23/11/2011
O Coletivo Puraqué, de Santarém – PA, foi um dos ganhadores do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologias Sociais, na categoria Região Norte, com o projeto “Banco Comunitário Muiraquitã”. O Puraqué trabalha há dez anos com o fomento e a formação de jovens em cultura digital, software livre e tecnologias sociais, com atuação em vários municípios do estado do Pará, principalmente na região do Baixo Amazonas.
Com sua própria moeda social, o muiraquitã, o banco comunitário criado pelo Puraqué financia microempreendimentos colaborativos; promove consórcios solidários de compra de equipamentos eletrônicos como microcomputadores e possibilita a troca de serviços e produtos entre a comunidade. Faz parte de um projeto mais amplo, o dos Jovens CodeirXs, que pretende formar jovens de Santarém em programação.
Desenvolvimento
Faz parte, também, de uma ambição maior do Coletivo Puraqué: participar ativamente da criação de outro modelo de desenvolvimento para a Amazônia. Não o modelo atual, baseado na exploração do homem e da floresta (madeira, garimpos, soja, pecuária, mineração, reserva energética). Mas outro, baseado em uma cultura imaterial, baseada no conhecimento livre e que não dilapide recursos naturais. “Essa cultura e encontra no cerne dos povos que já habitavam essas terras antes do ‘descobrimento do Brasil’ e é a cultura da colaboração”, conta Jader Gama, do Coletivo Puraqué. “Para nós é juntar ciëncia e tecnologia com o conhecimento popular. E vamos fazer isso com antenas, conexão e raízes.”
Para Gama, o prêmio é um reconhecimento às pessoas que, na Região Norte, “acreditam que o ‘desenvolvimento sustentável’ da Amazônia deve ser feito com investimento maciço em ciência e tecnologia aliadas ao conhecimentos dos povos tradicionais da Amazônia”.
Jovens CodeirXs
Agora em parceria com a Fundação Banco do Brasil, o Coletivo Puraqué pretende articular apoio para ampliar o Projeto Jovens CodeirXs, financiado pelo Banco Comunitário Muiraquitã, e que visa cultivar no Baixo-Amazonas uma inteligência coletiva com foco na formação de jovens desenvolvedores de software livre e profissionais de cultura digital.
O Banco Comunitário Muiraquitã finacia produtos e serviços. As pessoas podem adquirir a moeda social com resíduos sólidos (como computadores que são metareciclados) ou com serviços. O principal financiamento do banco hoje é para aquisição de computadores metareciclados por parte dos 18 Jovens Codeirxs que hoje participam do projeto. Vieram do grupo de centenas de pessoas que participaram das oficinas, encontros e vivências de cultura digital promovidas pelo Puraqué.
Passaram pela formação, que começa com metareciclagem, software livre, cultura digital e ética hacker. Depois conhecem liguagens de marcação como html, css, java-script. E agora, lógica de programação, com material de introdução à programação em Java. E compraram seus computadores com a moeda social. Pagam em serviços que vão desde a criação de tutorais, oficinas e palestras até afazeres domésticos na Casa Puraqué, espaço mantido pelo coletivo na periferia de Santarém.
Com os computadores, eles estudam. Têm a condição de estudar em casa, com uma máquina que eles mesmos montaram, mas não somente em casa. “Nossa ídeia é fazer telecentros por ruas, por clubes onde os jovens se encontram uma vez por semana. E estudam, pesquisam, se divertem também. É como se as maquinas do telecentro se encontrassem remotamente”, explica Gama.
O prêmio
O Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social contou com 27 instituições finalistas, selecionadas entre as 1.116 inscrições de todo o país. Está na sua sexta edição e certificou 264 tecnologias sociais, premiando cada instituição vencedora com o valor de R$ 80 mil reais.
As categorias do prêmio são: Região Sudeste, Norte, Nordeste, Sul, Centro-Oeste, Direitos da Criança e do Adolescente e Protagonismo Juvenil, Gestão de Recursos Hídricos, Participação de Mulheres na Gestão de Tecnologias Sociais e uma categoria inédita: Tecnologia Social na Construção de Políticas Públicas para a Erradicação da Pobreza.
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