Prêmio ARede 2007 – Boas idéias que fazem diferença

Os projetos vieram de todas as regiões do país, a maioria deles com ênfase em processos educacionais ou de capacitação profissional.


Os projetos vieram de todas as regiões do país, a maioria deles com ênfase em processos educacionais ou de capacitação profissional.


Troféu criado para o Prêmio ARede 2007



ARede nº31 novembro 2007 –
A primeira edição do Prêmio ARede recebeu 163 inscrições, de diferentes regiões do país, e distinguiu oito iniciativas que usam com sucesso, para a inclusão social, as tecnologias da informação e comunicação (TIC) — rádio, audiovisual, internet e meios multimídia. Elegeu também o ministro da Cultura, Gilberto Gil, como Personalidade do Ano, entre 13 indicações de profissionais que se destacaram nessa área. À análise das experiências premiadas, observa-se grande diversidade regional e a presença predominante de ações e conteúdos voltados à educação — formal, não-formal ou com ênfase na capacitação profissional —, e ao público jovem de baixa renda.

A educação está no foco direto de cinco dos oito projetos que receberam o Prêmio ARede 2007. É o caso dos dois vencedores na modalidade Terceiro Setor: o Projeto Pirambu Digital, do Movimento Emaús Amor e Justiça, de Fortaleza (Ceará), na categoria ONG; e o Tonomundo, do Instituto Oi Futuro (Rio de Janeiro), na categoria Fundação e Instituto Empresarial. O primeiro abrange a formação de jovens desenvolvedores de software em plataformas abertas, e o segundo, a capacitação profissional de professores e alunos da rede pública para o uso pedagógico de ferramentas digitais (veja da página 22 à 27).

Também na modalidade Setor Público, os premiados nas três categorias — Municipal, Estadual e Federal — têm impactos educacionais (veja da página 40 à 45). Dois deles estão em São Paulo. Na categoria municipal, o Projeto Telecentro com Acessibilidade, da Secretaria Especial para Participação e Parcerias do Município de São Paulo, assegura cursos a jovens e adultos com necessidades especiais, apoiados por pedagogos do Instituto Efort. E, na estadual, o Portal AcessaSP, do governo de São Paulo, venceu com um portal baseado na idéia de construção colaborativa de conhecimento, que oferece minicursos, conteúdos sobre tecnologia, além de seções exclusivas para crianças e jovens com informações sobre história, links e jogos educativos. A Universidade Federal da Bahia ganhou o prêmio na categoria Federal, com o projeto Tabuleiro Digital (da Faculdade de Educação) — espaços para acesso universal e gratuito à internet, onde se realizam ações em rede que visam a formação de professores.

Além desses, o Prêmio ARede 2007, na categoria Especial Educação, foi para o Projeto Latanet-Da Latinha à Internet, da Oficina de Imagens, entidade com sede em Belo Horizonte (MG), Minas Gerais. Trata-se de metodologia de educomunicação que usa oficinas de fotografia com latas (técnica pinhole) integradas à prática escolar (veja a página 36). E, finalmente, na modalidade Empresa, categorias Pública e Privada, venceram, respectivamente, o projeto Um portal Governamental em Software Livre, da Companhia de Informática do Paraná (Curitiba, Paraná); e o TV Rocinha-O Cabo de Visibilidade Comunitária, da SMR Comunicações (Rio de Janeiro, RJ). Ainda nesses casos, em que o objetivo final não está diretamente ligado à formação ou à realização de cursos, ambos contêm farto conteúdo formador (veja da página 30 à 33).

Diversidade regional

eCommunita, em exposição no Sesc, em São Paulo. Chegaram à redação da Momento Editorial projetos de todas as regiões brasileiras, de 17 estados e 70 municípios. As regiões que mais contribuíram com inscrições foram, em ordem decrescente, Sudeste (79, sendo 45 no estado de São Paulo); Nordeste (43); Sul (24); Norte (12) e Centro-Oeste (1). Todos os projetos estão listados no site da revista ARede.

Seguindo a tendência de enfatizar a construção do conhecimento, a categoria Especial Educação foi a mais disputada, com 48 projetos avaliados — do Amazonas, Bahia, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina, São Paulo, Tocantins. Em seguida, ficou a modalidade Terceiro Setor/categoria ONGs, de entidades da sociedade civil sem vínculos com grupos empresariais, com 42 projetos — Amazonas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, etc. Em Setor Público, foram 20 inscritos na categoria Estadual; 17, na Municipal; seis, na Federal. Na modalidade Empresa, aquelas de capital privado responderam por nove inscrições, e as controladas pelo poder público por seis. Fundações e Institutos Empresariais, outra categoria da modalidade Terceiro Setor, enviaram dez projetos, quase todos na área da educação.

No conjunto de projetos idealizados pelas ONGs independentes, na categoria Terceiro Setor, os programas têm forte conteúdo de capacitação técnica e cultural. São muitas ações que visam melhorar as condições de vida das comunidades por meio de atividades culturais, esportivas, econômicas. As TICs são aplicadas em projetos que permitem aos jovens produzir programas de rádio e TV, desenvolver potenciais artísticos e de intervenção social — na defesa e promoção de direitos humanos.

A equipe metarrecicleira, em Santo André (SP). Na modalidade Setor Público, categoria Municipal, a maior parte dos trabalhos é iniciativa de escolas da rede pública, e abordam a introdução ao uso de tecnologias por professores e alunos ou, ainda, o acesso aos laboratórios pela comunidade, promovendo a interação escola-comunidade. Há aplicações inovadoras, como web rádios com finalidades pedagógicas. E outra boa notícia é a abordagem da inclusão digital como política pública, inserida nos orçamentos de várias prefeituras. Um terceiro eixo a ser mencionado envolve ações voltadas a jovens em situação de risco.

As iniciativas mantidas por governos estaduais são bem abrangentes — caso dos projetos Cidadania Digital, da Bahia, presente em 268 municípios; do AcessaSP e do Município Digital-RJ, desenvolvido pelo Proderj para dar acesso à internet às cidades fluminenses — até ações pontuais, como a da Universidade Virtual de Roraima, que atende, em oito municípios, 1,2 mil jovens da rede pública de ensino, ou residentes em áreas de difícil acesso, com curso preparatório de educação a distância para exames vestibulares — o Pré-vestibular Solidário Mediado por Tecnologia.

Os projetos do governo federal têm diferentes alvos, muitos deles educativos. Entre eles, estão, por exemplo, o Gesac, do Ministério das Comunicações, o projeto Classe (classificação de software livre educativo), da Universidade Federal de Santa Catarina ou, também na área de educação, o Cartografias de Sentidos nas Escolas, da Universidade Federal de Minas Gerais, que desenvolve metodologias para promover a apropriação crítica das TICs e articular essas ferramentas com a vida cotidiana das comunidades escolares.
Entre as empresas privadas, é freqüente o apoio ao trabalho de escolas de ensino fundamental. E, entre as empresas públicas, os projetos inscritos mostram que as TICs estão sendo aplicadas tanto para a qualificação profissional dos servidores e o gerenciamento de serviços eletrônicos (de modo a melhorar a qualidade do atendimento ao cidadão), quanto para incluir, na ponta, os digitalmente excluídos — caso de duas empresas de processamento, a Prodabel, de Belo Horizonte, e a Procempa, de Porto Alegre.


Glauco: início da concepção dos troféus A avaliação dos trabalhos inscritos foi feita por quatro comissões julgadoras — uma para cada modalidade premiada. A escolha dos 20 profissionais convidados pela Momento Editorial a integrá-las levou em conta a sua experiência na área de inclusão digital e social, seja como gestores de programas relevantes, formuladores de políticas, estudiosos ou especialistas. Além de não sobrecarregar o trabalho dos avaliadores, a criação de diferentes comissões teve o propósito de divulgar e fazer circular as iniciativas entre um maior número de formadores de opinião. De modo que, por exemplo, um gestor público pudesse conhecer ações mantidas por empresas privadas; ou acadêmicos tivessem a oportunidade de entrar em contato com projetos do terceiro setor; empresários com ações governamentais, e assim por diante. Os integrantes de todas as comissões, contudo, votaram para escolher a Personalidade do Ano.

Para melhor pontuação nas diferentes modalidades e categorias, foram considerados requisitos que, para a equipe da Momento Editorial, e com a concordância dos avaliadores, contribuem (quando aplicáveis) para a maior consistência das ações. Ou seja, deu-se preferência a projetos que contemplassem inovação, conexão à internet, obedecessem padrões de acessibilidade, contassem com metodologias para documentação, registro, acompanhamento e medição de resultados das experiências, usassem softwares livres e tecnologias abertas, promovessem a interatividade e o desenvolvimento cooperado; assegurassem mecanismos de representação comunitária na sua gestão ou execução.

No ano que vem, a Momento Editorial continua a promover e divulgar a excelência das ações de inclusão social baseadas no uso das TICs. As inscrições para o Prêmio ARede 2008 devem ser abertas em abril, quando a revista ARede comemora seu terceiro aniversário, e encerradas em no final de julho. A revista, mensal, tem tiragem de 15 mil exemplares, é impressa e publicada em versão para internet, com conteúdo sob licença Creative Commons, que permite reprodução livre e gratuita, para fins não-comerciais.

“O conteúdo editorial da revista e as iniciativas associadas a ela — como debates públicos sobre temas relativos à inclusão digital e a própria instituição do Prêmio ARede — pretendem a construção de uma rede articulada de ações, conteúdos e propostas, capaz de fortalecer as políticas públicas que vão assegurar acesso livre e universal ao conhecimento e à produção autônoma na Sociedade da Informação”, explica Lia Ribeiro Dias, diretora da Momento Editorial.

Projetos premiados


Modalidade Terceiro Setor

• Categoria ONG
Pirambu Digital, do Movimento
Emaús Amor e Justiça (Fortaleza, Ceará)

• Categoria Fundação e Instituto Empresarial
Projeto Tonomundo, do Instituto Oi Futuro (Rio de Janeiro, RJ)


Modalidade Empresa

• Categoria Pública
Portal Governamental em Software Livre, da Companhia de Informática do Paraná (Curitiba, Paraná)

• Categoria Privada
TV Rocinha – O Cabo de Visibilidade Comunitária,
da SMR Comunicações Ltda. (Rio de Janeiro, RJ)


Modalidade Setor Público

• Categoria Municipal
Telecentro com Acessibilidade Total, da Secretaria Especial para
Participação e Parcerias do Município de São Paulo (São Paulo, SP)

• Categoria Estadual
Portal AcessaSP, do Governo de São Paulo (São Paulo, SP)

• Categoria Federal
Tabuleiro Digital, da Universidade Federal da Bahia (Salvador, BA)


Categoria Especial Educação

Projeto Latanet–Da Latinha à Internet, da Oficina de Imagens, (Belo Horizonte, Minas Gerais)


Personalidade do Ano

Ministro Gilberto Gil


Comissão Julgadora



Categoria Setor Público

• Arthur Pereira Nunes — Presidiu o Conselho de Administração da (RNP) e da Softex; coordenou o CGI.br, quando se implantou a eleição dos representantes da sociedade civil.

• Cecília Hartmann Regueira – Fundadora do Instituto Hartmann Regueira, onde é diretora-executiva, e da Drucker Society do Brasil.

• Geraldo Vieira — Diretor de comunicação da Fundação Avina e secretário geral da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi).

• Sérgio Amadeu da Silveira — Sociólogo e professor da pós-graduação da Faculdade de Comunicação Cásper Líbero. É mestre e doutor em Ciência Política pela USP. Foi membro do CGI.br e presidente do ITI.

• Ronaldo Lemos — Diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade, da FGV Direito Rio. Presidente da organização internacional iCommons.


Categoria Terceiro Setor

• José Luiz Maio de Aquino — Assessor especial da Presidência da República, em projetos de inclusão digital.

• Manoel Horácio Francisco da Silva — Presidente do Banco Fator, e ex-presidente da Telemar e da área de papel e celulose da CVRD.

• Mario Dias Ripper — Consultor no setor de TICs, para planejamento estratégico, regulamentação e novas tecnologias. É sócio da F&R Consultoria.

• Paulo Markun — É jornalista e presidente da Fundação Padre Anchieta. Apresenta o programa “Roda Viva” há nove anos.

• Ricardo Kobashi — Chefe de gabinete e responsável pela internet na Secretaria de Comunicação do Estado de São Paulo. Foi coordenador do AcessaSP.


Categoria Especial Educação

• Célio Roberto Turino de Miranda — Secretário de Programas e Projetos Culturais do MinC. Responsável pelo programa Cultura Viva.

• Ismar de Oliveira Soares — Professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, onde coordena o Núcleo de Comunicação e Educação.

• Léo Voigt — Sociólogo e mestre em Ciência Política pela UFRGS. Professor universitário, consultor da Unesco e coordenador da Política de Proteção à Infância em Situação de Risco na prefeitura de Porto Alegre.

• Maria Inês Bastos — Coordena o setor de Comunicação e Informação da Unesco no Brasil.

• Ricardo Young Silva — Presidente do Instituto Ethos, do UniEthos e do conselho deliberativo do Yázigi Internexus.


Categoria Empresa

• Imre Simon — Professor de Ciência da Computação da USP, com formação em Engenharia e em Matemática. Estuda os impactos sociais da internet.

• Luciano Meira — Professor do Departamento de Psicologia da UFPE e consultor do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife.

• Maurício França Teixeira — Chefe do departamento de tecnologias sociais da Finep/MCT, responsável pela carteira de projetos relativos às TICs aplicadas ao desenvolvimento social.

• Nelson Pretto – Diretor da Faced-Faculdade de Educação da UFBA. Licenciado em Física, com mestrado em Educação, pela UFBA. Doutor em Comunicação pela USP.

• Verônica Couto – Jornalista. Diretora-executiva da revista ARede,  formada em Ciências Sociais pelo IFCS/UFRJ.