Conexões preciosas
A gestão dos centros de acesso à internet ganha importância não só pelo aumento no número de telecentros, mas pela necessidade de integrá-los para definir políticas públicas.
Fernanda Ângelo
ARede nº 62 setembro de 2010 – Assim como uma empresa que precisa manter sua operação afinada, os pontos de acesso à internet, sejam telecentros, infocentros ou lan houses, têm contas a pagar, precisam gerir recursos humanos e financeiros. Também devem atender a exigências administrativas e fiscais impostas por órgãos governamentais ou parceiros em projetos. Fora isso, precisam conhecer seu público e a comunidade onde se inserem, para melhorar cada vez mais o atendimento. Ou seja, é fundamental, para qualquer ponto de acesso, ter um sistema eficaz de gestão.
E essa necessidade se tornou ainda mais importante diante das recentes estratégias de ampliação dos programas de inclusão digital no país. Não só houve um aumento na quantidade de programas, mas as instituições responsáveis passaram a trabalhar no sentido de integrar as iniciativas – que também começam a ter de prover dados para alimentar mecanismos de avaliação dos projetos, pelo poder público.
Com isso, sejam sistemas de gestão (ERP) ou soluções para o gerenciamento da relação com clientes (CRM), mais e mais softwares de gerência de telecentros aparecem no mercado. Desde produtos desenvolvidos por empresas até sistemas criados pelos próprios projetos governamentais, com suporte da comunidade. Em linhas gerais, existem dois tipos mais comuns de sistemas nessa área: os que fazem a administração interna das unidades, com recursos para controle de acesso, cadastro de usuários e centralização de funções e manutenção das máquinas; e os programas para gestão das redes de telecentros, com funções administrativas e financeiras.
Softwares como o Berimbau Livre, utilizado nos mais de mil Centros Digitais de Cidadania (CDCs) na Bahia; o Acessa Livre, que roda nos 600 telecentros em mais de 500 municípios paulistas; e o Sistema Gestor Paranavegar (SGP), instalado nos 110 infocentros no Paraná, reúnem recursos completos. “O SGP não é um software grande, porém é muito eficaz para coletar os resultados do programa. Como desenvolvedor, sou um entusiasta do projeto, que integra as comunidades mais afastadas”, diz o técnico Jeferson Alberto Rodrigues.
Vanessa Branco, consultora de tecnologia para inclusão digital e uma das desenvolvedoras do Berimbau Livre, explica que é importante o sistema escolhido ser de fácil instalação. O Berimbau, segundo ela, pode ser instalado em 15 minutos, sem a necessidade de profissionais com profundo conhecimento técnico. A especialista destaca ainda a importância de o sistema de gestão ter capacidade para cadastro de usuários. “Assim é possível mapear perfis. E pensar em cursos e treinamentos conforme a demanda”, explica. Um sistema também deve ter recursos que permitam a gestão de equipamentos e das atividades ministradas em cada telecentro, diz Vanessa. No aspecto da administração de recursos do infocentro, o sistema precisa ter funções para gerenciar recursos e projetos
Vanessa também trabalha como voluntária no Rede Brasil Digital, sistema de responsabilidade do Serpro, que assinou um acordo de cooperação técnica com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para o desenvolvimento de um sistema de cadastro de usuários. Assim como existe hoje o Observatório Nacional de Incusão Digital (Onid) para cadastro dos telecentros, a parceria pretende criar um banco de cadastros dos perfis dos usuários, para ser usado por projetos de todo o país. “O usuário precisa estar atrelado a determinadas atividades e telecentros. Existem esforços no sentido de promover o cruzamento desses dados”, revela Vanessa.
A melhor opção ainda não foi encontrada em Belo Horizonte. Em busca do software para gerir os telecentros do BH Digital, Frederico Gonçalves Guimarães, gerente técnico do CRC-BH Digital, acredita que o sistema deve fornecer estatísticas além do simples cadastro. Atento à possibilidade de o governo começar a solicitar essas estatísticas, Guimarães relata: “Por isso estamos atrás de uma solução que antecipe a necessidade”.
O BH Digital já testou o Berimbau, mas o software não permite a coleta de dados estatísticos, como sexo e idade, por exemplo. A outra demanda veio por conta de telecentros com muita procura, em que precisariam limitar o tempo dos usuários. “O programa precisa permitir essa gestão de fluxo de usuários. Até mesmo para ajustar os cursos oferecidos e seus horários de funcionamento”, justifica. O BH Digital também testou o Open Lan House e o Ocara, desenvolvido pelo Banco do Brasil exatamente com base no primeiro. E atualmente analisa o SIGT, usado nos Telecentros de Informações e Negócios do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação (Itai).
“Sabemos que qualquer sistema escolhido precisará passar por ajustes”, observa Guimarães. “Por isso fazemos questão de um software com código livre, no qual possamos fazer modificações. Mesmo que seja pago”, afirma, destacando que a maior preocupação é ter capacidade de saber de fato quem é o usuário dos centros. Guimarães sugere ainda que a melhor escolha não é a de um freeware, pois não permite alterações em seus códigos fontes.
Beatriz Tibiriçá, do Coletivo Digital, coordenou o projeto de implantação dos primeiros telecentros de São Paulo. Ela concorda com Guimarães, mas vai além: “Não se pode ter apenas as informações do usuário. É importante mapear a realidade local de cada telecentro. E aí é preciso criar a cultura de documentar aquilo que cada unidade está fazendo”, afirma. Nesse caso, a necessidade nem é tanto de um sofisticado sistema de gestão, mas de formação e aculturação de usuários e gestores. “Está sendo discutida, em âmbito nacional, a criação de um repositório de conteúdo de formação facilmente acessível a todos os usuários”, revela Beatriz.
No Acessa São Paulo, programa de inclusão digital do Estado de São Paulo, os computadores rodam uma distribuição Linux desenvolvida sobre o Ubuntu. Chamada Acessa Livre, a solução se comunica com o sistema de cadastros on-line, que é, segundo Daniela Matielo, gestora da equipe do Acessa na Escola do Futuro, uma das questões a serem analisadas antes da seleção do software de gestão. “Podemos checar remotamente a ocupação dos telecentros, quantos atendimentos são feitos por dia e como essa eficiência pode ser aprimorada”, enumera Daniela. Também remotamente, destaca a gestora, é importante que o programa permita fazer ajustes e atualizações das estações de trabalho.
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