Capa – Gargalo na conexão



Telecentros sem conexão à internet não são espaços de inclusão digital,
afirma Marie Anne, da UnicenP. “O conceito de inclusão digital tem a
ver com difusão de conhecimento. Não ter uma estrutura tecnológica que
possibilite isso compromete a iniciativa”, diz ela. É preciso, além
disso, que seja uma conexão de banda larga – para que as pessoas não
passem torturantes minutos à espera de que cada página se abra. “O
acesso discado é profundamente desestimulante, além de reforçar a baixa
auto-estima do usuário”, explica Marie Anne.

Conseguir e manter uma conexão em banda larga, no entanto, é uma das
maiores dificuldades dos telecentros. Elas são caras – uma conexão ADSL
na Telefônica custa, em São Paulo, a partir de R$ 55,90, mais R$ 19,90
pelo provedor de acesso, por mês. E nem sempre estão disponíveis. Em
muitas áreas das grandes cidades, não há capacidade para prover serviço
ADSL – de transmissão de dados em alta velocidade na rede telefônica , principalmente em áreas de baixa renda, porque as operadoras não
identificam demanda que justifique o investimento para a oferta do
serviço. Em lugares onde não há ADSL, a alternativa é a TV a cabo. Ou o
satélite. Para usuários comuns, o link de satélite mais barato da
StarOne é de R$ 400,00 o ponto, por mês. A taxa de instalação é de R$ 1
mil a R$ 2 mil e o adaptador, de R$ 400,00 a R$ 500,00. Para pacotes
grandes, de múltiplo uso, há desconto de até 50%.

Para Luiz Antônio Carvalho, da Rits, uma parceria com o poder público é
uma forma de conseguir conexão. O governo federal, por meio do Gesac,
fornece 3,2 mil pontos de conexão via satélite, mas a instalação de 1,2
mil novos pontos está suspensa, porque o projeto passa por uma revisão
(saiba mais). Se seu telecentro estiver perto de
um ponto do Gesac, no entanto, há tecnologia para fazer um “puxadinho
digital”, por meio de Wi-Fi, dessa conexão. A Rits fez isso no Pará,
nos telecentros do Projeto Saúde e Alegria. E os governos estaduais
estão incluindo, em editais de contratação de suas redes, uma
contrapartida social das operadoras (saiba mais).

A dificuldade diminui se você estiver na área de cobertura da Vivax,
operadora de TV a cabo, que dá conexão à internet em banda larga, de
graça, para todas as escolas públicas – federais, estaduais ou
municipais – e também para projetos educacionais ou de inclusão digital
mantidos por ONGs, em sua região. Atualmente, são cerca de 109
instituições incluídas no programa, basicamente no interior de São
Paulo e em Manaus.


A Vivax, infelizmente, é um exceção à regra. “Os provedores de serviços
telefônicos não têm sensibilidade para oferecer conexão à internet com
facilidade às comunidades”, constatou Rodrigo Alvarez, coordenador do
CDI em São Paulo, ao negociar o provimento de banda larga para as EICs.
O CDI criou, em São Paulo, o Fundo Conectividade, para conectar 11 EICs
que ainda não contam com acesso à internet. É uma solução engenhosa:
várias empresas contribuem para o fundo e as escolas se candidatam à
receber a conexão por meio de um projeto no qual explicam como vão
usá-la.

A conexão é um gargalo evidente, reforça Marie Anne, mas a grande
questão é como usar esse acesso para gerar conhecimento para melhorar a
vida das comunidades. “Essa é uma questão interdisciplinar, pode estar
na Educação, na Segurança, no Trabalho ou nas ações de geração de
renda”, explica. O importante é que o projeto se articule com muitas
áreas de interesse. Seja universal.