Áurea lopes
ARede nº50,agosto de 2009 – O sábado estava chuvoso e frio. Nem por isso a galera desanimou: cerca de 150 jovens participaram, durante todo o dia 25 de julho, da 1ª Conferência Nacional Livre Juventude e Comunicação, realizada na Escola Estadual Maximiliano Carvalho, na capital paulista. Depois de rodadas de conversas com ativistas e discussões nos grupos de trabalho, os jovens aprovaram uma Carta com suas propostas para a democratização dos meios de comunicação no país. Essas contribuições vão se juntar às sugestões que serão feitas em outras instâncias de debate da sociedade civil para a Conferência Nacional de Comunicação, prevista para 1º de dezembro, em Brasília.
Garantir que os meios de comunicação contemplem a diversidade da população brasileira é uma das reivindicações da Conferência Livre. “Se quisermos ter diversidade, não podemos esperar a mídia comercial. A gente tem que fazer a nossa mídia. Cada comunidade precisa ter a sua rádio comunitária, o seu jornal, a sua TV comunitária”, alertou a carioca Katarine Flor, da Agência Pulsar de Rádios Comunitárias e integrante do Conselho de Jovens da revista Viração. A revista foi responsável pela organização do evento, em nome de um coletivo de instituições, em parceria com a Fundação Friedrich Ebert/C3 e o Unicef, órgão das Nações Unidas para a Infância e a Juventude.
Os jovens, disse à atenta platéia Eugênio Bucci, professor da Universidade de São Paulo (USP), são os protagonistas do processo de democratização da comunicação. Para ele, o Estado deve “regulamentar, mas não pode conduzir a comunicação”. O jornalista e ex-diretor da Agência Brasil chamou a atenção para a falta de posturas democráticas mesmo nos meios de comunicação públicos: “As emissoras públicas reproduzem os piores vícios das empresas privadas. Nos escândalos que envolvem o Senado, por exemplo, qual foi a contribuição de uma emissora pública para a apuração de fatos importantes? Hoje, as redes sociais levantam as denúncias e a rede comercial, que tem o poder econômico, faz a apuração. Enquanto isso, as emissoras públicas estão acomodadas em oferecer conforto às autoridades”.
Também foi tema da Conferência Livre a questão da propriedade dos meios de comunicação. Bia Barbosa, do Coletivo Intervozes, informou que cerca de 80% dos conteúdos produzidos estão nas mãos de oito grandes grupos de mídia em todo o país. Essa concentração precisa ser combatida – concluíram os jovens no documento final do encontro – para garantir a democratização do acesso aos veículos de comunicação, que “têm papel importante na formação desse público [jovem], influenciando diretamente padrões de comportamento e atitudes”. Outras propostas contidas na Carta da Conferência Livre são: incentivo a adolescentes e jovens para propagar os meios de comunicação alternativos, como forma de driblar os estereótipos exibidos na grande mídia; financiamento público para mídias comunitárias; garantia de acesso a infraestrutura para acesso às tecnologias da informação; iniciativas de fomento à implementação de mídias livres e independentes. Veja o documento completo em www.revistaviracao.org.br/conferencia