Aula prática de telejornalismo

Em Mossoró, educadores e alunos de escolas públicas produzem programa semanal para uma TV por assinatura. Em 2007, o projeto envolveu 2 mil estudantes.

Em Mossoró, educadores e alunos de escolas públicas produzem programa semanal para uma TV por assinatura. Em 2007, o projeto envolveu 2 mil estudantes. 
Fátima Fonseca

Dos 30 programas exibidos pela TV a cabo TCM Mossoró, no Rio Grande do Norte, um se diferencia pela forma como é produzido: “Minha Escola na TV” é um documentário feito por alunos de escolas públicas e privadas, da cidade de Mossoró, que usam a vídeo-reportagem como ferramenta de educação.

A iniciativa de envolver os estudantes na produção foi da própria TCM Mossoró. Surgiu logo após a concessão da Anatel para que a empresa operasse o sistema de TV por assinatura no município de Mossoró, uma cidade com 220 mil habitantes, localizada no semi-árido do Nordeste e distante 277 quilômetros de Natal, a capital do estado. No início, a idealizadora do projeto, jornalista Regina Cunha, procurava as escolas para incentivar os estudantes a encamparem a proposta. Hoje, diz Regina, ela recebe cartas com sugestões de pauta e percebe interesse cada vez maior dos jovens em participar.

Em 2006, o projeto envolveu mais de 800 alunos, de 40 escolas, número que saltou para cerca de 2 mil estudantes em 2007, envolvendo quase a totalidade das escolas da rede pública da cidade. Esse universo deve se manter em 2008, com a inclusão de novas escolas, de acordo com Zilene Medeiros, diretora administrativa da TCM. Segundo ela, já existe uma lista de escolas candidatas a participar da produção do programa.

O sucesso da iniciativa é creditado por Regina Cunha à oportunidade dada ao jovem para se expressar. “Usar a vídeo-reportagem é um momento único, é como abrir uma porta para o jovem e isso eleva sua auto-estima e ajuda o adolescente a entender seu papel como cidadão”, acredita Regina.

Poluição e Jararaca

Nesses dois anos de experiência do “Minha Escola na TV”, os temas mais abordados foram meio ambiente e cultura regional. Um dos programas da série foi sobre a poluição do rio Mossoró. Os alunos da Escola Municipal Francisco de Assis Batista, do bairro Alto da Conceição, falaram sobre a poluição do rio, mostraram o campo de futebol que fica na sua margem e foi transformado num lixão, e também gravaram cenas na ponte em que Jararaca, cangaceiro do bando de Lampião, caiu derrotado pelo povo, num embate em 1927. “Com esse programa, os meninos mostraram no vídeo o descaso da sociedade com a história, com o meio ambiente e com a vida das crianças que moram no bairro”, resume Regina Cunha.

Em outro programa, os estudantes da Escola Estadual Abel Coelho resolveram apresentar um pouco da literatura de cordel, forte na cultura regional. O projeto resultou na montagem de uma cordoteca, inaugurada por Antônio Francisco, da Academia Brasileira da Literatura de Cordel. Além de reportagens temáticas, a produção dos jovens exibe entrevistas, debates, peças de teatro e outros conteúdos gerados pelos alunos das escolas.

“Minha Escola na TV” é exibido semanalmente — vai ao ar todo domingo, às 15h05, e é reapresentado às terças-feiras, às 20h. No início, os programas tinham 15 minutos de duração e, hoje, chegam a 30 minutos. Quando a escola solicita, a TV promove uma sessão “cinema pipoca” na escola, aberta à comunidade do local.

Produção

A idéia da pauta surge na escola, é discutida com a equipe da TCM Mossoró, e o programa é produzido pelos alunos, que contam com uma câmera profissional. “Os alunos têm a experiência de trabalhar com uma câmera digital, mas temos também um cinegrafista profissional para garantir a qualidade da imagem”, explica Zilene Medeiros.

“Os programas são bem editados, tem sonorização, todo o cuidado técnico necessário para uma produção com qualidade”, reforça Regina. “Não são programas chatos, pelo contrário, é um meio para democratizar a informação na comunidade educativa, e transforma o indivíduo num protagonista da sociedade em que está inserido.”

Durante a produção, que dura, em geral, quatro semanas, os alunos conhecem o percurso da notícia até chegar à tela da tevê. “Essa oportunidade contribui para ampliar o conhecimento do aluno”, comenta Zilene. Ela observa que, no momento em que o estudante ajuda a fazer um texto, a editar uma imagem, e se vê na TV, essa ação desperta a sua capacidade criativa e contribui para o desenvolvimento de sua lingüística.

Além disso, completa Regina, o adolescente trabalha com a afirmação dentro de seu grupo. “Quando o jovem acredita no que faz, no que defende, envolve a comunidade e multiplica a informação. Com isso, dá sua contribuição para preservar o meio ambiente e divulgar a cultura regional”, acredita a jornalista. Ela lembra, por exemplo, que, em uma das escolas, antes de gravar o programa, professores e alunos limparam e pintaram a escola, e plantaram 30 árvores. “Fazer esse tipo de ação em São Paulo pode ser comum, mas fazer isso no meio do semi-árido não é normal”, diz Regina.


Prêmio

O programa “Minha Escola na TV” recebeu o prêmio Operador Cidadão, da Neo TV – Associação de TV por Assinatura 2007 pelo melhor projeto de responsabilidade social. O prêmio foi criado pela Neo TV em 2005 para incentivar, reconhecer e premiar práticas de responsabilidade social entre suas associadas. Os critérios de avaliação considerados pelo júri foram criatividade, originalidade, ferramentas utilizadas no desenvolvimento do projeto, área de atuação (educação, saúde, meio ambiente) e envolvimento da empresa.