Computador de R$ 60 faz sucesso no Reino Unido

Raspberry Pi, cuja produção inicial de aproximadamente 10 mil unidades já se esgotou, tem o objetivo de facilitar o aprendizado de programação por crianças.

Charles Arthur
do The Guardian

07/03/2012 – A demanda pelo computador Raspberry Pi – um equipamento britânico que custa 22 libras esterlinas (aproximadamente R$ 60) – ainda estava em 700 unidades por segundo, no final da semana passada, de acordo com um dos seus principais distribuidores no Reino Unido. O dispositivo, que procura tornar a programação algo tão simples e acessível para crianças quanto o BBC Micro e o Sinclair Spectrum, nos anos 1980, também chamou a atenção de um país do Oriente Médio que planeja comprar um para cada escola de meninas, diz Harriet Grenn, executiva-chefe do Premier Farnell, que vende o aparelho em seu site. 

“É interessante ver a razão da grande animação em torno do Raspberry Pi”, diz Green. “Eu acho que muitos professores, pais e crianças estão preocupados com o fato de estarem se tornando apenas consumidores – pegar algo de uma caixa e ligá-lo na tomada. Há muita preocupação sobre o fato de as crianças serem meras consumidoras e não criadoras e inovadoras.”

O Raspberry Pi, cujo preço é fixado pela associação de caridade que o controla a 35 dólares (e, depois, ajustado conforme a taxa de câmbio do local em que é vendido), já teve vendida toda sua produção inicial, de cerca de 10 mil unidades, por meio de duas empresas, a Premier Farnell e a RS. “A demanda foi 20 vezes maior do que nossa capacidade de fornecimento”, diz Green. Mas o preço não será aumentado; a empresa simplesmente aumentará a produção o quanto puder para ir ao encontro da demanda. “Há uma relação entre o fornecimento abundante de um produto e quanto este custa”, explica Green. “Se voltarmos ao tempo do Amstrad e o sucesso que obteve, você se dá conta que há uma grande habilidade em se alcançar o preço justo”. Ela diz que o design do computador é “maravilhoso”, mas “não custa muito para fazer” – possibilitando um lucro suficiente para fazê-lo sustentável.

A primeira versão do dispositivo, que se esgotou em minutos após iniciada a venda, em 29 de fevereiro, é uma placa de circuito simples, sem embalagem, que irá para desenvolvedores para que eles possam escrever um código de apoio que possa, então, ser pré-instalado em versões posteriores, previstas para ser vendidas na primavera com a embalagem apropriada.

Além do interesse do Reino Unido, Green conta que já houve interesse por parte de um governo de um país do Oriente Médio que queria fornecer um para cada escola para garotas, a fim de melhorar suas perspectivas de emprego no futuro. Ela se recusou a dizer o nome do país, mas afirma que “a inclusão das garotas é muito importante. Uma pesquisa de dois anos atrás perguntou a meninas de 13 a 18 anos o que elas queriam ser quando adultas, e foi bastante útil ler os resultados. A primeira coisa que elas queriam ser era uma superestrela ou esposa de jogador de futebol. Não havia nenhuma querendo ser executiva, advogada ou jornalista. Não sou uma programadora, mas não é difícil, com a aptidão certa”.

Ela acha que existe até a possibilidade de que o superbarato computador – que vem com conectores para um teclado, display, rede e dispositivos USB, como um hard drive – tenha um efeito “subversivo” em toda a indústria de computadores. “Não há absolutamente nada que impeça empresas como Apple, Dell, Lenovo ou HP de fazer algo similar ao que fizemos”, explica Green. “Eu encorajaria muito as grandes companhias a dar uma olhada no potencial dessa ideia”, acrescenta.

O Raspberry PI não vem com o mais rápido e poderoso processador central disponível – tem um que pode ser encontrado facilmente em um smartphone, usando a arquitetura Arm desenhada por uma equipe que originalmente trabalhou no BBC Micro –, mas Green acha que tem um enorme potencial de crescimento. Ela afirma também que mídias sociais e comunidades online têm ajudado a manter o alto interesse no projeto. Uma comunidade de programação chamada Element 14 – o número atômico do silício, um material fundamental dos chips – cresceu devido ao interesse em se escrever programas para o computador: até agora, houve 30 mil downloads do software do sistema operacional para o aparelho, algo sem precedentes.