Prêmio ARede 2008 – Categoria Especial Educação – Saiba mais

Programa da Fundação Telefônica coloca professores e alunos na vanguarda da tecnologia educacional

Programa da Fundação Telefônica coloca professores e alunos na vanguarda da tecnologia educacional

ARede nº42 novembro 2008 – O portal trabalha com ferramentas colaborativas, envolvendo várias escolas.Quando o portal do EducaRede entrou no ar no Brasil, em 2002, somente 11,43% das 188 mil escolas públicas então existentes no país dispunham de laboratórios de informática, segundo dados do Ministério da Educação. O Google ainda não era onipresente, o Orkut não existia, não se encontrava uma lan house em cada esquina e os professores resistiam ao uso de computadores como ferramenta de ensino. Pioneiro, o portal educacional (www.educarede.org.br) foi idealizado com o objetivo de melhorar a qualidade da educação, estimular a integração da internet ao cotidiano da escola pública e possibilitar a inclusão digital dos estudantes.

Naquela época, a idéia primeira foi criar um repositório de conteúdos. Hoje, sucesso em todo o país, o portal está na vanguarda da tecnologia educacional e se destaca pelos ambientes interativos e de participação direta, constituindo um forte apoio ao professor da rede pública. E a contribuição brasileira foi fundamental para que o EducaRede, presente em outros seis países onde o grupo Telefónica atua, concentrasse seu foco no ensino público.

Uma parceria da Fundação Telefônica com o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), a Fundação Vanzolini e o Terra, o portal tem 148 mil usuários cadastrados, com participação regular nos projetos que desenvolve (80% de escolas públicas) e 1,1 milhão de páginas vistas por mês. Um dos seus maiores méritos é acompanhar os avanços da sociedade digital. Seis anos depois de lançado o EducaRede, as ferramentas tornaram-se colaborativas — blogs, chats, comunidades. As secretarias municipais e estaduais de ensino implantaram núcleos dedicados à tecnologia da informação, mesmo que nem todas as escolas tenham laboratórios ou conexão. Os professores têm curiosidade sobre os recursos adequados à sala de aula. O próprio Prêmio ARede 2008 – concedido ao EducaRede, na categoria Especial Educação — é um sintoma do aumento da consciência dos benefícios de tecnologias da informação no aprendizado: a maior parte dos projetos inscritos, este ano, foi para a categoria especial Educação. Os alunos também têm mais contato com tecnologia, embora a maioria não tenha computadores.

A experiência acumulada pelo EducaRede, tanto internamente quanto na relação com seus parceiros — escolas, secretarias de Educação, professores, alunos — é outro patrimônio do programa. Ao longo do tempo, seus coordenadores perceberam que o volume de informações disponíveis online — de boa e má qualidade — era grande, e que filtrá-las e apontar conteúdos de qualidade seria mais útil aos usuários. Valorizar a informação, contextualizá-la, entendê-la, torná-la menos descartável é muito relevante, a partir do momento em que os dados estão disponíveis, na internet, como nunca antes na história da humanidade.

Com a popularização das ferramentas colaborativas, a proposta de projetos envolvendo professores e alunos de várias escolas e até de países distintos se tornou uma das principais atividades do EducaRede. Para a realização dos projetos colaborativos, foram desenvolvidas ferramentas online como Oficina de Criação de Textos, Fórum, Chat, Blog, Galeria para publicação de textos e imagens e Comunidades Virtuais de aprendizagem.

Tecnologia, para quê?

Os alunos são estimulados a incluir suas realidades sociais nos conteúdos estudadosAos poucos, o EducaRede foi sedimentando, também, o conceito de letramento digital. Na área da Pedagogia, letramento é um processo que vai além da alfabetização, ou da capacidade de decodificar o sistema alfabético, e incorpora a compreensão dos usos sociais da escrita. Letramento digital, portanto, significa não apenas saber como usar as tecnologias digitais; mas entrar em contato com essas tecnologias de maneira significativa e entender seus usos e possibilidades na vida social.

Em termos práticos, o Programa EducaRede pretende que seus participantes realizem três grandes aprendizagens: pesquisar na internet, publicar na internet e comunicar-se digitalmente, para incorporar o uso dessas tecnologias ao cotidiano. A participação nos projetos do portal torna os alunos protagonistas do próprio aprendizado e construtores de seu conhecimento, de acordo com sua disponibilidade e ritmo. Por isso, a matriz de monitoramento criada pelo EducaRede avalia a capacidade dos alunos de, usando os instrumentos e dinâmicas propostas pelo portal, desenvolver as três competências: pesquisar, publicar, se comunicar.

Em 2004, o programa realizou o projeto As Coisas Boas da Minha Terra, com cerca de 800 escolas paulistas, em parceria com a Secretaria Estadual da Educação de São Paulo. O tema foi o resgate da história e da cultura dos municípios paulistas. O projeto inaugurou o ambiente das Comunidades Virtuais no portal. Em 2005 e em 2006, os participantes foram convidados a desenvolver ações para a melhoria da realidade das escolas e de seu entorno. O nome foi adaptado para Coisas Boas para Minha Terra. A partir de 2007, o tema foi dividido em duas linhas: Coisas Boas Para Minha Terra e Coisas Boas Da Minha Terra. As escolas escolheram o tema preferido e fizeram intercâmbios com escolas do EducaRede da Argentina.

Na Escola Estadual São Paulo da Cruz, em Osasco (SP), os alunos e a professora Marluce Gonçalves Dias Julião andaram pelo bairro atrás de coisas boas que poderiam entrar no projeto. A praça vizinha à escola, abandonada, tornou-se tema de pesquisa. Descobriram que se chamava Largo do Salgado porque o primeiro proprietário das casas de comércio no local era um português com esse nome. Localizaram o antigo morador, resgataram a história do lugar e entregaram ao secretário municipal do Meio Ambiente um projeto para reforma e recuperação do largo. “Hoje a praça é da comunidade”, conta a professora.

Este é um dos depoimentos do Conexões da Vida, editado pela Fundação Telefônica para contar as experiências de professores, alunos e coordenadores escolares com vários projetos: Coisas Boas, Minha Terra, Rede de Capacitação, Memórias em Rede e dos ambientes interativos do portal. Duas dezenas de narrativas curtas sobre a prazerosa experiência de ensinar e aprender. A leitura de cada uma delas diz mais a respeito do EducaRede do que os impressionantes números do programa, nesses seis anos: 11 mil professores e 84 mil alunos participantes. Mesmo com os obstáculos que às vezes precisam ser vencidos no cotidiano das escolas.

Gente diferente

Onde não há internet, professores e suas turmas se deslocam até pontos
de acesso
Um exemplo: onde não há internet, professores e alunos se deslocam para pontos de acesso à rede, sem poupar esforços para fazer seus projetos. “A festa de São João que temos aqui é muito diferente de outros lugares do Brasil. Muda tudo: a comida, a música, o jeito da festa”, escreveram Bruno Benzano Queirós e Breno Benzano Queirós, usando computadores em casas de amigos ou em lan houses de Salvador (BA). “O medo de o aluno saber mais que o professor deu lugar à troca e ao crescimento mútuo. É preciso dar aos estudantes seu lugar de saber”, conta Maria Thereza Moraes Parellada, formadora do núcleo de tecnologia educacional da Secretaria de Educação de Assis (SP). “Também me correspondo por e-mail com um garoto chamado Caio, que mora no Sul. O mais legal da internet é descobrir, a cada dia, uma ferramenta nova e gente diferente”, diz Erique da Costa Fonseca, aluno do ensino médio em Santana (AP).

A transversalidade é um dos grandes atrativos dos projetos, explica Sérgio Mindlin, presidente da Fundação Telefônica. Os temas não se limitam ao conteúdo curricular e a matérias específicas. São elaborados de tal maneira que os alunos incluam seu próprio universo e seus interesse nas pesquisas. O aprendizado do trabalho conjunto é outra conquista importante, acrescenta ele, e um bom exemplo disso são as parcerias com as secretarias de Educação para o desenvolvimento dos projetos. Também isso mudou, ao longo dos anos. “No início, havia poucas iniciativas neste segmento. Hoje, as secretarias recebem centenas de projetos de uso de tecnologias digitais em educação, grande parte como pacotes fechados. Mas já têm experiência bastante para demandar projetos adequados a cada local e participar de seu desenho”.

Em São Paulo, a Secretaria Municipal de Educação propôs, em 2006, a elaboração de um Caderno de Orientações Didáticas para os Professores Orientadores das Salas de Informática (POIEs), função específica da rede paulistana. A meta era valorizar o trabalho desses professores e elaborar, com eles, seqüências didáticas de trabalho com internet em sala de aula, para serem disseminadas. Os professores participaram de encontros presenciais de formação e atividades à distância na Comunidade Virtual do EducaRede. O caderno se tornou um material oficial da secretaria na capacitação dos professores.

Um dos legados mais importantes do programa permanece válido ao longo dos anos: a Fundação Telefônica criou, com recursos privados, um espaço público dedicado à educação. “Há muitos portais educativos, mas este é um espaço democrático, onde qualquer um entra sem necessidade de contrapartidas comerciais”, constata Mindlin. Cerca de R$ 10 milhões foram investidos no EducaRede até 2008 e o programa conta com um investimento anual de R$ 1,5 milhão. O portal EducaRede precisa ser mantido ao longo do tempo, evoluir, interagir com os usuários. “Se ficar estático, morre”, constata Mindlin. É um modelo de investimento social que demanda um compromisso sem tempo para terminar, e isso também o distingue de outros projetos.