morena.
“Está todo mundo preocupado em saber para onde vai a internet. Mas os tradicionais donos do poder têm muito mais motivos para estarem preocupados. A digitalização da comunicação e a internet provocam uma mudança espetacular na comunicação”, concordou o jornalista Franklin Martins, ex-ministro da Comunicação Social do Governo Lula. “Acabou aquela situação em que a imprensa ficava no Olimpo e a massa não tinha como influir. Esse jornalismo acabou”, completou.
“Estamos saindo de um paradigma que aparentemente se encerra, para outro que ainda não está estabelecido completamente, especialmente em um país onde milhões de pessoas ainda estão fora do mundo digital”, lembrou a secretária de Comunicação e Inclusão Digital do Governo do Rio Grande do Sul, Vera Spolidoro.
Reações do poder
Exemplos de como governos e grandes corporações estão incomodados e reagindo a esta nova configuração do fluxo de informações foram relatados pela jornalista Natalia Viana, fundadora da Agência Pública de jornalismo investigativo e colaboradora no Brasil da organização Wikileaks.
Natalia lembrou que, no começo de maio, o governo dos Estados Unidos obteve uma autorização sigilosa da Justiça para vasculhar os telefonemas feitos por jornalistas da agência de notícias a AP a fontes anônimas no governo. Algo que já havia feito com o próprio Wikileaks
“Isso mostra que a maneira com que o governo tratou o Wikileaks deu permissão para que começasse a abusar de outros veículos”, afirmou a jornalista. “O Wikileaks trouxe uma grande virada no jornalismo. É uma ideia muito perigosa e poderosa no fazer jornalismo nessa era da internet. Se esse tipo de modelo se reproduzir, haverá maior liberdade para as pessoas denunciarem coisas erradas em governo, organizações e empresas”, destacou.
Para Natalia Viana, o destino do soldado norte-americano Bradley Mannin, preso por ter vazado os documentos ao Wikileaks, vai definir o futuro deste tipo de relação entre cidadãos e organizações jornalísticas independentes. “O futuro dele significa o futuro das pessoas que têm vontade de denunciar o que está errado em governos e corporações”, declarou.
Liberdade na rede
Para garantir que jornalistas independentes e cidadãos comuns possam cada vez mais produzir informações e denunciar o poder, é preciso garantir que a rede permaneça livre. Este foi outro ponto de convergência dos debatedores, que defenderam a necessidade de universalizar, no caso brasileiro, o acesso à banda larga e manter o princípio de neutralidade na rede.
“Quem tem o poder vai lutar para manter a comunicação concentrada, será contra o Marco Civil da internet, contra a neutralidade da rede, contra que exista banda larga de graça na casa de todo mundo, porque isso ajuda a multiplicar [as fontes de informação]. Banda larga gratuita na casa de todo mundo não é favor, assim como a educação pública não foi um favor”, afirmou Franklin Martins. Ele destacou a importância de garantir o principio da neutralidade da rede para que empresas privadas não possam controlar o conteúdo que circula na web. “Isso mata a essência da internet e não pode ser tolerado”, declarou.
Para Vera Spolidoro, o Brasil ainda precisa avançar na universalização da banda larga como forma de integrar a população a este novo processo de circulação das informações. “Não é possível que em nosso país ainda haja regiões inteiras às escuras”, apontou.