Até o fim do ano, 3 mil máquinas
caça-níqueis vão virar computadores; regenerados para serem usados em
projetos de inclusão digital.
Rosane de Souza
O custo da adaptação é de
R$ 60,00 por máquina
O Instituto Superior de Tecnologia do Rio, em Quintino, zona norte do
Rio de Janeiro, montou uma linha de produção dedicada a transformar
máquinas caça-níqueis apreendidas pela Polícia Federal em computadores
para uso em escolas, como terminais de rede e de ensino a distância.
Muitos deles vão ser colocados em locais estratégicos, para ajudar a
população a se familiarizar com a informática, como o terminal de trens
da Central do Brasil e estações do metrô. No instituto, vinculado à
Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro
(Faetec), três professores e 18 alunos vêm trabalhando na adaptação
dessas máquinas a micros com processadores de 2,3 Gb, equivalentes a um
Pentium 4, para serem usados em projetos de democratização digital da
Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado.
O coordenador do projeto, professor Marcos Paulo Monteiro, montou
pessoalmente a primeira máquina. “Eu precisava entender todos os
detalhes para coordenar a equipe que vai atuar na reformulação dos 130
equipamentos que já estão à nossa disposição.” Ele assegura que, até o
fim do ano, pelo menos 3 mil máquinas caça-níqueis vão virar
computadores. O autor da idéia, o coordenador dos Institutos Superiores
de Tecnologia da Faetec, professor Fabiano Gomes, conta que ela nasceu
quando discutiam uma forma de obter doações de máquinas apreendidas
pela polícia. “É uma boa causa”, diz, acrescentando que, hoje,
dependendo da demanda, o IST tem condições plenas de transformar
caça-níqueis em equipamentos respeitáveis.
Até virarem micros, os equipamentos ilícitos passam por um processo de
adaptação, cujo custo final é de apenas R$ 60,00. A recauchutagem
começa na Receita Federal, que retira o chip
programado com jogos. O alunos do IST fazem a pintura do gabinete, a
troca das placas-mãe, a colocação de memória e a adaptação de
engenharia, para inserir teclado e mouse. O suporte para o teclado, por
exemplo, foi instalado no lugar dos botões de comando dos jogadores. Já
o mouse pad, na cavidade originalmente destinada a receber os copos de
bebidas. Os computadores são fechados com uma tela protetora, para
garantir a ventilação e impedir o acesso ao interior do equipamento,
explicou Monteiro.
E-gov e Linux
O resultado são micros com monitores de 17 polegadas, rodando Linux.
Entre os projetos a que se destinam, um é o Faetec Digital, que já
oferece internet gratuita em banda larga para acesso a serviços
públicos em 35 unidades no Rio, Niterói, São Gonçalo, Nova Iguaçu,
Nilópolis e Resende. Cada núcleo tem de seis a 12 computadores. Os
usuários ganham endereço eletrônico, podem realizar pesquisas
escolares, imprimir e enviar currículos, ter acesso ao INSS, etc.
Uma dessas unidades foi instalada na sede da Associação dos Moradores
do Condomínio e Amigos da Vila Mimosa (Amocavim), a zona de
prostituição mais famosa da cidade. Localizada na Praça da Bandeira,
abriga seis computadores, com internet banda larga. Cleide Nascimento
de Almeida, coordenadora social da Amocavim, considera que o projeto
contribui para “aumentar a auto-estima da mulher prostituída”. A Vila
Mimosa reúne 3,5 mil prostitutas, segundo a ONG Coletivo de Mulheres da
Vila Mimosa.