Com o mundo nas mãos
Formação avançada em TI prepara cidadãos para o mercado de trabalho e estimula a criação de novos negócios
Igor Ojeda
ARede nº 86 – novembro de 2012
“ANTES EU SÓ conseguia ligar o computador para jogar. Agora é diferente: tomei consciência de que tenho o mundo nas mãos e sou capaz de desvendá-lo”. A frase é da professora Indiana Maria Soares de França, de 61 anos. Há alguns meses, ela poderia ser considerada uma analfabeta digital. Mas, graças à Universidade do Trabalho Digital, hoje planeja voos mais altos: “Por meio da internet, posso buscar fundamentos necessários para minha profissão. Pelo computador, posso editar planejamentos e atividades escolares e até renovar a maneira de organizar os gastos domésticos. Tenho o mundo sem sair da minha casa”.
Idealizada pela Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará (Secitece) e inaugurada em maio deste ano, a Universidade do Trabalho Digital (UTD) é um centro de formação na área de Tecnologia da Informação (TI) que tem como objetivo a qualificação para o mercado de trabalho e para a abertura de negócios. “O foco é o desenvolvimento empreendedor da economia criativa pelo uso intensivo da tecnologia da informação e comunicação”, explica René Teixeira Barreira, responsável pela pasta.
Victor Vila Real Lima, de 18 anos, estudante do ensino médio em Fortaleza, também viu a vida melhorar com o curso. Conseguiu emprego de operador de banco de dados e trabalha com professores da Universidade Estadual do Ceará transpondo aulas para slides. “Me sinto reconhecido. Além do conhecimento que adquiri na UTD, aprendi a ter responsabilidade e compromisso com a minha vida profissional”, diz.
A UTD tem dois níveis de formação: iniciação digital e qualificação avançada. O primeiro tem como público-alvo os comerciários que trabalham no entorno do centro de Fortaleza. “O curso de iniciação digital capacita os participantes em software livre, contemplando os conteúdos básicos do sistema operacional Linux, do aplicativo BrOffice e da internet”, esclarece Ticiana Gonçalves Vieira, coordenadora da universidade.
Barreira explica que, além de a adoção do soft-
ware livre ser uma diretriz do governo cearense, ao utilizá-lo, o acesso ao conhecimento se torna mais democrático, além de reduzir custos para a implantação dos laboratórios: “Ficam ainda mais seguros e podemos mostrar uma nova possibilidade de aprendizado para os jovens e adultos”.
Indiana, que foi informada e incentivada a fazer o curso pelo filho, ficou bastante satisfeita com o método pedagógico. “Passar informações para iniciantes é difícil, mas o meu orientador conseguiu, com uma linguagem clara e acessível e grande dose de paciência, mostrar que aquilo que estávamos aprendendo era ferramenta necessária para a vida”, diz ela. Um dos professores de iniciação digital da UTD é Kelber Maia Cavalcante, de 51 anos. “Procuramos o diálogo aberto e simples para desmistificar temas mais técnicos, usando palavras compreensíveis àqueles que estão tendo seu primeiro contato com o computador”, conta.
Cavalcante começou a trabalhar na UTD após uma parceria entre a Secitece e o Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Centec, organização social vinculada ao governo do estado), onde há 15 anos ministra diversas disciplinas nas áreas de informática e gestão. Ele informa que o nível básico do curso procura despertar no aluno a possibilidade de aplicar os conhecimentos adquiridos no seu desenvolvimento profissional: “Muitos têm seu primeiro contato com a informática nos nossos cursos. Trabalhamos desde as habilidades motoras, como o uso do teclado e do mouse, até o acesso à internet, capacitando-os para um melhor domínio do mundo digital.”
Já a modalidade de qualificação avançada em TI tem como proposta complementar os estudos e capacitar para o trabalho. Nesse nível, são ministrados cinco cursos – PHP, Design Gráfico, Java, Linux Avançado e Conectividade e Segurança da Informação –, destinados principalmente a alunos vindos do Projeto E-Jovem, que oferece formação em TI para concluintes do ensino médio e egressos da rede pública do estado. “Os cursos são importantes porque aprendemos algo que muito nos é cobrado hoje em dia no mercado. Gosto também da forma divertida que o meu professor ensinou, interagindo e tornando a aula bem mais interessante, além de incentivar a todos a participar”, opina Victor Lima, que diz ter aprendido, entre outras coisas, a montar planilhas e gráficos, fazer edições de texto e criar slides.
O secretário de Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará conta que tanto os alunos de iniciação digital quanto de qualificação avançada recebem formação em empreendedorismo, para potencializar a formação profissional e estimular o comportamento empreendedor, fazendo com que novos conhecimentos cheguem à sociedade na forma de produtos e serviços de qualidade. Ele explica que um dos grandes desafios do estado hoje é qualificar e capacitar mão de obra em todos os níveis, inclusive para “projetos estruturantes, a exemplo da refinaria e da siderúrgica que estão sendo implantadas no estado, assim como para o agronegócio, cultura, comércio e serviços”.