Aplicações voltadas à inclusão e ao desenvolvimento social ainda são poucas. Mas funcionam.
Para José Arildo, 30, motoboy, o
celular é tudo . Pesquisa Canal
Motoboy tenta entender por que.
A revista ARede identificou 14 iniciativas pelo país que usam o celular
em aplicações sociais ou como ferramenta de inclusão digital.
Massificar esse aproveitamento, contudo, requer, segundo especialistas,
reduzir o custo dos serviços e acordar a demanda nesse segmento —
representada por formuladores de políticas ou prestadores de serviços —
para fomentar a criação de serviços de interesse público no portifólio
dos desenvolvedores. “É muito barato comprar um aparelho celular no
Brasil, mas extremamente caro usá-lo”, observa François Bar, professor
de Comunicação da Universidade da Califórnia do Sul, nos Estados
Unidos.
Para saber se o celular pode ser meio de inclusão digital,
pesquisa será realizada durante cerca de um ano e meio (até meados do
ano que vem) na América Latina, numa iniciativa financiada pela
Fundação Telefónica da Espanha, em convênio com a Universidade Aberta
da Catalunha e Universidade da Califórnia do Sul. A coordenação geral é
do sociólogo espanhol Manuel Castells. No Brasil, sob a coordenação do
professor François, o estudo vai envolver duas análises. Uma parte, em
parceria com o Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e Tecnológicos
(Ipso); e outra, com o grupo de pesquisa Cidade do Conhecimento, da
USP.
O trabalho com o Ipso, de acordo com seu presidente, Carlos Seabra,
pretende identificar e analisar aplicações com celulares associadas a
telecentros, e também focar seis casos específicos de uso social
do aparelho móvel, também em São Paulo. Já a Cidade do Conhecimento, da
USP, vai acompanhar o celular na vida dos motoboys da cidade (veja o
quadro de aplicações).
Outro levantamento, realizado em 2007, pelo Instituto do Congresso de
Informática Pública (Conip), buscou identificar fatores positivos e
obstáculos no caminho de aplicativos sociais em tecnologias móveis na
esfera do governo. Com base no resultado desse levantamento, Vagner
Diniz, presidente do Instituto, afirma que o sucesso de um projeto de
serviços públicos em dispositivos móveis depende de seu foco. “Se o
alvo for um serviço de interesse de cidadão [e não do prestador de
serviço], as chances são bem maiores”.
Vagner diz que diversas iniciativas são motivadas por interesses do
governo, de redução de custos, por exemplo. Para fomentar essas
aplicações focadas no usuário, ele defende incentivos para oferta de
serviços. “Iniciativas que existem são isoladas e não refletem uma
politica pública”. Entre os obstáculos, ele aponta os custos dos
serviços como fator principal. “As operadoras ainda não perceberam a
possibilidade de alavancar novos negócios”.
Na opinião de Ricardo Kobashi, coordenador de Portais da Imprensa
Oficial do Governo de São Paulo, o uso de tecnologias móveis no governo
ainda está engatinhando, mas ele também responsabiliza empresas do
setor. “Como aconteceu no segmento de entretenimento, as operadoras e
os desenvolvedores, antes de cobrarem ações do governo em tecnologias
móveis, precisam mostrar como elas funcionam. Não há, até o momento,
nenhum empenho no desenvolvimento de mercado e de conteúdo para áreas
públicas de governo eletrônico sobre plataforma móvel”, diz ele.
• Glicoline
Em parceria com o Hospital das Clinicas (HC), da Faculdade de Medicina
da USP, a desenvolvedora Quasar Telemedicina criou a Gliconline, uma
solução de controle de glicemia a distancia. Desde 2006, os médicos do
Núcleo de Excelência no Atendimento ao Diabético do HC cadastram
pacientes com diabetes num sistema que pode ser consultado pelo usuário
que precisa saber a quantidade de insulina de que necessita. Com o
cadastro de prontuários eletrônicos e a transferência das tabelas
nutricionais e fórmulas de cálculo para um sistema, informações podem
ser obtidas por telefone fixo ou dispositivos móveis com acesso à
internet. Cerca de cem pacientes do HC acessam o Gliconline
regularmente. A Quasar foi criada em 2004 pelo Centro Incubador de
Empresas Tecnológicas, a partir de convênio entre o governo de São
Paulo, o Sebrae-SP, a Comissão Nacional de Energia Nuclear, USP, Ipen,
IPT e Ministério da Ciência e Tecnologia.
www.gliconline.com.br
www.quasartm.com.br
www.hcnet.usp.br – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
www.ciete.org.br
• Bagagem das Mulheres da Floresta
Dia 15 de maio, 40 celulares seriam distribuídos a mulheres das
reservas extrativistas da Amazônia, que fazem acompanhamento de saúde
em 18 reservas, atendendo cerca de 30 mil famílias. Patrocinada pelo
Instituto Oi Futuro, e sob a coordenação do Conselho Nacional dos
Seringueiros, a iniciativa quer formar uma base de informações de saúde
e garantir apoio remoto, por meio de uma central 0800 (de antena
rural), com três linhas para atendimento.
www.extrativismo.org.br
http://cnsbelem.wordpress.com
• Defesa Pública no celular
Clientes da Vivo recebem gratuitamente alertas da Defesa Pública do
Estado do Rio de Janeiro. SMS trazem notícias sobre temas como
trânsito, saúde, etc. Parceria com a Secretaria de Saúde, o serviço foi
lançado com campanha de combate à dengue. Segundo o diretor da Vivo,
Alfredo Sirufo, a empresa já fez outras campanhas com torpedos. “No
início de março, a Vivo alcançou 1 milhão de mensagens enviadas, nos
últimos 6 meses, dentro dessas ações”, diz.
www.vivo.com.br/institutovivo/home.php
• Minas Comunica
Após concluir a implantação do Programa de Universalização do Acesso a
Serviços de Telecomunicação de Minas Gerais (Minas Comunica) —
cobertura obrigatória para 127 municípios —, a Claro doou 254
smartphones para a Secretaria de Estado de Defesa Social, que repassará
dois aparelhos para cada município, com ClaroChip e créditos até
dezembro de 2008. Os equipamentos, com acesso à internet, serão usados
por agentes de segurança.
www.seds.mg.gov.br
• Telemig Celular Guia.mov
Desde de 2007, jovens de Pontos de Cultura de Minas Gerais participam
do projeto Telemig Celular Guia.mov (em breve, deve passar a se chamar
Vivo Guia.mov). O projeto estimula a produção de filmes de um minuto
feitos em celular, inspirados em obras do patrimônio histórico de
cidades mineiras. Tem vários parceiros, entre eles o Iphan, o PdC
Fábrica do Futuro e a Base7 Projetos Culturais. A produção está
disponível gratuitamente para clientes da Telemig no acesso *8080, ou
pelo site da operadora, e, em breve, em quiosques multimídia em escolas
e espaços culturais nas cidades.
www.institutotelemigcelular.org.br
• Central de Empregos
A Secretaria do Trabalho, Emprego e Promoção Social do Paraná envia SMS
para trabalhadores cadastrados, que têm interesse em vagas de emprego.
www.sine.pr.gov.br/setp/
• Estágio
No Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), desde 2002, é possível
agendar entrevistas e dinâmicas e solicitar documentos via SMS.
www.ciee.org.br
• Canal Motoboy
No projeto Canal Motoboy, 12 motoboys percorrem a cidade de São Paulo,
munidos de celulares com câmera, e fotografam, filmam e publicam em
tempo real na internet suas experiências, de acordo com o site do
projeto. A idéia é criar uma base de dados multimídia, “capaz de gerar
conhecimento coletivo”. Em reuniões periódicas, analisam os conteúdos
publicados e definem novas pautas temáticas. O projeto tem apoio da
prefeitura de São Paulo, da Embaixada da Espanha no Brasil, da
Sociedade Estatal para Ação Cultural no Exterior (Seacex, espanhola),
entre outras entidades.
www.zexe.net
• Rede Jovem
O projeto 0800 Rede Jovem, da ONG Comunitas, é um espaço para
divulgação e consulta de vagas de emprego, filtradas de acordo com os
bairros e cidades das comunidades. Funciona em Santo André (SP) e em
mais quatro localidades, no Rio de Janeiro e Espírito Santo.
• Metrô-SP
O Metrô-SP vai se comunicar com usuários por e-mail e mensagens de
celular a partir de junho. O cadastro dos interessados pode ser feito
no site do Metrô. O usuário pode optar por que meio prefere receber as
mensagens sobre ações culturais, obras de expansão, negócios, turismo e
lazer. Cinco operadoras de celular passarão a oferecer sinal a seus
clientes dentro dos túneis e estações do Metrô paulistano. Os custos do
serviço, estimados em R$ 100 milhões, ficaram a cargo das operadoras,
que também pagarão mensalidades. Será possível trocar mensagens e
conversar ao celular mesmo dentro dos trens em movimento. Cerca de 3,3
milhões de pessoas/dia usam o Metrô de São Paulo.
www.metro.sp.gov.br
• Alô Cidadão
O Instituto Hartmann Regueira mantém, há dois anos, na favela Pedreira
Prado Lopes, de Belo Horizonte, o projeto “Alô, Cidadão!”, parceria com
o Oi Futuro e a desenvolvedora Okto. Uma central envia dois SMS/dia a
cerca 450 moradores cadastrados, com notícias locais sobre vagas de
emprego, eventos, educação, saúde, cidadania e entretenimento. Este
ano, o “Alô, Cidadão!” será replicado por ONGs em Salvador, Fortaleza e
Rio de Janeiro.
www.institutohr.org.br
• Projeto Telinha
Patrocinado pelo Instituto Vivo, fomenta a produção de pocket movies
(filmes de bolso) entre estudantes da rede pública em Palmas (TO).
Atende estudantes, de 13 a 18 anos.
www.vivo.com.br/institutovivo/telinha_no_cinema.php
• Teatro Guaíra
A programação do Teatro Guaíra, em Curitiba (PR), com preços e horários das atrações, é enviada aos cidadãos via SMS.
www.tguaira.pr.gov.br
M-gov em debate
A Momento Editorial realiza, no dia 24 de junho, em São Paulo, o 2º
Wireless Mundi, que vai discutir “Como o celular pode revolucionar as
aplicações sociais”. O evento tem como objetivo criar um ambiente de
fomento das aplicações sociais e de governo eletrônico por meio das
tecnologias sem-fio.
O Conip, junto ao World Wide Web Consortium (W3C) – entidade que
orienta o desenvolvimento das tecnologias usadas na internet, também
promove, nos próximos dias 2 e 3 de junho, em São Paulo, o seminário
“Tecnologias Móveis: seu papel na Promoção do Desenvolvimento Social”.