Semelhante a uma praga (que não causa danos), espalha-se rapidamente.
Por isso, Pragatecno, nome dado ao coletivo de DJs que se articula em
seis cidades do Norte e do Nordeste. Heitor Augusto
Não fosse a persistência, as nove velas que os integrantes do coletivo
Pragatecno apagaram no dia 24 de janeiro, em comemoração ao aniversário
do grupo, não existiriam. A primeira festa que eles organizaram, em
1998, reuniu menos de dez pessoas. Um fracasso retumbante, canalizado
como estímulo para cultivar a música eletrônica alternativa. O
resultado veio no segundo evento, meses depois: público de 150 pessoas.
O coletivo tem núcleos em Belém (PA), Fortaleza (CE), Salvador (BA),
João Pessoa (PB), Maceió (AL) e São Luiz (MA). Para integrar o grupo, o
DJ tem que se identificar com 16 conceitos. Entre eles, encarar as
novas tecnologias como suporte na construção de informação livre. O site
do coletivo dá acesso à uma lista de discussão para os integrantes da
comunidade, à agenda dos eventos, e a informações técnicas — por
exemplo, um manual básico (mas bem detalhado) para DJs.
Ao longo dos últimos nove anos, o coletivo se especializou em promover
pequenos eventos contínuos, que ajudaram a consolidar uma cena underground.
“Por um ano e meio, fizemos a Opsom Pragatecno”, conta Cláudio Manoel,
de Salvador, idealizador do coletivo, referindo-se às festas semanais
que, em Salvador, aconteciam no Bar Lounge Miss Modular, no bairro do
Rio Vermelho. O bar fechou, mas as festas serão retomadas a partir de
16 de março, no projeto semanal kICk, sempre às sextas, no bar
Boomerague.
O Pragatecno já deu passos ousados: em 2000, lançou uma coletânea com
produção totalmente independente, acolhida pelo selo Utter Records. A
Sombinário#1 tem trabalhos de 13 artistas. Cerca de mil cópias foram
prensadas. Esgotadas. “E divulgamos só pela internet”, garante Cláudio.
“Há dez anos, era muito difícil tocar; ainda não estava na moda. Não
havia público maciço. Não havia hábitos, como agora. Era tudo novo.
Estava se criando e copiando comportamentos”, avalia Jorge Falcón,
músico argentino radicado em Curitiba (PR), e integrante de um dos
primeiros coletivos do segmento no Brasil, o Zootek – inativo desde
2001.
Coletivos e mercado
Hoje, o cenário é outro. A música eletrônica está nos quatro cantos do
país. Até se discute a eficácia do termo “música eletrônica”, tamanha
fragmentação de estilos e apropriações feitas por outros gêneros
musicais. “Virou ‘oba-oba’. Por um lado, é bom: traz profissionalismo à
função de DJ. Mas muitas pessoas vão para as festas só para beber e a
música fica em segundo plano. Nossas festas procuram trabalhar o lado
conceitual da arte, experimental”, argumenta Rodrigo Lobbão, do
Undergroove, núcleo cearense que integra a rede do Pragatecno.
E o mercado avança. “Grandes empresas apostam no valor simbólico em vez
da publicidade direta. A Skol, por exemplo, prefere fazer um evento que
é um projeto de cultura”, diz Cláudio, em referência ao Skol Beats.
Nesse contexto, os coletivos teriam um novo papel: “Pesquisar coisas
novas e trazer isso para o público”, complementa.
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