Indicadores de qualidade

Lições básicas para aprender a reconhecer um bom curso

ARede nº73 setembro de 2011 – O investimento em educação a distância no país vem dando resultados. A maior nota (80,3 pontos) no último Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) foi de um aluno de EAD – Tecnologia em Gestão da Produção Industrial, do Grupo  Uninter, de Curitiba (PR). Estudantes de EAD saíram-se melhor em sete de 13 áreas, como biologia, geografia e matemática, de acordo com estudo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Na média, o resultado dos egressos da educação a distância foi 6,7 pontos acima dos alunos de cursos presenciais.

A qualidade dos cursos também aumenta. Até o momento, apenas três instituições foram descredenciadas pelo Ministério da Educação (MEC) por não atender às condições mínimas de funcionamento. “Passado o alvoroço da regulação, em que centenas de cursos foram credenciados e autorizados, é chegada a hora de fechar o cerco a quem não oferece um ensino de qualidade”, diz Reginaldo Onofre, técnico de gestão escolar. Para ele, a EAD facilita a atuação de instituições mal intencionadas: “Ainda á mais difícil checar as práticas quando se trata de uma educação que acontece em mídias digitais”. Nos últimos três anos, 40 instituições com cursos a distância foram avaliadas, cerca de 3.800 pólos de apoio foram extintos e mais de 20 mil vagas deixaram de existir.

Entre as várias formas de avaliar um curso, a primeira dica pode vir dos ex-alunos. Não costuma ser difícil encontrar relatos em fóruns virtuais. Em último caso, vale pedir para a universidade uma relação de ex-alunos, que podem ser achados nas redes sociais. Também é possível avaliar a dinâmica em aulas-testes. E investigar a formação dos professores e a situação do curso no site do MEC. Se ainda não estiver reconhecido, existe o risco de o diploma não ser aceito no mercado de trabalho.

O conteúdo de um curso a distância deve ser bem parecido – ou até igual – ao de um curso presencial. O aluno precisa adquirir seus livros ou apostilas durante o ano letivo e cumprir prazos para a entrega de trabalhos e realização de provas. Sim, as provas são presenciais. Ocorrem em pólos de apoio, locais credenciados pelas instituições e equipados com toda a infraestrutura eletrônica necessária. Esses pólos, em geral, funcionam em escolas, públicas, particulares e em telecentros e lan houses. “O telecentro pode até estar à disposição dos alunos todos os dias, em horários pré-estabelecidos. Mas essa situação não é comum. Por isso, é bom ter um computador com acesso à rede em casa”, alerta Mario Brandão, presidente da Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital.

A inscrição para um curso a distância normalmente acontece pela internet, assim como a prova de seleção. O aluno aprovado recebe orientação sobre os livros e os materiais virtuais. É comum ter um site oficial com todo o material de estudo disponível: videoaulas, fóruns de discussão e chats, onde é possível interagir com outros alunos e com os professores. “A principal vantagem da videoaula é que todo o conteúdo estará disponível a qualquer hora do dia, da noite ou da madrugada”, diz Gabriel Siqueira, de 34 anos, aluno de um curso de geografia a distância. Em muitos casos, inclusive, não é necessária a formação de uma turma para que o curso tenha início. Basta um aluno.

Gabriel trabalha pelas manhãs com a mãe, em um posto de gasolina. À noite dá aula de judô em uma escola de Salvador (BA). “Eu não encontrava um curso no período da tarde – e, mesmo se encontrasse, talvez não pudesse me locomover”, diz ele, que se forma em 2012. Todas as tardes, do computador de casa, Gabriel atualiza os estudos e conversa com um plantonista online. “O ensino a distância é ideal para quem, como eu, não tem tempo de se dedicar a uma faculdade com horários definidos”, afirma.

Alguns alunos, em geral os mais novos, parecem ter nascido adaptados à modalidade de ensino virtual. “Me concentro mais quando estou sozinha, em casa. Acesso os colegas se tenho dúvida, quando realmente preciso”, diz a estudante de pedagogia Fernanda Machado, de 27 anos. Formada em administração com ênfase em marketing, ela está no terceiro e último ano de seu curso online. “Tenho a sensação de que não desperdiço meu tempo com bobagens”, diz Fernanda, que pretende lecionar a partir de 2012. Uma parte dos estudos de Fernanda acontece em um telecentro, onde ela faz as provas e recebe apoio de um orientador. “Esse orientador é um facilitador que encurta as distâncias. Alguém que entende do conteúdo e sabe como aproveitar os recursos digitais em benefício da educação”, diz José Valente, do Núcleo de Informática Aplicada à Educação, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O mediador também orienta o professor sobre as dificuldades da turma.

O papel da tecnologia
Para implantar a EAD, os pólos de ensino ou telecentros precisam estar equipados. O técnico em informática Heitor Gomes, especialista em software educacional, explica que os ambientes têm de ser acessíveis e fáceis de usar, pois muitos alunos tiveram pouco contato com as mídias digitais. “A máquina não pode travar, a rede ficar fora do ar por tempo indeterminado ou sem supervisão de um técnico de suporte”, afirma.

No curso de pedagogia da Fael, acompanhado por uma turma de alunas de Guaranésia (MG), a TV pela qual elas assistem aula fica em uma sala de aula comum. Mas o laboratório de informática fica aberto, durante a aula, para que as estudantes acessem o site do curso, mandem e-mails com dúvidas ou realizem tarefas online. “A gente precisa correr lá para usar o computador. E quando temos tarefas durante a aula, formamos grupos para nos revesar entre a TV e o laboratório”, conta Eliane Cavalcante. Quando a conexão cai, não há grandes transtornos: “O aluno não é prejudicado pelas falhas no sistema. Eles dão mais prazo para a tarefa”, conta a aluna. (A.L. e L.M.)                  {jcomments on}