Localizado no Instituto Efort, em São Paulo, o espaço está preparado para atender portadores de necessidades especiais.
ARede nº31 novembro 2007 – Lupas, leitores de tela, teclados em Braille e nenhuma barreira para cadeirantes. O Telecentro com Acessibilidade Total da prefeitura de São Paulo, que funciona no Instituto Efort, localizado no bairro da Vila Mariana, em São Paulo, é o vencedor do Prêmio ARede 2007 na modalidade/categoria Setor Público Municipal. Entre os 178 telecentros municipais da cidade, foi escolhido para concorrer, porque é um projeto radical de inclusão. O Telecentro Efort está preparado para receber todos os cidadãos, inclusive os que têm necessidades especiais, por serem portadores de deficiências motoras, mentais, visuais ou auditivas. “O impacto dessa iniciativa é maior, porque dá acesso total às pessoas”, explica Ricardo Montoro, secretário de Participação e Parcerias, responsável pelo Programa Telecentros.
Acessibilidade é o direito de usar todos os espaços e serviços que a sociedade oferece, independentemente da capacidade de cada um. Em um telecentro, significa eliminar barreiras arquitetônicas, sonoras, de comunicação e prover softwares que permitam o acesso a todos. No Telecentro Efort, inaugurado em 2002, isso se traduz em oito computadores com acessibilidade total: monitores para pessoas com baixa visão, teclados especiais para pessoas com deficiências motoras, navegadores e softwares que “falam”, impressoras em Braile e equipamentos para surdos e deficientes físicos. Essas máquinas estão em um espaço sem barreiras para cadeirantes e preparado para que as pessoas se movimentem sem ajuda de terceiros. O telecentro conta com pedagogos e monitores capacitados a ensinar e orientar pessoas com necessidades especiais. E as máquinas com acesso total dividem espaço com computadores para usuários comuns, que também freqüentam o telecentro, o que favorece a integração entre as pes-soas com e sem necessidades especiais.
Resultado: vem gente de todo lugar para usar o telecentro. “Todo mundo quer aprender”, diz Angelina Evangelista, responsável pela área de educação do Instituto Efort. A iniciativa de inclusão do Telecentro Efort é importante porque a maior parte do mundo diz “não” à vontade de aprender dessas pessoas. “Os equipamentos com acessibilidade são caros e difíceis de encontrar”, observa Waldemar Junqueira F. Neto, coordenador geral de inclusão digital da prefeitura de São Paulo. “Não há, nas Casas Bahia, teclados expandidos ou mouses adaptados”, diz. A maioria dos sites e programas também não usa as chamadas “tecnologias assistivas”, concebidas para ajudar pessoas com incapacidades ou deficiências a realizar tarefas de seu cotidiano.
Ponteiras para apoiar a digitação O Telecentro com Acessibilidade Total é para todos: há 140 pessoas portadoras de necessidades especiais, hoje, participando de cursos no Efort. O de informática básica é composto por dez aulas de duas horas, uma vez por semana. Há também cursos de capoeira especial, reforço escolar, artesanato, música, orientação para o trabalho — tudo isso integrado com as atividades do telecentro, que recebe cerca de 1,4 mil usuários por mês, portadores ou não de deficiência. O trabalho é individual, todo o acompanhamento é feito para responder adequadamente às necessidades de cada usuário. Mais de 9 mil pessoas foram atendidas nos cursos e no uso livre da internet, em 2006.
Fila de espera
A principal conquista do telecentro foi mostrar que as pessoas deficientes têm a mesma capacidade de construir conhecimento que as demais, afirma Maria Regina Maciel, presidente do Instituto Efort. No caso do acesso às tecnologias da informação, a internet deixa de ser uma barreira e se torna uma ferramenta para vencer outras dificuldades, porque estimula novas possibilidades de conhecimento e participação efetiva em novas comunidades e grupos sociais. E as pessoas portadoras de deficiência sabem disso: o telecentro foi reivindicado pelos próprios alunos dos demais cursos no Efort. “Havia muita gente querendo aprender informática, mas não havia um espaço apropriado”, conta.
O instituto tem pedagogas e equipe especializadas no atendimento de
portadores de necessidades especiais Ainda não há o bastante. Pessoas de Atibaia, Guarulhos, Guaianases freqüentam o telecentro, porque não há centros com acessiblidade perto de suas casas. A fila de espera para o curso básico tem cerca de 800 pessoas, e a prioridade é dada a pessoas com deficiência. Mesmo para elas, contudo, a espera é de 2 meses e meio. O Efort sugeriu à prefeitura que montasse outros espaços com acessibilidade, e, atualmente, há pelo menos mais um: o telecentro da Associação da Casa dos Deficientes de Ermelino Matarazzo, na zona leste da cidade. O instituto também é chamado para replicar sua metodologia. Em 2006, realizou um curso com 280 supervisores de telecentros da cidade para ensinar como receber e atender pessoas com necessidades especiais e como usar as ferramentas tecnológicas adequadas.
O telecentro é sustentado por uma rede de parcerias. A Secretaria Especial de Participação e Parcerias cedeu, sob convênio, mobiliário, máquinas, material de escritório, e paga os monitores e o supervisor; a Secretaria Municipal de Educação cedeu dois professores para aulas de apoio escolar, informática, orientação para o trabalho e artes; a Microsoft doou as licenças e apoio financeiro para o pagamento de recursos humanos e capacitação dos monitores (os computadores com acessibilidade total, no Efort, rodam Windows e aplicativos proprietários). O Instituto Vivo doou plataformas elevatórias, promoveu a reforma do prédio, doou impressoras em Braile, material didático para oficinas de geração de renda e o pagamento dos professores; e Furnas Centrais Elétricas doou softwares especiais para deficientes visuais, periféricos e equipamentos para surdos e pessoas com restrições motoras.
O ambiente em que as pessoas vivem faz com que elas fiquem mais ou menos limitadas em seu desenvolvimento pessoal. Como isso vale para todos, o esforço para oferecer acessibilidade plena a usuários de telecentros beneficia, também, os demais cidadãos. No caso dos portadores de deficiência, que, no Brasil, representam 14,5% da população, estamos falando de 24,5 milhões de pessoas, de acordo com o Censo 2000, do IBGE.