Pioneiros da distribuição, via cabo, do sinal das TVs abertas para comunidades de baixa renda, eles lutam para ter sua atividade reconhecida.
Em muitas favelas e bairros,
o sinal de emissoras como a
Globo só chegou às antenas
coletivas graças desses
distribuidores.
A favela de Rio das Pedras, em Jacarepaguá, é uma das cinco maiores do Rio de Janeiro. Ali, onde vivem cerca de 50 mil pessoas, não há bom sinal de televisão. Para assistir à programação da Globo ou da TV Educativa, 10 mil de seus moradores se conectam a uma rede de cabos. Também em Vila das Canoas, no Rio, comunidade com 600 domicílios, cerca de 480 casas estão ligadas a uma rede que transmite os sinais captados por uma antena coletiva. Por R$ 10,00 ao mês, recebem a imagem das TVs abertas.
Sem as antenas coletivas, os moradores desses bairros não poderiam assistir televisão. Essa versão popular do serviço de TV a cabo foi criada por antenistas, antes de as TVs por assinatura começarem a atuar no Brasil. Antenistas são profissionais em eletrônica que instalam antenas parabólicas. Alguns deles se deram conta de que podiam usar essas antenas para prestar um serviço coletivo. Em 1998, fundaram a Abetelmin (Associação Brasileira das Empresas de Telecomunicações, Melhoramentos de Imagens e Atividades Afins), para regularizar sua atividade.
Hoje, a Abetelmin conta com 38 associados, que atuam em 60 comunidades e atendem cerca de 80 mil usuários. A associação luta pela aprovação, por parte da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), de uma norma que regulamente o artigo 38 da Lei do Cabo e reconheça a figura do distribuidor de sinais.
Como o principal objetivo da Abetelmin é regularizar a atividade, a associação não aceita empresas que distribuem sinais de TV fechada, como a Net e a TVA. Além disso, os antenistas pretendem ampliar seus negócios, atendendo a pequenas cidades do interior que não contam com operadoras de TV por assinatura. Essa possibilidade será aberta pela aprovação da norma 485. Mas, para torná-la realidade, será necessária a parceria das TVs a cabo.
Giovander Silveira, presidente da Abetelmin, acredita que as operadoras de TV por assinatura vão apoiar a regulamentação. “Se unirmos nosso conhecimento das comunidades com a programação deles, podemos levar esse serviço a pequenas cidades, onde eles não atuam, a um custo acessível”, acredita.
A expectativa dos antenistas era que a norma 485 fosse aprovada em janeiro pelo Conselho da Anatel. A matéria, no entanto, foi reencaminhada para a Superintendência de Comunicação de Massa, para ser reformulada.
O ídolo Parsons
Os antenistas admiram Ed Parsons, um americano que em 1948 cabeou toda a cidade de Astoria, no Norte dos EUA. Parsons é um dos pioneiros da TV a cabo. Instalou uma antena no alto de uma colina, para captar o único sinal de TV aberta que chegava à sua cidade. Amplificou esse sinal e retransmitiu, por meio de cabos, para os moradores.
O americano era um engenheiro de mão cheia. Poucos antenistas, ao contrário, tiveram recursos para se formar em Engenharia. “Temos mestrado na engenharia de mandar canal”, explica Joarez Vicente de Oliveira. Um dos primeiros antenistas, ele tem em comum com o americano o tino de empreendedor. Em 1997, montou uma rede em Lagoa Dantas, no Rio Grande do Norte. A cidade tinha 1,2 mil casas e não recebia um bom sinal de televisão. Vendeu 400 pontos, antes de ser fechado pela Anatel, porque não tinha licença de TV a cabo. Se a norma for aprovada, ele muda-se para o interior do país e começa tudo de novo.