Capa – Telefonia pela rede nos pontos de presença

Nova plataforma tecnológica vai garantir qualidade na transmissão de voz, rádio ou TV pela rede.


Nova plataforma tecnológica vai garantir qualidade na transmissão de voz,rádio ou TV pela rede.

A grande novidade do Gesac para este ano vai chegar no segundo
semestre, logo depois que a Vicom-Comsat, a empresa responsável pela
prestação do serviço de comunicação via satélite, substituir a
plataforma tecnológica alugada da Telespazio, por uma plataforma
própria com a tecnologia DVB-RCS (Digital Video Broadcasting – Return
Channel via Satellite), que permite a prestação, com qualidade, de
novos serviços como voz sobre IP (Internet Protocol), além de rádio
sobre IP e TV sobre IP, já oferecidos na plataforma atual.

A partir de agosto, relata Antônio Albuquerque Neto, diretor de
inclusão digital do Ministério das Comunicações, todos os pontos de
presença do Gesac terão telefone pela internet, ligado por suíte a um
aparelho de telefone digital comum, que toca, tem número e poderá ser
usado normalmente. Dos 4,4 mil pontos, mil terão o aparelho e 3,4 mil
usarão o softfone, o telefone do micro. O serviço será gratuito. Já o
canal multicast do Gesac tem banda multimídia de 2 Mb, que será
utilizada para a TV. Albuquerque já está fazendo contatos e espera
formalizar convênios com a Radiobrás, a TV Cultura/SP e a TV
Educativa/RJ para que forneçam conteúdo de cidadania e de capacitação
na programação. Outro convênio será com o Ministério da Cultura.

“Estamos conversando também com a Unicamp para um programa de educação
e saúde a distância”, informa. Além da TV, o Gesac tem 20 canais de
rádio estéreo, que podem gerar a grade da comunidade. Só quem receberá
a programação das TVs e rádio sobre IP, inicialmente, serão os pontos
de presença do Gesac, mas o som e imagens ficarão armazenadas de forma
a serem acessadas por qualquer pessoa que entrar no portal IDBrasil, do
Gesac.

A prestação de multisserviços, que vão muito além da conexão à internet
em banda larga, endereço eletrônico para usuários e hospedagem de
homepages, faz do Gesac, na definição de Albuquerque, um programa único
e que é “a maior plataforma de inclusão digital da América Latina”.
Outra característica que torna o Gesac especial, diz ele, é o fato de
ser um programa de programas, capaz de juntar os programas já
existentes e colocá-los em rede potencializando as iniciativas locais.

Nova concepção
Da sua concepção inicial, no governo anterior, quando foi pensado como
quiosques eletrônicos, com uma única máquina, para acesso gratuito
apenas a conteúdos .gov e educacionais, a uma velocidade de 33 kbps, o
Gesac avançou muito. O grande mérito do atual governo, na avaliação não
só de Albuquerque, como de especialistas em inclusão digital, foi ter
revisto o projeto inicial: o foco de atendimento mudou, priorizando
escolas com laboratórios de informática sem conexão à internet, em
primeiro lugar, unidades militares de fronteira (mas não só) e projetos
localizados em regiões de difícil acesso. Além disso, pelo mesmo valor
contratado à época (R$ 78 milhões), a velocidade da conexão foi
ampliada para 256 kbps, o período de cobertura do contrato estendido de
16 para 22 meses, a capacidade alocada no satélite passou para 50 MHz e
o software livre foi adotado como plataforma. Mais ferramentas de
controle e serviços foram exigidas no datacenter.

Na nova licitação para a prestação do serviço, realizada em 2003, com
validade a partir de janeiro de 2004, o número de pontos foi expandido
de 3,2 mil para 4,2 mil, a capacidade satelital subiu para 92 MHz, o
leque de serviços foi ampliado e exigiu-se dos candidatos o uso de
infra-estrutura com protocolo aberto, que faz com que o governo deixe
de ser refém de um único fornecedor. A troca de prestador de serviço –
a primeira licitação foi vencida pela Gilat e a segunda pela Vicom-
Comsat – não se deu sem traumas. O serviço ficou interrompido entre 3
de janeiro e 11 de fevereiro, até que fosse publicada a Lei de
Diretrizes Orçamentárias e o contrato pudesse ser assinado. O contrato,
no valor de R$ 114,7 milhões (R$ 42 milhões este ano), envolve, desta
vez, formalmente, cursos de capacitação dos gestores dos pontos de
presença. São 20 cursos de capacitação por ano, de 40 horas, cada um
deles para 30 gestores que, por sua vez, vão replicar seu conhecimento
para a ponta.

Chamada pública
Dos 1,2 mil novos pontos, 600 serão “licitados”. Ou seja, será feita
uma chamada pública para os candidatos, do Norte e Nordeste do país, a
um ponto de presença Gesac. E serão selecionados, segundo Albuquerque,
os melhores projetos que atenderem às condições estabelecidas e
estejam, prioritariamente, localizados em regiões sem infra-estrutura
de rede de telecomunicações. Ele explica, contudo, que mesmo pontos
localizados onde há infra-estrutura poderão ser atendidos se o projeto
for muito bom.

Mas faz sentido gastar R$ 890,00 (o custo mensal por ponto) por um
ponto que poderia ser atendido por uma outra conexão, ADSL, por
exemplo, muito mais barata? Segundo o diretor de inclusão digital do
Minicom, é preciso lembrar que o Gesac oferece muito mais serviços do
que uma conexão ADSL. Então, dependendo das características do projeto,
ele diz que o investimento se justifica. Quanto aos outros 600 pontos,
não havia, no iníco de junho, uma definição sobre o seu destino. “A
localização desses pontos ainda está sendo avaliada”, informa
Albuquerque.

Embora ele reconheça que ainda há muito a ser feito para que os pontos
de presença Gesac sejam um canal de comunicação para toda a comunidade
onde estão instalados, Albuquerque, que se considera um otimista, diz
que passos importantes já foram dados, mesmo em relação às escolas. Um
exemplo de como o programa caminha é que o uso da capacidade alocada no
satélite passou de 8 MHz, no início do programa – o primeiro ponto de
presença foi instalado em Goiás, em junho de 2003 —, para 75 MHz
atuais. E a demanda por capacidade vai continuar aumentando, prevê.
“Logo vamos ter que ampliar a capacidade alocada no transponder para
120 MHz.”

Produtividade medida
O parceiro Gesac não assina um contrato de obrigações ao ser
contemplando com uma conexão. Mas, segundo Albuquerque, há uma série de
metas que estão pactuadas e publicadas no portal IDBrasil. Como ter um
administrador com capacidade, implantar um comitê local de inclusão
digital, desenvolver o comércio
eletrônico no caso de projetos de
arranjo produtivo, colocar notícias no portal, dar endereços
eletrônicos para a comunidade, encontrar outras comunidades através do
serviço RAU-TU do portal, etc. Por meio do centro de gerenciamento, a
coordenadoria do Gesac tem condições de gerenciar cada ponto, saber seu
movimento 24 horas por dia, todos os dias por semana. Albuquerque não
gosta de falar em punição mas, no momento, o Gesac está transferindo
240 pontos que estavam subutilizados para o programa Pontos de Cultura
do Ministério da Cultura. “Como esse é um recurso público de grande
importância para a sociedade, precisa ser bem utilizado. Deve ter
efeito multiplicador na comunidade”, resume ele.

O que acontecerá com os futuros 4,4 mil pontos de presença, quando
encerrar o atual contrato, não é motivo de preocupação para
Albuquerque. “Esse é um movimento sem volta. E o cenário, em julho de
2007, será completamente diferente, com muito mais oferta de
infra-estrutura pelas operadoras, preços muito mais baixos. Nesse
horizonte, esses 4,4 mil pontos não são nada. Pelos cálculos do Gesac,
o Brasil precisaria de 300 mil pontos.” (Fátima Xavier e Lia Ribeiro
Dias)