Capa – O desafio de fazer um PC para a educação

Representantes do grupo interministerial da Presidência e de outros segmentos da sociedade discutem a proposta do laptop de US$ 100, feita pelo MIT, que pretende quebrar o paradigma do preço dos micros e dar um choque de qualidade na educação.



Representantes do grupo interministerial da
Presidência e de outros segmentos da sociedade discutem a proposta do
laptop de US$ 100, feita pelo MIT, que pretende quebrar o paradigma do
preço dos micros e dar um choque de qualidade na educação.



Confira aqui o que disseram os participantes do debate:
Mesa-redonda



O laptop de US$ 100, proposto pelo
pesquisador Nicholas Negroponte, do Massachusetts Institute of
Technology (MIT), sacudiu o mundo. Assustou a indústria de
computadores, chegou às Nações Unidas – que anunciou seu apoio à
iniciativa, no final de janeiro, no Fórum Econômico Mundial, em Davos –
e está na pauta dos governos da Argentina, China, Egito, Índia, Nigéria
e Tailândia, além do Brasil, onde já provocou reações. Setores
empresariais, universitários e governamentais afinal começam a discutir
alternativas para o uso intensivo do computador na educação. Para
entendê-las, ARede organizou uma mesa-redonda, com representantes do
grupo interministerial da Presidência da República que avalia a
iniciativa do MIT e de outros segmentos da sociedade. O coordenador do
grupo e assessor especial da Presidência, Cezar Alvarez, anunciou que,
“enquanto o laptop não vem”, o governo encaminhou ao orçamento da União
emenda no valor de R$ 260 milhões para projeto que pretende instalar
laboratórios de informática em 6.877 escolas de ensino médio, de modo
que, no final de 2006, todas as cidades brasileiras tenham, pelo menos,
uma escola atendida.

Alvarez também quer montar “um fórum permanente, capaz de oferecer, ao
novo governo a ser eleito em 2006, um projeto estratégico de inclusão
digital”. Os primeiros protótipos do laptop do MIT estão previstos para
o terceiro ou quarto trimestre. Por isso, diz ele, o grupo de trabalho
está estendendo os seus prazos e vai passar ao desenvolvimento de
subprojetos, de forma associada, e ampliar os debates.

Do que se trata, afinal, o laptop de US$ 100? É um dos elementos do One
Laptop Per Child
(OLPC), um amplo projeto educacional do MIT, que visa
radicalizar e massificar o uso do computador nas escolas, transformando
os processos de ensino e aprendizado. Um equipamento tão mais barato,
contudo, ameaça quebrar o modelo da indústria de computadores, que, em
20 anos, não conseguiu reduzir os preços dos PCs, nem evoluir para
atender fatias de menor renda da população. A adesão do governo
brasileiro se daria pela encomenda de 1 milhão desses laptops a uma ONG
(também chamada OLPC), a ser formada pelo MIT. Para a sua fabricação,
foi selecionada a Quanta, de Taiwan, na China. Outros apoiadores do
projeto são AMD, Red Hat, Brighstar, Nortel, Google e News Corp.

No Brasil, há quem defenda a oferta do equipamento atrelado à prestação
de serviços, e há quem reclame do governo a presença nacional
produzindo partes e peças dos laptops, ou comprando outros modelos de
equipamentos, projetados aqui mesmo. Além daqueles que apontam maiores
oportunidades no desenvolvimento de software livre e de portais e
conteúdos educacionais – como faz, entre outros, o pesquisador do MIT,
David Cavallo, de mudança para o Brasil.

O perigo de condicionar a adesão brasileira aos interesses industriais,
no entanto, estaria em impedir uma ação de curto prazo, diz Roseli
Lopes, professora da Escola Politécnica. Ela aposta na proposta do MIT
para dar um choque de qualidade na educação brasileira. Adverte, ainda,
que, ao vincular o dispositivo a um serviço, os prestadores desses
serviços precisam ser independentes das operadoras ou dos fornecedores
dos equipamentos. Quem deve produzir os conteúdos são professores,
alunos e pessoas envolvidas num ecossistema focado na inovação em
educação, afirma.

A Samurai, do empresário Carlos Rocha, o Centro de Pesquisas Avançadas
Wernher von Braun, a HP e outras empresas insistem, cada uma a seu
modo, na idéia do laptop como acessório de um serviço. A definição de
serviço, no entanto, varia, podendo envolver comunicação, suporte e
operação de infra-estrutura de TI, geração de conteúdos ou treinamento
de professores. Todos buscam um modelo de negócios equivalente ao do
celular pré-pago – em que os custos dos assinantes são subsidiados pela
tarifa de uso da rede celular, paga pela telefonia fixa. Ou seja, que
torne o uso do computador em educação auto-sustentável, independente de
recursos públicos.

A Samurai oferece o programa Rede Escola Integrada, já experimental em
escolas de São Paulo (parceria com Bit Company, Siemens e TVA-Abril) e
Brasília. É um ambiente com aplicações para edu­cação e área de
colaboração, 35 a 40 computadores em sala especial – um por aluno –,
usados em todas as disciplinas; além de um outro espaço, aberto à
comunidade com até 16 terminais e atividades cobradas. A prestação de
serviço, nesse caso, inclui formação de professores, suporte e operação
da infra-estrutura, baseada em equipamentos reciclados e Linux. Os
custos seriam cobertos pelo uso dos serviços digitais comuni­tários,
pré-pagos (cerca de R$ 39,90 por mês), pu­blicidade e patrocínio.
Segundo Carlos Rocha, o fato de o serviço exigir uma ativação (a
conexão à rede) viria incorporar os interesses das operadoras de
telefonia no atendimento desse público.

Variante dessa associação com as telecomunicações é o PIC, lançado pela
Telefônica. Trabalha ligado a um provedor de web e é dirigido às
classes C e D, com software proprietário, e sem foco na educação. O
Centro de Pesquisas von Braun também desenvolve, com a Semp Toshiba, um
computador para conexão à internet, cujo grande diferencial seria
identificar, remotamente, não apenas o usuário, como os serviços que
ele acessa, como VoIP. “Você não compra a máquina, compra a conexão”,
explica Dario Sassi Thober, diretor do von Braun. As especificações
desse notebook, batizado de Tupimirim, serão liberadas até meados do
ano, e tem custo estimado entre US$ 180 e US$ 250.

Da mesa-redonda de ARede, participam David Cavallo, do Media Lab/MIT,
Cezar Alvarez, da Presidência, Roseli Lopes, da Poli/USP, Marcelo
Zuffo, do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI/USP), Victor
Mammana, do CenPRA – os três integrantes do grupo de trabalho
interministerial, Hugo Valério, diretor da HP Brasil, Mário Ripper,
consultor, Rodrigo Abreu, presidente da Nortel, e Samuel Lago, diretor
de portais educacionais da Positivo.

Conheça o Projeto Rede de Aprendizagem, que também terá participação do MIT: PC conectado (mesmo), em Birigüi.