Na Teia Cultural, a economia solidária foi assunto nobre. A idéia é
produzir compartilhando os ganhos e de forma socialmente responsável.
Leandro Quintanilha
Escolher um produto na prateleira é votar pela permanência de
determinada empresa no mercado. O consumidor é co-responsável pelo
impacto ecológico e social do que compra. Todos os que trabalham no
processo produtivo são donos do empreendimento (e só é dono quem
produz). Espírito colaborativo vale mais que competitividade. Nada de
premiar os melhores – há de se compartilhar os ganhos. Os fins precisam
de meios justificáveis em si. Pronto. Agora você conhece os princípios
da economia solidária.
O assunto foi um dos eixos da programação da Teia Cultural, circuito de
atividades de educação, arte, cultura e negócios, realizado pelo
Ministério da Cultura, em São Paulo, de 6 a 9 de abril. No Sesc Vila
Mariana, o destaque foi o debate “Economia Solidária como uma Nova
Cultura Econômica”, liderado pelo economista Paul Singer. Dele também
participaram o secretário nacional de Economia Solidária do Ministério
do Trabalho e do Emprego, professor Ladislau Dowbor, das faculdades de
Economia e de Administração da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP), e a ambientalista Elizabeth Grimberg, coordenadora da
Área de Meio Ambiente Urbano do Instituto Pólis.
“Há uma grande desconfiança do mercado em relação à economia
solidária”, disse Singer, na abertura do debate. Ele define o
capitalismo contemporâneo como uma ‘meritocracia’; isto é, um sistema
que recompensa os que obtêm melhores resultados financeiros.
E uma economia solidária, afirma, não deve premiar os melhores (que já
lucram sozinhos) – mas combater a desigualdade. “O sistema vigente é
viciado em favorecer quem já ganhou”, argumenta. Singer lembra que
democracia não é um conceito aplicável somente à política. “Trata-se,
também, de uma diretriz econômica”, defende.
Graça e Rita: doces e tapetes para o sustento da comunidade.
Por essa ótica, toda compra é uma espécie de voto. “Por isso, uma
empresa deve atrair o consumidor pelo que ela é, não pelo que oferece”,
sugere. Preço e qualidade seriam quesitos paralelos a uma postura
eticamente aprovável.
Elizabeth acredita que o impacto ambiental, por exemplo, deveria vir
destacado no rótulo dos produtos, assim como a tabela calórica e o
prazo de validade. “As empresas usam bens comuns (os recursos naturais)
nos processos produtivos. Têm, portanto, de compartilhar suas decisões
com a sociedade”, reivindica. A importância da informação também foi
abordada por Dowbor. “É o momento de transitar da era industrial para a
era do conhecimento”, propôs. Na opinião dele, é preciso compreender o
conhecimento como “patrimônio da humanidade” e, assim, disseminá-lo a
quem tem direito – todo mundo.
Balata, cupuaçu e amarradinho
Nos quatro dias da Teia Cultural, pontos de cultura e associações
produtivas de todo o país exibiram e venderam produtos artísticos e
artesanais na Feira de Economia Solidária, montada no Pavilhão da
Bienal do Parque do Ibirapuera.
“Mostra meu amarradinho, moço”, disse a costureira Rita Ferreira
Simões, de 55 anos, ao abordar a reportagem. ‘Amarradinho’ é uma
técnica de confecção de tapetes em que tiras de pano são amarradas numa
base perfurada, como uma rede. Rita é a fundadora do Projeto
Retalharte, que, há seis anos, funciona como uma cooperativa que
comercializa produtos feitos por 80 mulheres do município de Minas
Novas (BA).
O artesão Oscarino Porto Braga, de 46 anos, era um dos expositores do
estande do Pará. Ele fabrica e vende pequenas esculturas de balata (massa de moldar feita com látex natural). E é
hoje o tesoureiro da Artepam, associação sem fins lucrativos de Monte
Alegre, com 320 membros. “Eventos como esse, em que podemos mostrar o
trabalho a um público maior, têm sido a nossa salvação”, destaca.
No estande do Acre, fizeram sucesso os bombons de cupuaçu vendidos pela
doceira acreana Graça Santos da Silva, de 50 anos. Ela é membro do
Grupo Mulheres Unidas, do Projeto de Assentamento Alcoolbrás, com mil
pessoas, no município de Capixaba, próximo a Rio Branco. “Somos
vizinhos da comunidade Xapuri, de Chico Mendes”, orgulha-se. A venda de
doces ajuda a manter o assentamento, onde a produção local de arroz,
feijão, milho e cana já foi incendiada várias vezes.
Apesar de soar como um movimento recente, a economia solidária surgiu
com a Primeira Revolução Industrial, como reação dos artesãos ingleses
ao advento da máquina a vapor. Com as revoluções de 1848, são criadas
na França cooperativas de produção em empreendimentos capitalistas
abandonados pelos donos. Durante a segunda metade do século 19 e a
maior parte do século 20, o cooperativismo se difunde e desenvolve no
mundo todo. Grandes cooperativas se empenham na disputa dos mercados
com conglomerados capitalistas, e acabam assimilando seus métodos de
gestão. A partir dos anos 80, a exclusão de grande número de
trabalhadores do mercado se repete, o que culmina no surgimento de
um novo cooperativismo, muito mais próximo de suas origens
históricas. Novas formas institucionais de autogestão são
(re)inventadas e passam a ser conhecidas como economia solidária.
Fonte (material adaptado): Wikipédia/Paul Singer
www.mte.gov.br • Ministério do Trabalho e Emprego
www.fbes.org.br • Fórum Brasileiro de Economia Solidária