A revolução da banda larga

Um megaevento para mostrar a importância da conexão na vida de um pequeno município e debater como disseminar o exemplo da fluminense Piraí, a primeira cidade digital do país.


Um megaevento para mostrar a
importância da conexão na vida de um pequeno município e debater como
disseminar o exemplo da fluminense Piraí, a primeira cidade digital do
país. 

Emanuel Alencar, Lia Ribeiro Dias, Rosane de Souza e Verônica Couto


Visita ao Ciep de Arrozal, piloto do UCA.

O atraso do governo federal em apresentar à sociedade um plano de banda
larga para o Brasil, que permita integrar à rede mundial do
conhecimento os municípios brasileiros, as escolas, as pequenas e
microempresas e os projetos comunitários, sejam eles arranjos
produtivos locais ou manifestações culturais, está provocando uma onda
de pressões pelo acesso à conectividade. Ainda não se trata de um
movimento organizado em nível nacional, mas, visivelmente, vem ganhando
força. As muitas iniciativas isoladas desembocaram em uma manifestação
catártica em Piraí (RJ), a primeira cidade digital do país. Lá,
reuniram-se, no dia 10 de setembro, em torno da figura emblemática do
ministro Gilberto Gil, da Cultura, intelectuais, políticos e militantes
da cultura digital, com o objetivo de discutir caminhos para replicar,
nas cidades brasileiras, o projeto de Piraí, que conectou todos os
órgãos públicos à internet — inclusive escolas e postos de saúde.

Se ninguém saiu da visita à Piraí com a receita pronta sobre “Como
bandalargar o Brasil nesta encarnação”, nome dado ao evento,
consolidou-se a convicção de que banda larga é imprescindível para o
desenvolvimento na Sociedade da Informação, especialmente para as
cidades menores e distantes dos grandes centros, as comunidades
isoladas e mesmo os bairros periféricos das metrópoles. Portanto, que
ninguém se assuste, caso a demanda por banda larga comece a freqüentar
a pauta de reivindicações da Associação Brasileira de Municípios. Luiz
Fernando de Souza Pezão, vice-governador do Estado do Rio de Janeiro e
ex-prefeito de Piraí, promete articular os prefeitos para fazer andar o
plano nacional de banda larga e a liberação dos recursos do Fust (Fundo
de Universalização dos Serviços de Telecomunicações). “Uma caravana de
milhares de prefeitos tem muita força”, disse Pezão, que integrou o
grande debate que aconteceu na Agremiação Esportiva Piraiense.

Em sua intervenção, Gil destacou que banda larga permite às comunidades
organizadas vencerem distâncias geográficas e as muitas barreiras ao
acesso ao conhecimento. Além do empoderamento local, o ministro
insistiu no papel das novas tecnologias na reorganização da difusão da
cultura — com a democratização do acesso aos bens culturais e à própria
produção —, na melhoria dos serviços públicos, com destaque para a
educação, e no estímulo ao empreendedorismo.

Por isso, vários debatedores defenderam a atualização dos marcos legais
do direito autoral, porque eles dão resposta à velha economia, mas não
à nova economia da cultura em rede, que promete eliminar os
intermediários (a figura do distribuidor e a própria mídia), ou pelo
menos acabar com a sua hegemonia na cadeia produtiva. Também houve
consenso sobre a necessidade de a regulação do setor de telecom levar
em conta não só a convergência da mídia, mas as novas formas de
organização econômica das pequenas cidades, quando o tema for o
espectro radioelétrico. As cidades querem ter direito a usar uma faixa
do espaço para ligar seus cidadãos em rede.

Gil foi conhecer Piraí em mais uma ação da sua cruzada pela cultural
digital. A maratona começou às 10h da manhã, na prefeitura, e foi até
às 10h da noite, quando terminou o show do ministro-cantor. A multidão
que se reuniu na praça, ao pé da igreja, foi ao delírio quando Gil
cantou “Banda larga cordel”, canção na qual homenageia Piraí. Mas o
ponto alto, para o ministro, foram as visitas a duas escolas públicas:
uma conectada à internet via rede elétrica e outra via wireless. Nesta
segunda, um Ciep, todos os 398 alunos, desde o início de setembro, têm
um notebook sobre a carteira. A escola integra o piloto do UCA-Um
Computador por Aluno.