Capa – Da doação de micros ao investimento em conteúdo

Os projetos das estatais na área de inclusão digital começam a dar um salto de qualidade. Saem da fase da simples doação de micros recondicionados para um investimento maior em formação de pessoal e criação de conteúdo.


Os projetos das estatais na área
de inclusão digital começam a dar um salto de qualidade. Saem da fase
da simples doação de micros recondicionados para um investimento maior
em formação de pessoal e criação de conteúdo.

Responsável pela maior rede de telecentros do país, todos em parceria
com entidades dos mais diferentes tipos, o Banco do Brasil contava, no
início de novembro, com 1.213 unidades em funcionamento, das quais 800
com acesso à internet. Segundo Rosana Melo, gerente de negócios e
tecnologias sociais, a ênfase, durante este ano, foi ampliar a rede e
estimular a conectividade. “O acesso à internet é fundamental para a
inclusão digital”, reconhece. As unidades sem conexão funcionam
basicamente como escolas de informática e de capacitação profissional.


O Banco do Brasil doou computadores para 1,5 mil telecentros.

A rede do BB deve chegar a 1,5 mil unidades ao final de dezembro e, em
2006, ganhará apenas mais 300 unidades. “Vamos concentrar todo nosso
esforço na consolidação da rede e no desenvolvimento de conteúdo para
atender a esses pontos”, relata. No ano que vem, será lançado um portal
colaborativo, o www.redetelecentro.com.br, com banco de dados de
projetos, de melhores práticas, de educação a distância, educação
continuada e áreas de chats. Para desenvolver o portal, o BB já firmou
convênios com várias universidades, contratadas para desenvolver
conteúdos.

O objetivo é qualificar a rede, acelerar o processo de capacitação dos
gestores e oferecer aos freqüentadores dos telecentros as ferramentas
para que possam criar alternativas profissionais e de renda. Outra
medida incluída no planejamento estratégico é a identificação de que
pontos da rede também poderão funcionar como correspondentes bancários
do BB, abrindo espaço para uma fonte de remuneração do projeto.

Como o Banco do Brasil não financia as unidades – apenas doa os
equipamentos recondicionados que são descartados pelo banco, faz o
treinamento e a supervisão -, não tem como exigir a conexão à internet.
Mas procura estimular essa e outras práticas que tornam os telecentros
mais eficientes. De acordo com Rosana, o primeiro resultado do
acompanhamento das entidades conveniadas, que foi presencial e terminou
no final de março cobrindo 1.030 convênios, foi muito positivo. Nenhum
dos projetos havia parado suas atividades e só 20% deles não
apresentavam indicadores mínimos de sustentabilidade. Na outra ponta,
234 projetos já geravam receita para garantir sua existência sem
aportes de patrocinadores. E conseguiram essa proeza agregando a
prestação de serviços a pequenas empresas e cooperativas da comunidade.

Criar conteúdo

Os 26 Telecentros da Pesca, implantados pela Secretaria Especial de
Aqüicultura e Pesca (Seap) em comunidades de pescadores artesanais,
foram criados com equipamentos do Banco do Brasil. Também para esta
rede o principal desafio, em 2006, será produzir conteúdos relacionados
com a atividade pesqueira. “Hoje, eles são usados, principalmente, para
a comunicação”, diz Alexandre Kirovsky, coordenador do projeto. “Isso é
relevante, mas falta uma pedagogia voltada para o uso da internet na
atividade, para pesquisar preços de pescado, buscar novos mercados,
novas tecnologias de processamento, ter acesso à legislação do setor”,
constata ele.

Os convênios entre a secretaria e as comunidades, para a manutenção dos
telecentros, são de um ano. Os chefes de escritórios regionais da Seap
participam dos grupos gestores. A secretaria paga os monitores (R$
130,00 por mês) e o técnico, a capacitação desses profissionais, dá os
computadores que rodam software livre, o espaço físico. A implantação
de um telecentro custa R$ 50 mil e a Seap investiu R$ 1 milhão este
ano. A rede de 26 telecentros da pesca – só cinco deles com conexão à
internet – deveria ganhar mais 15 unidades até o final de dezembro. A
expectativa é chegar a 70 telecentros no próximo ano.

A Caixa Econômica Federal, por sua vez, acaba de assinar um convênio
com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) para
ampliar a rede de Telecentros de Informações e Negócios do ministério
das atuais 700 unidades para pelo menos mil, até fevereiro. A meta do
projeto, conduzido pela Secretaria de Tecnologia Industrial, do MDIC,
sob a coordenação do secretário Jairo Klepacz, é chegar ao final de
2006 com 3 mil telecentros implantados.

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em São Paulo.

O MDIC tem uma grande oportunidade para fazer isso porque a CEF, que
doou 9,7 mil máquinas a vários projetos e é a principal fornecedora de
equipamentos para o programa, tem pelo menos 20 mil máquinas
disponíveis para doação em 2006 – e uma fila de espera de 15 mil
computadores, solicitados por diversas entidades que realizam projetos
de inclusão digital. Caso conclua a aquisição, em andamento, de 22 mil
PCs, será substituído um número igual e, então, a CEF terá quase 50 mil
máquinas disponíveis para doação, diz Roberto Zambon, gerente nacional
para ambiente distribuído.

Ao lado da Previdência, que está comprando cerca de 30 mil novos PCs e,
portanto, vai aposentar um número equivalente, a Caixa é um dos maiores
potenciais doadores de computadores em 2006, mas ainda não se integrou
a nenhum projeto de Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC).
“Ninguém conversou comigo sobre isso”, diz Zanbom. Os CRCs fazem parte
de um programa chamado Computadores para Inclusão, elaborado em 2004
pela Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação (SLTI) do
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Seu objetivo é envolver
a administração federal e as estatais para que doem equipamentos —
devidamente recondicionados e em condições operacionais – a
telecentros comunitários, escolas públicas e bibliotecas. O projeto vai
dar uma escala e eficácia ainda maior ao sistema de doações, que o
Banco do Brasil vem praticando com sucesso, mas que ainda é complicado
em outros setores do governo.

A Eletronorte, por exemplo, doa os equipamentos para os telecentros da
Rede da Floresta – Topawa Ka’a, projeto criado pela empresa, em 2003, e
colocado em prática em meados de 2004. Por conta dos demorados trâmites
burocráticos internos, a formalização de convênios com as entidades
parceiras e a compra dos computadores com recursos do orçamento
específicos para doação levam mais de oito meses. Essa demora foi um
dos fatores que impediu a empresa de cumprir a meta de criar 20
telecentros, em 2005. A rede tem somente cinco  telecentros em
atividade, dos quais dois sem conexão com a internet.

O Serpro vai ter, pela primeira vez, em 2006, um orçamento específico
para inclusão digital. Não se sabe ainda quanto, mas somente o fato
dele existir é considerado uma vitória pelos profissionais da empresa
envolvidos voluntariamente, desde antes do governo Lula tomar posse, na
implantação de telecentros. Hoje, são 11 em operação, dos quais nove
estão conectados. Outros dois serão inaugurados este ano. Além disso, a
empresa participou do projeto da Petrobras, doando o projeto da rede
lógica, elétrica e mão-de-obra para instalação de 11 telecentros. No
próximo ano, a meta da recém-criada coordenação nacional de inclusão
digital é implantar cinco telecentros comunitários em cada uma das dez
regionais da empresa.

Centros de reciclagem

A expectativa de Rodrigo Assumpção, secretário-adjunto da SLTI, é de
que o primeiro convênio com uma entidade, para tirar os CRCs do papel,
seja efetivado este mês. Trata-se do CRC de Porto Alegre, a ser
implantado com a União Brasileira de Educação e Assistência,
mantenedora da PUC de Porto Alegre, no Centro Social Marista (Cesmar),
que trabalha com a educação de jovens e adultos e vai adaptar uma área
na qual terá capacidade para receber e recondicionar mil computadores
por mês. O investimento previsto é de R$ 500 mil e o CRC deverá entrar
em produção um mês depois que o convênio for assinado.


Telecentros Fácil, em Guarulhos,
com equipamentos doados pelo BB.

Cerca de R$ 1 milhão, dos R$ 7 milhões investidos pela Fundação Banco
do Brasil (FBB) em tecnologia para inclusão, este ano, foram alocados
na construção de um CRC no Gama, cidade-satélite do Distrito Federal,
cuja atividade a fundação vai coordenar. O terreno foi doado pela
organização não-governamental Afago, que vai fazer a gestão
administrativa do centro. Os outros parceiros são o Banco do Brasil
(que vai doar computadores e deu o projeto de engenharia); a Cobra
(modelo de produção, ferramental e consultoria); a ONG Programando o
Futuro  (gestão técnica, capacitação, linha de produção),
Ministério do Trabalho (bolsas para os jovens que vão participar da
capacitação) e SLTI (logística e distribuição). As atribuições dos
participantes não são definitivas, porque  precisam ser firmadas
em um termo de parceria ainda não assinado.

Para Germana Macena, coordenadora do projeto na FBB, a maior
dificuldade é justamente concluir esse termo, porque nele se registram
compromissos de cada parte. Ela é otimista, no entanto: “Vamos entrar
em atividade em março. Queremos ser o primeiro CRC do Brasil e
distribuir mil computadores por mês.” Na medida que entrarem em
funcionamento, os CRCs indicarão representantes para o que será a
coordenação nacional do programa, onde vai se decidir para onde vão as
máquinas. A administração direta e as estatais não são obrigadas a doar
seus computadores aposentados para os CRCs; por isso, a formação de
parcerias para canalizar essas máquinas é fundamental.

Recursos humanos

Além da manutenção das atividades do CRC, que vai consumir mais R$ 1
milhão em 2006, a FBB pretende abrir, no ano que vem, outras 55
Estações Digitais. Até  novembro, a rede tinha 124 estações em
funcionamento, das quais 106 ligadas à intenet. Segundo Marcos
Fadanelli Ramos, diretor da área de educação da Fundação Banco do
Brasil, a entidade também investe nos monitores que vão trabalhar nas
estações – este ano, foram capacitados 270 educadores sociais.

Em 2006, a fundação vai investir R$ 4,5 milhões (R$ 2,5 milhões na
instalação de Estações Digitais, acompanhamento e capacitação de
educadores, e R$ 2 milhões em cooperação técnica com outros programas).
A prioridade, da mesma forma que o Banco do Brasil, será o
desenvolvimento de um sistema para acompanhar a atividade das estações,
de forma a ajudá-las na solução dos seus principais problemas e também
prestar contas do projeto. A exemplo do Banco do Brasil, a FBB vai
criar um portal,  para ser um canal de reunião da comunidade e
espaço de produção de conteúdo a ser compartilhado por todas as
Estações. “Toda espécie de conteúdo que possa ser útil às Estações, com
destaque a cursos estruturados e de uso livre para as comunidades e
soluções criativas que possam servir de referência para as demais”,
explica Fadanelli. Em março, será realizado o 1º Encontro de Educadores
das Estações Digitais, com 400 educadores formados pelo projeto e mais
200 dos telecentros do Banco do Brasil.

Para Rodrigo Assumpção, da SLTI, os esforços dos projetos
governamentais, ainda focados principalmente no acesso a equipamentos,
aos poucos vão subindo na curva de qualidade, com maiores investimentos
em capacitação, contratação de pessoas, alocação de recursos nas
pontas. “Isso vai fazer com que esses recursos sejam aplicados de
maneira mais efetiva”, acredita ele.


Pelo menos dois centros
de recondicionamento de
computadores devem entrar
em operação em 2006.

Uma das linhas de atuação do Programa Petrobras Fome Zero é a de
educação e qualificação profissional de jovens e adultos, e os 50
Telecentros de Inclusão Digital financiados pela empresa e implantados
este ano estão neste contexto. A Petrobras investiu cerca de R$ 100 mil
– valor suficiente para implantar mais um ou dois telecentros – na
formação das pessoas que vão trabalhar nos telecentros e vai pagar os
três monitores e um coordenador por unidade durante dois anos. Os
telecentros são em áreas carentes e foram implantados em parceria com a
Rits (Rede de Informações para o Terceiro Setor) e o ITI (Instituto
Nacional de Tecnologia da Informação), com a participação direta das
comunidades na gestão. O investimento total é de R$ 7,8 milhões, em
dois anos. Isso significa que alguns convênios, firmados em 2004 ou no
início de 2005, podem acabar no próximo ano. O projeto foi realizado
pela Petrobras, por incentivo do ITI, e, hoje, está sob a
responsabilidade da área de comunicação da empresa. Não se sabe se,
depois de terminados os convênios, os telecentros vã receber novos
recursos da Petrobras.

www.bb.com.br – Site do Banco do Brasil. As notícias sobre inclusão digital estão no link de projetos relacionados ao Fome Zero.

www.presidencia.gov.br/seap – Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, com link Maré – os Telecentros da Pesca.

www.telecentros.desenvolvimento.gov.br
– Projeto dos Telecentros de Informação e Negócios, do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio, em parceria com a Caixa
Econômica Federal.

www.moradiaecidadania.org.br/ – ONG mantida por funcionários da Caixa Econômica Federal, implantou telecentros com equipamentos doados pelo banco.

www.bb.com.br/appbb/portal/bb/cdn/cfnd/ProgEstDigital.jsp – Estação Digital, programa da Fundação Banco do Brasil.

www.rits.org.br – Coordenadora do projeto de 50 telecentros da Petrobras, com o Instituto de Tecnologia da Informação.