Antena Coletiva – A programação voluntária dos canais locais

A operadora de TV a cabo Vivax financia o estúdio e a infra-estrutura de canais mantidos por voluntários, em três das comunidades onde atua. Três vezes por ano, 90 novos interessados são selecionados para receberem capacitação integral na produção audiovisual e passarem a atuar no projeto.

A operadora de TV a cabo Vivax financia
o estúdio e a infra-estrutura de canais mantidos por voluntários, em
três das comunidades onde atua. Três vezes por ano, 90 novos
interessados são selecionados para receberem capacitação integral na
produção audiovisual e passarem a atuar no projeto.

A Vivax, empresa de TV paga a
cabo que cobre 31 cidades (28 delas no interior de São Paulo), trouxe
do Canadá a inspiração para montar no Brasil o projeto dos Canais
Locais – produzidos por equipes voluntárias, formadas por integrantes
das comunidades em que estão inseridas, com estúdio, infra-estrutura e
supervisão a cargo da operadora. “O projeto Canal Local pretende ajudar
a melhorar a vida da comunidade a que serve. É também uma ferramenta de
relacionamento, com resultados concretos de fidelização e expansão da
base de assinantes”, argumenta Manny Floriano, diretor de mídia da
Vivax, que considera muito difícil o avanço das TVs comunitárias no
modelo atual, sem fontes de recursos para as entidades. “É muito caro
produzir televisão”, resume. Por isso, o propósito do Canal Local é
liberar a comunidade da pressão e da responsabilidade de buscar
patrocinadores.


Inspiração no modelo canadense.

A operadora investiu, segundo Floriano, cerca de R$ 1 milhão em salas
de edição, unidades móveis, equipamentos e câmeras, nos três estúdios
que funcionam dedicados aos Canais Locais. Eles estão em Santo André (o
ABC 3, cobrindo o Grande ABC, área que inclui São Bernardo, São
Caetano, Diadema e Mauá), na Baixada Santista (Baixada 10, para Santos,
São Vicente, Guarujá, Praia Grande, Cubatão) e, desde junho deste ano,
também em Americana (cobrindo Santa Bárbara do Oeste, Limeira, Mogi
Mirim, Mogi Guaçu, Hortelândia, Rio Claro e Sumaré). Os três no
interior de São Paulo.

O projeto consiste na abertura de um estúdio para a comunidade produzir
programação local e, paralelamente, prevê treinamento das pessoas que
moram nas regiões atendidas, em todas as etapas do trabalho
audiovisual. São elas que mantêm, voluntariamente, a grade dos canais
locais da Vivax, com transmissão circunscrita a cada região. Para
participar do programa de voluntariado (e da capacitação técnica), é
preciso ter mais de 16 anos e morar, trabalhar ou estudar na região do
canal local. “Esses voluntários não são pagos, mas têm todo o
treinamento para se tornarem auto-suficientes na produção audiovisual”,
assegura o diretor da Vivax. Ele estima em cerca de 200 voluntários
ativos no projeto. E mais 350 interessados em lista de espera. A cada
três ou quatro meses, são selecionados 90 novos voluntários.

Produção independente

Além disso, a cada seis meses, a Vivax abre vagas para capacitações
mais sofisticadas, em edição de imagem, captação com câmera externa ou
direção, destinadas aos voluntários que já fizeram os primeiros
treinamentos. Como aqueles do nível básico se qualificam, outros podem
ingressar no programa. Os canais locais ficam 24 horas no ar, todos os
dias da semana. “Dependendo da região, têm mais ou menos reprises”, diz
o diretor da operadora. O primeiro canal local foi a TV ABC3, do Grande
ABC, em operação desde 1998.

Desde 2003, a Vivax também abre 30% da grade dos canais locais para
produções independentes. O resultado é que a venda do espaço para
ocupação desses 30% já paga os 70% restantes, ou seja, os custos de
produção, manutenção de equipamentos, refeições e funcionários
envolvidos no projeto do voluntariado. Uma despesa estimada em R$ 1,2
mihão por ano. A palavra final sobre a programação e o controle de
qualidade é da equipe da operadora. Floriano, contudo, garante que a
comunidade participa da definição da pauta. “Essa participação começa
pequena, mas cresce à medida que a capacitação avança”, diz.

“Em 1998, quando a Vivax iniciou as operações na área do ABC (ainda
como Canbras, antes da fusão com a Horizon, em 2004), decidimos trazer
uma variação do modelo canadense, os canais locais”, lembra Floriano,
ele mesmo nascido no Canadá, há oito anos no Brasil. Naquele país, diz,
a operadora que ganha uma concessão de TV a cabo tem o monopólio na
exploração da sua região, mas precisa investir parte da sua receita num
canal aberto para as comunidades. Por isso, existem no Canadá grandes
estúdios, muito bem equipados, a serviço de uma produção comunitária
atuante.

Estúdio parceiro

A iniciativa da Vivax também está sendo desenvolvida, em outras regiões
da área da operadora. É o caso de Mogi das Cruzes, São José dos Campos,
Bragança Paulista, Itapetininga, Araçatuba, Manaus. Nesses lugares,
explica Floriano, o número total de assinantes não permite nem
justifica, ainda, o investimento num estúdo próprio. Por isso, o canal
local é operado por um estúdio parceiro que, mediante permuta, pode
comercializar e ocupar seis horas por dia da grade. As outras 18 horas
são para conteúdo da comunidade, que, no entanto, precisa pagar
normalmente o estúdio parceiro, se quiser utilizá-lo.

“Nessas situações, recebemos muitas propostas de universidades,
igrejas, artistas e entidades que têm material em vídeo ou estrutura
para viabilizar as produções”, afirma o diretor da Vivax. “Não dá para
fazer o trabalho todo de uma vez; quando o lugar atinge um nível
suficente de assinantes, aí partimos para o investimento num estúdio
próprio”. A Vivax também vende acesso à internet. Além das 28 cidades
no estado de São Paulo, tem operações em Manaus (AM) e, no Rio de
Janeiro, em Barra Mansa e Resende. Reúne, de acordo com Floriano, 285
mil assinantes.

Cem horas na TV ABC 3


O estúdio, em Santo André (SP).
Na região do Grande ABC paulista, o canal local ABC 3 é uma das mais
bem-sucedidas experiências do projeto da operadora de TV a cabo Vivax.
Tem cerca de cem horas de conteúdo inédito por mês, cinco programas ao
vivo por semana e a cobertura de pelo menos dois eventos semanais
dentro da comunidade. O que passa na TV são campeonatos dente-de-leite,
divulgação dos trabalhos de artistas plásticos, músicos e outros
artistas da região, atividades promovidas por igrejas (não ligadas ao
culto, mas a eventos comunitários).

Beto Kerr, gerente de programação de canais locais na Vivax, estima
que, só na TV ABC 3, são 17 programas diferentes produzidos por
voluntários, e outros dez no canal da Baixada Santista. “Eu mesmo tenho
um programa esportivo à noite, no ABC 3, e recebo, diariamente, mais de
200 ligações. A comunidade é dependente do canal local, e vice-versa”,
diz.