Capa – O saber dos griôs

Mestres do saber popular podem ganhar bolsa, no valor de um salário mínimo. Só Pontos de Cultura vão participar da seleção.



Mestres do saber popular podem ganhar bolsa, no valor de um salário mínimo. Só Pontos de Cultura vão participar da seleção.



No Sudão e em parte da zona guineense, poeta, cantor e músico ambulante
pertencente a uma casta especial que, além de cronista e detentor da
tradição oral do grupo, freqüentemente exerce atribuições
mágico-religiosas; músico ambulante da África Negra. A definição do
“Dicionário Houaiss” chega bem perto do que o Ministério da Cultura
pretende valorizar com seu recém-lançado projeto Griô. A idéia é ajudar
financeiramente os griôs brasileiros, não apenas para que eles possam
continuar difundindo seu saber, mas também como um reconhecimento por
sua vida inteira de serviços prestados à cultura nacional.

É gente como Márcio, um contador de histórias, músico e poeta de idade
avançada, que caminha pelos vilarejos do sertão da Bahia aprendendo e
ensinando cultura; ou dona Severiana, que, em
A arte de contar histórias
preserva o patrimônio
cultural dos povos.
Trucanhém, interior de
Pernambuco, há décadas dá forma ao barro, criando bichos, santos e
figuras que contam a sua história e a de sua comunidade. Ou ainda dona
Noemiza, a mais conhecida paneleira do Vale do Jequitinhonha, que,
apesar do reconhecimento artístico, vive isolada e em condições
financeiras difíceis.

O MinC pretende abrir um edital fechado entre os Pontos de Cultura do
Brasil todo, para que eles indiquem os griôs de sua região. Após
seleção do Ministério, esses mestres receberiam um salário mínimo por
mês, por um tempo determinado. A intenção é que, num segundo momento, o
Ministério da Previdência participe do projeto, e essa bolsa seja
vitalícia. O lançamento do projeto foi na Teia e, segundo o MinC, só
não começou ainda porque, até a data o evento (começo de abril), o
orçamento ainda não tinha sido votado. Mas, com a recente votação (no
final do mês), a intenção declarada do ministério é colocá-lo em
prática o quanto antes, ainda este ano.


Entenda melhor

Griô é o abrasileiramento da palavra francesa griot, usada por jovens
africanos que foram estudar em universidades francesas. Movidos pela

preocupação com a preservação de seus contadores de histórias, que
carregam consigo a tradição oral, consolidaram um conceito e uma
atividade secular entre seu povo. São pessoas que, por diversas razões,
circunstâncias e habilidades, acumularam conhecimentos que pertencem às
suas comunidades e que podem ser entendidos como patrimônio imaterial.
São práticas, representações, expressões e técnicas, junto com os
instrumentos, objetos, artefatos e lugares associados – que as
comunidades reconhecem como parte de seu patrimônio cultural. Um
patrimônio transmitido de geração para geração.

Aproximando-se do Programa “Living Human Treasures” (Tesouros Humanos
Vivos), da Unesco, a Ação Griô – Mestres dos Saberes quer preservar
esses bens, incentivando a transmissão desses conhecimentos acumulados,
das habilidades. Trata-se de um apoio para evitar o que os jovens
africanos que cunharam o termo mais temiam: a morte de um griot
representa um incêndio de uma biblioteca.