A Sala de aula reiventada.
Professores descobrem os edublogs e escrevem (literalmente) a vanguarda da Educação.
Áurea Lopes
“Este será nosso espaço para dispor recursos educacionais de Física (exercícios, tarefas, chamada de projetos e etc.) assim como espaço para que os alunos publiquem atividades de aprendizagem, tarefas, trabalhos acadêmicos e etc. Ou seja, nosso espaço de aprendizagens colaborativas de Física! As quatro turmas usarão este espaço, portanto, estamos num ambiente coletivo para além da organização da escola”.
Prof. Sérgio Lima, Colégio Pedro II, no seu blog Aprendendo Física.
Existem diversas formas de usar um blog para melhorar o processo de ensino-aprendizagem. Pode ser uma simples substituição da tradicional dupla “lousa e giz” pela dupla “tela e mouse”, em que o professor posta conteúdos e recados para seus alunos, que postam comentários, como se escrevessem em seus cadernos. Mas também é possível elaborar um ambiente de construção coletiva e criativa de conteúdos e de conhecimentos, em que professores e alunos fazem e aprendem juntos. Mais conservadoras ou mais ousadas, todas as iniciativas representam um avanço em relação ao modelo pedagógico convencional, se lembrarmos que os professores desta geração não foram preparados, em suas faculdades, para enxergar as tecnologias da informação e da comunicação (TICs) como instrumentos didáticos. Eles têm de descobrir isso por si só.
Alguns professores — poucos, ainda — já conseguiram chegar a esse estágio de vanguarda educacional. Encontraram, nas páginas pessoais na internet (que hoje também podem ser páginas de grupos, de classes, de determinado trabalho, de escolas) uma ferramenta pedagógica poderosa. E não se trata apenas das funcionalidades disponíveis, mas, acima de tudo, da capacidade conquistar os jovens interlocutores. Na prática, o sucesso do blog educativo, chamado de edublog, se deve a vários fatores: dá o mesmo direito de voz tanto a professores quanto a alunos; reproduz a arquitetura das redes de relacionamento, onde a garotada circula confortavelmente; permite o compartilhamento de ideias e atividades; confere dinamismo ao ensino, entre outras vantagens.
“Um trabalho feito em blog é dialógico. Permite que o blogueiro retorne à própria produção, faça uma reinterpretação. O mais importante passa a ser o processo e não o resultado final. Se alguma coisa é feita errada, não se apaga, mas se faz novamente, corrigindo. O aluno aprende que o erro faz parte, não é vergonhoso”, ensina uma das pioneiras no uso de blogs na educação, Suzana Gutierrez, engenheira e professora de Educação Física no Colégio Militar de Porto Alegre, também pesquisadora do Núcleo de Pesquisa sobre trabalho, movimentos sociais e educação (Tramse) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Para exemplificar o potencial de um edublog, Suzana descreve um dos projetos multidisciplinares realizados no colégio, em 2008, cujo tema foi a vinda da família real portuguesa ao Brasil. Estudantes do ensino Médio se dividiram em grupos e cada grupo criou seu blog, para desenvolver seu trabalho. Foram cerca de 36 grupos nas seis turmas, cada um orientado por dois ou três professores. Cada professor orientou uma média de seis grupos. Nada foi feito em papel, contou a professora. “Os trabalhos foram construídos publicamente, não teve aquela história de cada um faz um pedaço e junta tudo pra entregar. Os alunos puderam acompanhar os trabalhos uns dos outros e interagir, enriquecendo a compreensão. Quando um grupo visitava o blog de outro, tinha novas idéias, ia atrás de coisas para incrementar a sua página”, avalia Suzana.
Com possibilidades infinitamente mais amplas do que uma sala de aula, um blog é capaz de concentrar, em um único ambiente interativo, uma grande diversidade de materiais pedagógicos: narrativas, fotos, exercícios, análise de obras literárias, opinião sobre atualidades, relatórios de estudos do meio, desenhos, vídeos produzidos por alunos etc. Mas o que faz a diferença e garante os bons resultados não é a ferramenta, em si. O segredo está em ter um bom projeto, alertam os especialistas. “Se não houver um planejamento do uso, um sistema de administração que, idealmente, deve até ser compartilhado com os alunos, corre-se o risco de banalizar a iniciativa, de ter uma utilização superficial do blog, que é muito mais do que um diário de ‘meninas’, que foi como tudo começou, há bem pouco tempo”, adverte a educadora Sônia Bertocchi, formadora do Centro de Pesquisa, Educação e Cultura (Cenpec), onde coordena a comunidade virtual Coisas Boas da Minha Terra, projeto em parceria entre o portal Educarede e a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. Sônia criou o blog Lousa Digital, voltado a todos os interessados em educação e na incorporação de TICs à prática pedagógica.
Sete motivos para um
professor criar um blog
1 – É divertido
Não há nada que legitime mais uma atividade que o fato de ser divertida. Um blog é assim: pensou, escreveu. E depois os outros comentam. Como os blogs costumam ter uma linguagem cotidiana, não há compromisso nem necessidade de textos longos, apesar de não serem proibidos.
2 – Aproxima professores e alunos
Com o blog, o professor se comunica com os alunos em um meio conhecido por eles, o que favorece a troca de ideias mais intensa.
3 – Permite refletir sobre as colocações
Ao ter suas colocações comentadas pelos alunos, o professor tem oportunidade de refinar o discurso, descobrir o que desperta polêmica, o que precisa ser melhor explicado.
4 – Liga o professor ao mundo
Os blogs reservam espaços para links, o que obriga o professor a pesquisar para oferecer sugestões.
5 – Amplia a aula
Aquilo que não foi debatido nos 45 minutos de aula pode ser explorado com maior profundidade em outro tempo e espaço. Alunos podem aproveitar para tirar dúvidas, ampliar o tema.
6 – Permite trocar experiências com colegas
É muito comum que os professores entrem nos blogs uns dos outros, propiciando uma troca de experiências muito rica. Até professores de turnos, unidades e mesmo escolas diferentes podem interagir uns com os outros.
7 – Torna o trabalho visível
O professor que tem um blog tem mais possibilidade de ter seu trabalho visto e comentado.
Fonte: Betina Von Staa, coordenadora de pesquisa em tecnologia educacional da Positivo Informática.
Mais trabalho
A qualidade do ensino aumenta, porém, na mesma proporção que a carga de trabalho. E esse é exatamente um dos motivos pelos quais muitos professores ainda resistem a incorporar as novas TICs a seus planos de aula. “Você precisa se dedicar ao blog fora da escola, nos momentos de folga, extrapolando o espaço escolar. E, na maior parte das vezes, as condições de trabalho do professor não permitem essa tarefa extra”, alerta Suzana. Outra incumbência que vem junto é a real mediação entre os alunos e a web. Se um aluno posta um comentário com uma palavra escrita errado, o melhor é postar em seguida uma resposta, repetindo a palavra corretamente”, ensina Sônia.
Esses desafios não desestimularam o professor Sérgio Lima, que leciona Física no Colégio D. Pedro II, da rede pública federal, no Rio de Janeiro. Quando criou o blog Aprendendo Física, em 2006, ele se viu diante de uma dura empreitada: administrar o tempo. “De um lado, os alunos se entusiasmam e começam a demandar mais atenção. De outro, você tem que cumprir o programa, não dá para usar o horário escolar para trabalhar no blog”, conta. Mas Lima se saiu tão bem que, hoje, além do blog com os alunos, ele mantém o Aprendendo em Rede, blog dirigido a professores que se apresenta como “um espaço de conversações sobre aprendizagem e ensino na era da informação e do conhecimento. Quiçá, um espaço para planejarmos a reinvenção da Escola!”.
Lima também é autor de um curso para o uso de blogs na educação, que colocou no site Aprendendo em Rede. O material é livre e gratuito, mas para ter acesso o professor precisa se inscrever. Muitos outras capacitações gratuitas estão disponíveis na internet. Os cursos online do portal Educarede, por exemplo, já formaram duas turmas. Totalmente a distância, o curso “Blog como recurso didático” é de 40 horas. Outra iniciativa é o portal Webduca, mantido pela comunicadora Ana Carmen Foschini, onde estão programas e discussões que levem o professor a fazer o melhor uso da ferramenta. “O simples fato de ter um blog não torna o professor melhor, nem pior. O importante é o modo como ele usa o blog”, diz Ana Carmen. A Positivo Informática também forma professores blogueiros. “Depois de dois meses de cursos, foram criados cerca de 1.100 blogs”, conta Betina Von Staa, coordenadora de pesquisa em tecnologia educacional da empresa.
edublogosfera.blogspot.com
www.gutierrez.pro.br
http://edublog.aprendendoemrede.info
http://blog.educacional.com.br/tecnajuda/c9532
www.lousadigital.blogspot.com
http://intercampus.educared.net/mod/resource/view.php?id=82414
www.educarede.org.br
www.webeduca.blogspot.com