A UFF começa os testes de campo com a rede dos laptops XO. Os primeiros
resultados serão apresentados no dia 10 de abril, na universidade, e
debatidos no 8º Fórum Internacional do Software Livre. Verônica Couto
Testes de campo, sob sol forte,
na Região dos Lagos (RJ)
A Universidade Federal Fluminense começou a fazer os primeiros testes com a rede sem-fio Mesh, ou em malha, para a conexão dos laptops XO (o laptop de US$ 100), da ONG One Laptop per Child. Os resultados devem ser divulgados em um workshop
na UFF, no dia 10 de abril, antevéspera do 8º Fisl-Forum Internacional
do Software Livre, que acontece de 12 a 14 do mês que vem, em Porto
Alegre (RS), onde também serão discutidos. Depois, os 20 laptops
avaliados vão circular por outras quatro universidades, um mês em cada
uma, para novos testes da rede: as federais do Rio Grande do Sul
(UFRGS), da Paraíba (UFPB), do Amazonas (Ufam), e a Universidade de
Brasília (UnB). A USP também participa, mas com seus próprios XOs. A
entrega do relatório final ao governo federal está prevista para
setembro.
“A idéia é que os testes cubram diferentes regiões, porque vegetação e
topologia podem influenciar no alcance dos computadores”, explica o
coordenador dos testes do projeto Rede Um Computador por Aluno (Ruca),
Luiz Cláudio Schara Magalhães, do Laboratório de Midiacom da UFF. Por
isso, as universidades terão um conjunto de testes básicos e outros
específicos. Por exemplo, no Amazonas, vão verificar se é possível
atravessar de um lado a outro do rio, com o computador e a rede
funcionando.
O Midiacom da UFF é responsável pelo grupo de trabalho que estuda redes
em malha na Rede Nacional de Pesquisas (RNP), chamada pela Presidência
da República para coordenar os testes com o XO. Desde fevereiro
de 2006, quando foi formado o grupo, o laboratório já tem uma rede em
malha piloto no campus
da Engenharia da UFF, para acesso gratuito dos alunos, a ReMesh. É a
primeira experiência Mesh do Brasil, que será replicada, este ano, nas
universidades federais do Pará e do Paraná.
A avaliação do XO considera dois ambientes, o da sala de aula e o da
casa do aluno. “Um objetivo do equipamento é funcionar nas escolas,
outro é promover inclusão digital — para que as crianças levem o notebook e tenham acesso à internet de suas casas”, explica o professor Schara. “Na escola, serão vários laptops
juntos, numa rede densa. Na inclusão digital, ao contrário, estamos
falando de uma rede bem esparsa. São esses dois cenários que vamos
estudar”, diz.
Na rede em malha sem-fio, cada ponto funciona como um repetidor, ou
retransmissor. Se o primeiro aluno estiver a 500 metros da escola, onde
está a conexão à internet, ele tem acesso; um segundo aluno, a 500
metros do primeiro, também. Assim, com dez alunos, você seria capaz de
cobrir até cinco quilômetros, sem backbone externo. Essas distâncias
ainda são estimadas, adverte o professor, e só serão definidas após a
conclusão dos testes.
O projeto Ruca, na UFF, tem cronograma de quatro meses. Em janeiro,
estudaram o laptop. Em fevereiro, produziram o caderno de testes, que é
o planejamento detalhado dos testes futuros, incluindo testes
preliminares, que foram feitos em Itaipuaçu, distrito de Maricá, e em
Jaconé, bairro de Saquarema, cidades da Região dos Lagos, no Rio. Em
março, é a vez dos testes de distância, já com conexão efetiva à
internet.
Interferência do Wi-Fi
Em Itaipuaçu, a conexão entre os laptops alcançou 200 metros. O
professor Schara explica que, na região, não há banda larga ADSL, e,
por isso, os dois provedores locais usam redes sem-fio (Wi-Fi), que
teriam provocado interferência na rede Mesh. Em Jaconé, sem esse
complicador, atingiram 550 metros de distância entre dois laptops,
mantendo a conexão entre eles.
A primeira fase dos testes trata da conexão entre dois laptops, e da
conexão entre um laptop e o ponto de acesso. Para ver quão distante se
consegue chegar. Em busca de um trecho plano, sem obstrução e sem
interferências magnéticas, os pesquisadores da UFF estão conversando
com representantes da Aeronáutica e do Exército sobre a possibilidade
de usarem, respectivamente, a Base Aérea de Santa Cruz ou a restinga de
Marambaia. “Um sujeito na Austrália conseguiu mais de 1 km de
distância, mas no meio do deserto, em terreno absolutamente plano”,
compara Schara.
A segunda etapa é o teste da rede densa, com os 20 laptops numa sala de
aula, além de algumas placas (motherboards) do lado de fora — para ver
se um laptop solitário, por exemplo, no recreio, continuará acessando a
rede. E, em seguida, vão analisar a rede Mesh esparsa: ver até aonde
consegue ir um equipamento conectado. Nesse caso, não são apenas o
alcance e a distância que estão em jogo, mas a relação entre o salto (a
passagem da conexão de um laptop para outro) e a vazão. A vazão é o que
costumamos chamar de velocidade de acesso, mas que, na verdade, é a
quantidade de bits que se consegue transmitir. Os bits se deslocam
sempre à velocidade da luz, mas a banda (larga ou estreita) é capaz de
conter mais ou menos bits, fazendo com que consigamos carregar as
páginas da internet mais ou menos rapidamente. Como um cano de água: a
água num mesmo ritmo, um cano largo carrega mais água do que um
estreito.
Diz o professor: “Por exemplo, a grosso modo, pode-se imaginar que, do
primeiro para o segundo laptop, a conexão está usando uma banda; do
segundo para o terceiro, essa banda disponível cai à metade. Haverá
aluno que estará a cinco, seis saltos. Será que ele ainda terá banda
larga? Se a vazão cai à metade a cada salto, poderemos ter vários
saltos antes de cair a 1 Mb. Ou seja, chegando até quatro quilômetros,
e entregando 1 Mbit por segundo na ponta”.
No final de fevereiro, a equipe da UFF tinha encontrado alguns poucos
problemas na rede Mesh do XO, que, segundo Schara, foram corrigidos
pelos integranges da OLPC. Entre eles, um na arquitetura do laptop. O
XO só tem o barramento USB, logo, tudo passa por ele. E esse barramento
é a entrada do computador para periféricos como impressoras, mouse,
etc. Nos testes de vazão, na máxima taxa possível, o barramento
entupia. “Havia um erro no drive, que já foi corrigido. O
desenvolvimento na OLPC é muito rápido”, avalia.
Mas, se os computadores atuam como retransmissores, o que acontece
quando o aluno mais próximo de mim, que está me repassando a conexão,
desligar o computador? Minha conexão cai? Segundo o professor da UFF,
não. O laptop tem uma placa de rede, na sua própria placa-mãe, ligada
via barramento USB. E o chip dessa placa tem um processador interno que
continua funcionando como um retransmissor na rede, mesmo que o
computador seja desligado. A bateria do XO mantém a placa ativa durante
quatro dias, se só ela estiver ligada. Com o computador em uso, a
bateria suporta oito horas. E, claro, se houver energia na casa (ou na
escola), o laptop pode ser ligado na tomada. O carregador de bateria
funciona como um iô-iô — para cada minuto de ativação, o laptop
recupera três minutos de vida. Ou seja, 20 minutos jogando o iô-iô do
XO asseguram uma hora de uso.
http://fisl.softwarelivre.org/8.0 — 8º Fórum Internacional do Software Livre