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Campanhas tomam as ruas e as telas

Com o aumento de usuários de redes sociais, a internet será decisiva nas eleições deste ano. Porém, partidos ainda se preparam de forma vertical e conservadora, segundo especialista.

Texto Renato Godoy | Foto Renato de Aguiar

 

ARede nº 100 – setembro/outubro de 2014

Os partidos brasileiros nunca estiveram tão ligados na campanha eleitoral pela web. Não é para menos. Da última eleição presidencial para cá, a internet, no Brasil, passou por mudanças abruptas em termos de acesso e de legislação. As redes sociais exibem um aumento vertiginoso de usuários nos últimos quatro anos. Em 2010, o Facebook tinha 3,6 milhões de usuários no país, muito aquém do Orkut, então líder no segmento com 26,9 milhões de perfis brasileiros.

Em junho, o Google anunciou que o Orkut vai acabar. No entanto, o Facebook agora soma 76 milhões de usuários no Brasil. Outro dado, da ComScore, mostra como o Facebook consolidou sua hegemonia entre os brasileiros, que gastam nessa rede social 97,8% do tempo de navegação.

Alguém arrisca calcular quanto desse tempo vai ser usado para postagens e comentários contra e a favor de praticamente todos os candidatos a tudo, nas próximas eleições? É só fazer a conta de quantos desses posts já rolam na sua timeline.

Outra ferramenta que promete insuflar o debate eleitoral é o WhatsApp, aplicativo de troca de mensagens instantâneas que já tem 40 milhões de usuários no país. “Com a democratização do acesso aos smartphones, o WhatsApp caiu nas graças dos brasileiros. Esse comportamento acompanha as tendências, em outros lugares do mundo, de migração para essas redes mais ‘reservadas’. A possibilidade de criar grupos de contatos atualizados constantemente torna o WhatsApp um espaço de discussão privilegiado”, aponta Fernanda Becker, analista da Interagentes – Comunicação Digital e Ações em Rede.

Marcelo Branco, consultor para a sociedade da informação, acredita no Facebook como a principal ferramenta das redes sociais no debate eleitoral. Porém, lembra que o Twitter, que perdeu usuários no Brasil desde o último pleito, continua influente. “O principal canal, hoje, é o Facebook, que vai redirecionar os conteúdos para sites e blogs. Depois vem o Twitter, que é a ‘guerrilha’ da internet, onde se posta o que está acontecendo imediatamente em um comício, por exemplo”, diz ele.

Este será o primeiro pleito sob a vigência do Marco Civil da Internet. Sancionada pela presidente Dilma Rousseff em abril de 2014, a lei foi considerada uma vitória dos movimentos pela inclusão digital, que tiveram ampla participação em sua elaboração. “O Marco Civil, naquilo em que a legislação eleitoral não for cumprida, já poderá ser plenamente aplicado”, afirma Renato Leite, advogado especialista em Direito Eletrônico.

O advogado exemplifica: antes do Marco Civil, caso um provedor recebesse uma notificação extrajudicial para remover um conteúdo da sua plataforma e não cumprisse com o pedido, ele poderia ser responsabilizado, após a proposição de uma ação judicial, a partir daquele momento. Ou seja, a multa ou indenização seria maior. Com o Marco Civil e a atual Lei Eleitoral, o provedor somente pode ser responsabilizado após o descumprimento de uma ordem judicial, independente da existência de notificação. “O Estado passou a determinar que, na dúvida sobre a ilicitude de um conteúdo, cabe ao Judiciário definir se este deve ser removido ou não. Antes, a decisão tinha que ser tomada pelo provedor, sob pena de responsabilidade. No cenário antigo, o provedor fazia o papel de juiz, no lugar do Estado”, diz Leite.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também estabeleceu algumas resoluções onde há restrições na internet e no uso de telecomunicações. Por exemplo: não é permitida a veiculação de qualquer tipo de propaganda paga, em sites de pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos, e em páginas oficiais ou hospedadas por órgãos ou entidades da administração pública direta ou indireta da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. A campanha por telemarketing, utilizada nos últimos pleitos, também foi proibida por resolução do TSE.

Para Leite, a judicialização do processo eleitoral no país é sempre um temor. “No Brasil, infelizmente, temos o hábito de tentar resolver as demandas no Judiciário. E, mesmo com a legislação eleitoral vislumbrando a prática de atos pela internet, e com a aprovação do Marco Civil, existirão abusos de ambos os lados, tanto em demandas para remoção de conteúdos, quanto na produção de conteúdos de natureza dúbia. Caso exista dúvida sobre a licitude desses conteúdos, aí sim, cabe ao Judiciário decidir”, define.   

As três principais candidaturas criaram núcleos específicos para atuar nas redes sociais, com assessores que trabalham diretamente ligados aos candidatos. Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) apostam em uma narrativa transmídia, que testabeleça um constante diálogo entre o horário gratuito na televisão e a internet.

No caso do PT, o escolhido para chefiar a campanha à reeleição na internet foi Franklin Martins, ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) do governo Lula. Além da proximidade com o ex-presidente, Franklin tem ampla trajetória na imprensa brasileira e desde junho do ano passado, no auge das manifestações, tem assessorado a presidente em sua relação com a imprensa e as mídias sociais. Outra estratégia da coligação liderada pela petista para se aproximar do público das redes sociais se dá por meio do perfil humorístico Dilma Bolada, alimentado pelo publicitário Jefferson Monteiro. O criador do fake da presidente é consultor da campanha.

Depois de quatro anos sem se manifestar no Twitter, a presidente “real” voltou ao microblog em um diálogo com sua fake, em setembro de 2013, em um esforço para retomar sua popularidade deteriorada no pós-junho. Dilma Bolada tem mais curtidas no Facebook (1,5 milhão) do que a conta administrada por assessores da presidente (1 milhão). A personagem é uma aposta da campanha petista para ganhar simpatia do eleitorado e criticar adversários. Enquanto o perfil oficial da candidata é focado em exibir as realizações dos mandatos Lula e Dilma, o “fake quase oficial” faz piadas com os outros candidatos e brinca com a personalidade rigorosa da presidente. Dilma Bolada é ainda mais multimídia do que a oficial, pois tem, além de Twitter e Facebook, uma conta no Instagram, na qual traz montagens bem humoradas com sátiras favoráveis à presidente.

Outra novidade da campanha é o site Dilma Muda Mais, que, com mais de 500 mil curtidas no Facebook, opta pela linguagem dos memes, com sátiras e ferramentas rápidas para desmentir informações que viralizam na internet. O veículo produz conteúdos, como breves entrevistas com beneficiários de programas sociais do governo. Uma conta no WhatsApp também é vinculada ao site. A ideia é que o apoiador de Dilma se cadastre enviando uma mensagem e entre em contato com outros eleitores.

A equipe do Muda Mais fica à disposição dos usuários para municiá-los com argumentos favoráveis à candidatura petista, principalmente com o fornecimento de dados. No entanto, a reportagem solicitou cadastramento no
WhatsApp da candidata no dia 10 de julho e até o encerramento desta edição não recebeu qualquer informação da campanha e não foi adicionada a um grupo de eleitores. Em resposta à demora, o perfil do site Muda Mais afirmou que “a demanda do WhatsApp cresceu muito” e que em breve regularizará o serviço.

Na campanha na TV, dirigida pelo marqueteiro João Santana, há uma grande aposta nas estratégias de complementaridade. A campanha da candidata à reeleição, por exemplo, sugere que os telespectadores mandem suas selfies com a presidente para o site oficial da campanha, que é supervisionado pelo próprio marqueteiro.

O candidato Aécio Neves escolheu, em janeiro, um político tarimbado para dirigir sua campanha na internet: Xico Graziano, ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso e atual coordenador do instituto mantido pelo ex-mandatário.

Porém, após desentendimentos, Graziano deixou o cargo. A irmã do candidato, Andréa Neves, assumiu o posto, sob a coordenação do marqueteiro da campanha, Paulo Vasconcelos.
O site Aécio Digital, com as propostas do tucano à presidência e uma plataforma interativa, saiu do ar com a saída de Graziano. Na campanha do tucano agora há um site que tem semelhanças com o Muda Mais: o Vamos Agir, que convoca a militância para ações na internet e na campanha de rua. Aécio tem mais curtidas do que Dilma no Facebook: 1,2 milhão. E usa a ferramenta para divulgar críticas à atual gestão, fotos de sua família e programas eleitorais.

A campanha digital de Marina Silva é coordenada pelo jornalista Caio Tulio Costa, designado pelo PSB antes da morte de Eduardo Campos. Costa já ocupou o cargo em 2010. Com menos tempo de TV (2 minutos, contra 4 de Aécio e 11 de Dilma), a ex-senadora tem que ter ainda mais presença na internet do que em 2010, quando atingiu o surpreendente percentual de
20% dos votos.

revista-arede-100-capa-Campanhas-tomam-as-ruas-e-as-telas-02Além de perfis nas redes sociais, a campanha repete uma estratégia, inspirada na eleição de Obama em 2008, de reforçar o pedido de doação de pessoas físicas. “Em vez de poucos contribuindo com muito, queremos muitos contribuindo com pouco”, é o mote no site da candidata.Em palestra para estudantes de jornalismo, em julho, quando o candidato ainda era Campos, Costa afirmou que a estratégia da campanha era atuar em três eixos: os sites oficiais, uma espécie de casa da candidatura; as redes sociais, que permitem um contato mais informal com os eleitores; e a frente de arrecadação de recursos de pessoas físicas.

Marcelo Branco, que foi coordenador das redes sociais da campanha de Dilma em 2010, avalia que as campanhas dos principais partidos na internet ainda têm uma postura conservadora, vertical e centralizadora. “Os partidos e campanhas continuam tentando se constituir a partir dos perfis institucionais como um polo gerador de conteúdo, recorrendo ao antigo modelo da broadcasting, e estimulam muito pouco que os apoiadores sejam os protagonistas da chamada autocomunicação de massa”, afirma, referindo-se ao conceito do sociólogo espanhol Manuel Castells.

Para o consultor, nenhuma candidatura, até o momento, conseguiu fazer com que os seus apoiadores fossem os principais comunicadores do processo eleitoral – o que daria vazão à potencialidade dessa chamada autocomunicação de massa na internet. “Se as campanhas na internet têm a sensação de que estão falando com o público que está no campo político oposto, ou com os indecisos, estão enganadas. Com essa comunicação centralizada, institucionalizada, estão falando apenas com seus próprios apoiadores”, afirma Branco.

Para ele, um canal de comunicação entre a campanha e a militância é muito importante, mas isso não é o suficiente para ganhar o debate. Branco também aponta que as campanhas têm investido prioritariamente no Facebook, por ser, de fato, a rede social de maior abrangência do país. Porém, ele também considera a importância do Twitter, que é o mais instantâneo de todos os recursos – pois o sistema de algorítimos do Facebook não permite aos usuários lerem todas as mensagens de seus contatos imediatamente. A crítica a essa opção comercial do Facebook é recorrente entre ativistas da inclusão digital. “O Facebook tem apostado cada vez mais na venda de links patrocinados e no impulsionamento de publicações e páginas. Isso pode, de fato, limitar significativamente a visibilidade das atividades de ‘nós’ menos privilegiados”, salienta Fernanda Becker.

Tal como Branco, ela acredita que o engajamento dos usuários nas redes sociais é mais importante do que a mensagem vertical, de cima para baixo, emitida pelos perfis institucionais. “A chave do protagonismo das redes sociais está justamente em seu caráter, em alguma medida, horizontal e distribuído, onde cada usuário pode emprestar sua credibilidade ao conteúdo que divulga e expressar sua opinião sobre os principais tópicos do debate político”, explica.

O potencial da rede social em um processo público como as eleições, ressalta Fernanda, é o de definir a agenda da campanha, forçando os agentes a responder às novas demandas que surgirem na esfera digital. “A possibilidade de inserir novas pautas no debate significa uma mudança de paradigma em relação ao formato verticalizado dos veículos de broadcasting, da comunicação de massa. Nesse sentido, importa mais o volume de pessoas que têm acesso a essas estruturas, com possibilidade de participar do debate, do que as caraterísticas
específicas de cada uma dessas plataformas”, esclarece ela.

O uso de tecnologias da informação e comunicação tem influenciado a conjuntura política de países do Ocidente e, cada vez mais, do Oriente, no mínimo há uma década. Após uma explosão mundial de protestos convocados e insuflados pelas redes sociais (Primavera Árabe em 2010, Londres 2011 e Istambul 2013), o fenômeno ganhou corpo no Brasil. Em junho de 2013, o país sentiu a força das redes sociais e das ruas na vida política nacional. Mas as urnas já sentiram o peso desse tipo de mobilização em outras ocasiões.

Um caso paradigmático do uso de Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) nas eleições ocorreu na Espanha em 2004. O então premiê José Maria Aznar liderava as intenções de voto com folga. Após o atentado a bomba de
11 de março em estações de trem de Madri, Aznar antecipou-se e culpou o grupo separatista basco ETA. Essa estratégia enfraqueceria seu principal adversário, o socialista José Zapatero, cujo partido tinha um histórico de simpatia à causa basca – ainda que se distanciasse dos métodos do ETA.

Horas depois da declaração do primeiro ministro, em trocas de SMS, cidadãos começaram a questionar a versão de Aznar e apontar que ele o fizera para tirar proveito político da tragédia. As inquietações se confirmaram: o atentado foi promovido pela Al Qaeda, em represália à decisão de Aznar de se aliar aos Estados Unidos e à Inglaterra na segunda guerra do Iraque. A mobilização em rede é apontada como decisiva na vitória de Zapatero, três dias após o atentado.

No Brasil, nas eleições de 2006, milhares de SMS foram disparados com ataques à candidata ao Senado e favorita nas pesquisas, Jandira Feghali, do PC do B do Rio de Janeiro. A mensagem mais difundida dizia “Igreja e ONGs pedem que eleitores não votem em Jandira Feghali por a candidata pregar o (sic) não existência de Deus e defender o aborto”. No último levantamento eleitoral antes do pleito, a candidata tinha uma vantagem de 12 pontos percentuais sobre o seu adversário Francisco Dornelles (PP), mas acabou perdendo por 7%.

Com o crescimento do acesso, há uma tendência à disseminação desse tipo de informação às vésperas da eleição? Para os especialistas em internet, sim. O voto, sem dúvida, vai ser disputado a cada tuíte, a cada postagem, a cada foto, a cada mensagem instantânea.

  

Tinder eleitoral

revista-arede-100-capa-Campanhas-tomam-as-ruas-e-as-telas-01Um aplicativo criado pelo estudante de computação do ITA, Walter Júnior, promete auxiliar os eleitores indecisos e até aos decididos a esclarecer dúvidas sobre seus candidatos. O Voto x Veto apresenta propostas dos candidatos, sem atribuir a autoria. O usuário escolhe “votar” ou “vetar” aquela proposta.

Gratuito, o app é chamado pelo próprio autor como uma espécie de Tinder (aplicativo de paquera entre os usuários) eleitoral, que ajuda o cidadão a encontrar a afinidade com alguma candidatura.

Conforme os votos e vetos do usuário, o aplicativo ordena os candidatos em um ranking de afinidade. A ferramenta já está disponível para Android e deve constar da Apple Store em breve.

 

 

O código aberto tornaria a urna  mais segura

A urna eletrônica chega à décima eleição como um dos símbolos do mais longevo período democrático do país. No entanto, o mecanismo está longe de ser uma unanimidade entre os especialistas. Ainda que o processo seja considerado como o mais rápido e um dos mais seguros do mundo por observadores internacionais, o sistema do voto eletrônico é questionado a cada processo eleitoral. A comunidade do software livre critica o fato de o sistema operacional que roda nas urnas ter um código-fonte fechado. Essa característica, dizem, torna a urna uma “caixa preta”, sem possibilidade de ser auditada e suscetível a falhas e fraudes.

Fernanda Becker, ativista do Coletivo Interagentes, ressalta que a urna eletrônica cumpriu um papel importante no acesso de boa parte da população às eleições, por ser um mecanismo de fácil operação, superando o voto em papel, que induzia eleitores ao erro – sobretudo quando o país ainda apresentava altos índices de analfabetismo.

Porém, de acordo com ela, o sistema tem fragilidades que precisam ser levadas a público e corrigidas. “Os cidadãos brasileiros não podem saber todos os aspectos do programa que faz a urna funcionar. Isso torna a urna inauditável e viabiliza a possibilidade da existência das chamadas backdoors no sistema controlado por uma empresa transnacional (a estadunidense Diebold Procomp)”, questiona Fernanda, para quem o maior potencial de problemas não está dentro da urna, mas na totalização dos votos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Se a urna eletrônica rodasse com um software livre, as desconfianças e incertezas sobre o processo eleitoral seriam mitigadas. “Seria possível estudar de maneira transparente as fragilidades técnicas, sujeitando o sistema a testes públicos exaustivos que aumentariam significativamente a confiança no sistema por meio do controle da própria sociedade. É preciso compreender que nenhum sistema ou processo é infalível e por isso precisa ser constantemente aprimorado e rigorosamente testado”, explica a ativista.
 
Marcelo Branco, consultor para a sociedade da informação, aponta que o modelo atual de urnas eletrônicas não permite uma recontagem dos votos. Por ser um sistema fechado, a “recontagem” sempre repetiria os mesmos números. “Outra coisa é que deveria haver a possibilidade de imprimir os votos, para uma recontagem, quando necessária”, aponta. Apesar disso, Branco acredita que no momento as urnas eletrônicas dão mais credibilidade ao processo eleitoral do que o modelo anterior de cédulas de papel.

A postura do TSE na preparação das eleições deste ano trouxe mais desconfiança sobre as urnas eletrônicas. A corte não realizou testes públicos, apenas fechados, com 12 especialistas, 11 deles funcionários de tribunais eleitorais. Em 2012, antes das eleições municipais, especialistas da Universidade de Brasília (UnB) fizeram um teste na urna, em uma simulação com 475 votos. Após o código do software da urna ser aberto, os pesquisadores conseguiram colocar os votos na ordem em que foram digitados na urna, o que poderia quebrar o sigilo do sufrágio.

Mesmo com essa falha, o sistema operacional da votação eletrônica permanece o mesmo de 2012. O TSE afirma que o sistema da urna eletrônica embaralha os votos e só grava a indicação de que o eleitor já votou, garantindo o preceito constitucional do sigilo do voto.(R.G.)

 

 

Propostas vagas para o digital

As três candidaturas que mais somam pontos percentuais nas pesquisas de intenção de voto prometem ampliar o acesso à internet no país e aumentar o investimento em infraestrutura para propiciar conexão mais barata e com mais qualidade. Porém, Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) não deixam claro como pretendem implementar essas melhorias. Apesar do tom incerto para as propostas relativas à internet, é possível notar diferenças entre os candidatos em relação ao tema da neutralidade da rede e na garantia de direitos ao
usuário. A candidatura de Aécio, por exemplo, sequer cita o Marco Civil da Internet, enquanto as de Dilma e Marina se comprometem com sua vigência e ampliação.

“Nosso Marco Civil dá aos usuários garantias fundamentais como a liberdade de expressão, o respeito aos direitos humanos e à privacidade do cidadãos, assegurando a neutralidade da rede frente a interesses comerciais ou de qualquer espécie”, pontua o programa da candidata à reeleição.

O programa do PSB, escrito anteriormente ao acidente que matou Eduardo Campos, também se compromete com a implementação do
Marco Civil.

A discussão em torno de um marco regulatório para a mídia e a democratização dos meios de comunicação inexiste nos programas dos três candidatos. A proposta de discussão de uma lei de mídia para o país é uma demanda antiga da militância do PT. Nas convenções do PT que prepararam o programa de governo, a democratização da mídia chegou a despontar como um dos eixos do documento. A proposta contava com o apoio público do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, a pauta não foi apresentada. Os movimentos que lutam pela democratização dos meios de comunicação lamentaram a perda da oportunidade de o maior partido do país levantar o tema na campanha.

Com maior ou menor ênfase, a questão da participação social aparece nos programas dos três candidatos mais bem pontuados nas pesquisas.  A petista cita o governo digital como forma de controle social das políticas públicas por meio da transparência, o que permite um combate maior à corrupção. A participação social pela internet é também um dos pontos do decreto presidencial que instituiu a Política Nacional de Participação Social.

O candidato do PSDB afirma que pretende criar um portal eletrônico para estimular o diálogo com a população e também ressalta a importância da internet como ferramenta de participação. “O acesso à comunicação digital é altamente estimulante à participação e colaboração no âmbito das redes sociais”, diz o programa do tucano.

Também chama atenção a ausência de projetos de infraestrutura para acesso público e gratuito à internet, como as praças digitais, implementadas em São Paulo, política considerada como exitosa por ativistas da inclusão sociodigital. “Trata-se de um belo projeto de inclusão que responde às necessidades dos usuários e estimula a permanência das pessoas nesses espaços, ocupando as ruas e praças, que deixam de ser um ‘não lugar’, um espaço de trânsito para se tornar um ponto de encontro, lazer e trabalho”, diz Fernanda Becker, do Coletivo Interagentes. (R.G.)