Professora conquista alunos com aulas que unem filosofia e dança
Lúcia Berbert
O Grupo apresenta em eventos
e recebeu um prêmio em 2007Uma jovem professora mineira está revolucionando o ensino de filosofia em escolas públicas do Distrito Federal. Gigliola Mendes, a Díli, como é mais conhecida, estuda dança desde os três. Hoje, aos 26, aproveitou toda essa experiência dentro da escola, com seus alunos de filosofia. Díli usa a dança para ensinar e, mais do que isso, praticar filosofia com alunos do ensino médio de duas escolas públicas da cidade-satélite de São Sebastião, que fica a 26 quilômetros de Brasília.
Assim é o projeto Filosofança, que reúne 75 alunos do Centro de Ensino Médio 01 e do Centro Educacional São Francisco, além de integrantes da comunidade que, aos sábados, se unem aos adolescentes na prática da dança temperada com textos filosóficos. “O grupo abriga pessoas de 12 até 39 anos”, orgulha-se a professora.
O projeto foi criado no início de 2007, quando Díli passou no concurso da Secretaria de Educação do Governo do Distrito Federal para ensinar filosofia. Logo percebeu a dificuldade de dar aulas de uma matéria pouco usual em escolas públicas, numa comunidade extremamente carente.
Nasceu, então, o Filosofança, com o intuito de instigar os alunos, torná-los atentos ao mundo à sua volta, fazer deles indivíduos curiosos, inquietos e ávidos por conhecimentos, mudanças e transformações. “A filosofia é uma disciplina fundamental para a formação de cidadãos de verdade, mas tem sido aplicada de maneira tradicional e monótona, o que causa um resultado oposto ao esperado pelos professores”, ensina Díli.
Sonho antigo
Para fugir do tradicional, a professora tornou realidade um sonho que acalenta desde que entrou no curso de Filosofia da Universidade Federal de Uberlândia (MG), aos 16 anos, quando já dançava profissionalmente: recorrer à dança para despertar o interesse da garotada pela disciplina. Ela mistura a teoria filosófica a práticas como dança contemporânea, contato e improvisação, sapateado, percussão corporal, danças brasileiras e teatro. Desse jeito, Díli estimula o aluno a transformar sua vida.
O projeto tem dado muito certo. Os alunos crescem com os ensinamentos e já fazem apresentações em escolas, eventos e já foram até para outro estado. Em maio, participaram da semana do sapateado em Uberlândia, onde se apresentaram em teatros, fizeram cursos com os melhores profissionais da dança no Brasil e mostraram o projeto pioneiro em escolas públicas da cidade. “Foi bom porque tiveram a dimensão de quanto é sério o que fazem”, avalia a professora.
O Filosofança foi também finalista do VIII Prêmio Arte na Escola Cidadã, promovido pela Fundação Ioschipe-Bradesco em 2007 — outro orgulho da professora que, no entanto, se ressente da falta de patrocínio para poder ampliar a ação do projeto. A Secretaria de Educação do governo do Distrito Federal não tem um programa de gestão em arte, o que dificulta qualquer tipo de ajuda, além do apoio “moral”.
Para viajar a Uberlândia, por exemplo, Díli foi pedir ajuda em um programa popular da Rede Record, Balanço Geral. Ganhou transporte para o grupo de 22 adolescentes. Fez rifa para pagar a alimentação e hospedou todos na casa de sua mãe. E ainda comprou os sapatos adequados para sapateado com dinheiro do próprio bolso. Mas nada disso tira o entusiasmo da professora. Atualmente, ela e seu grupo estão ensaiando uma nova coreografia.