Índios de uma tribo xavante, do Mato Grosso, registram em vídeo o
Darini, um ritual de iniciação espiritual que acontece a cada 15 anos.
Fotos: Rosa Gauditano
Os índios xavantes passam por inúmeros
rituais de iniciação durante toda a sua vida. No entanto, é no Darini
que os meninos aprendem a importância de sua cultura, cujos segredos
ancestrais são transmitidos a eles, pelos mais velhos, por meio de
músicas e danças repetidas diariamente ao longo de um mês. Os
discípulos passam por duras provações, durante as quais permanecem boa
parte do tempo sem poder se alimentar,
Caimi Waissé
Xavante da aldeia de
Pimentel Barbosa
(município de Água
Boa, Mato Grosso),
tem 25 anos. Começou
cedo a trabalhar
com câmaras de vídeo. beber ou dormir, além de serem
submetidos ao calor do dia e ao frio da noite. Os xavantes acreditam
que é uma forma de as crianças fortalecerem não só o seu físico, mas
também o seu espírito.
Fotos: Rosa Gauditano
Durante os 30 dias do mês de julho de 2003, os xavantes Caimi Waissé e
Jorge Protodi registraram na aldeia de Etenhiritipá, no Mato Grosso, as
imagens desse importante ritual de iniciação espiritual, que acontece
somente a cada 15 anos. Eles produziram o roteiro, gravaram e editaram
o vídeo “Darini – Iniciação Espiritual Xavante”. O trabalho começou com
o incentivo da fotógrafa Rosa Gauditano, criadora da organização
nãogovernamental (ONG) Nossa Tribo. A idéia principal dovídeo, com
duração de 46 minutos, é mostrar a cerimônia pelos olhos dos xavantes.
O que significa que Jorge e Caimi escolheram as imagens que julgavam
mais importantes para o seu próprio povo.
Os dois xavantes fazem parte da equipe do Projeto Vídeo nas Aldeias, da
ONG com o mesmo nome, que, há 14 anos, promove o encontro do índio com
a sua imagem. A iniciativa equipa comunidades indígenas com aparelhos
de vídeo, visando o estímulo do intercâmbio de informação entre os
povos.
Mão na massa
Jorge Protodi
28 anos, quase
monolíngue, é o
parceiro de Caimi
no ofício de video-
maker da aldeia.
Após um mês de gravação do ritual do Dairini, a dupla tinha um rico
material, mas não dispunha de equipamentos e não conhecia as técnicas
de edição de vídeo. Com a ajuda da ONG Nossa Tribo, foi acertada uma
parceria com a Universidade Metodista de São Paulo, por meio da
Faculdade de Comunicação Multimídia.
Durante quase todo mês de janeiro deste ano, Caimi e Jorge, auxiliados
por Rosa, funcionários, professores e estagiários da Agência de Rádio e
TV da Metodista, decuparam, editaram e finalizaram a fita, que
totalizava 15 horas registradas.
O vídeo foi lançado em abril, no Museu Afro-Brasil, em São Paulo, e
será exibido nas aldeias, escolas, universidades, em encontros
culturais, canais de televisão e cinemas.