Conexão Social – A barreira está na renda

Os dados da PNAD 2004, por faixa de renda, revelam que a presença do computador nos domicílios está diretamente relacionada ao poder aquisitivo da família. Na classe A, a taxa de penetração é de 79%, quase todos conectados à internet. Na classe E, de 0,1%, nenhum deles conectado à rede.


Os dados da PNAD 2004, por faixa
de renda, revelam que a presença do computador nos domicílios está
diretamente relacionada ao poder aquisitivo da família. Na classe A, a
taxa de penetração é de 79%, quase todos conectados à internet. Na
classe E, de 0,1%, nenhum deles conectado à rede.

Lia Ribeiro Dias*


Programas como o Computador para Todos, com incentivos fiscais do
governo federal e juros baixos para micros de até R$ 1,4 mil, e os
vários esforços que estão feitos, em institutos de pesquisa e por
algumas empresas, para baixar o preço das máquinas (saiba mais),
podem mudar, nos próximos anos, o cenário revelado pela PNAD – Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios, relativo ao ano de 2004. Só 16,6%
dos 51 milhões de domicílios existentes no país contam com computadores.

As desigualdades provocadas pela concentração da renda se reproduzem na
inclusão digital domiciliar. Ela é muito mais elevada nos domicílios
com mais de 20 salários mínimos, que representam apenas 4% do número
total de domicílios do país – 79% deles têm computador, dos quais 91%
estão conectados à internet. À medida que diminui a renda familiar, cai
a presença de micros nos domicílios (veja gráfico). Na classe E, com
renda familiar inferior a dois salários mínimos, só 0,1% dos domicílios
têm computador. São 154 mil PCs e nenhum deles está conectado à
internet.

As histórias de Fernanda Guimarães, 14 anos, e Jonas Roque, 17, são a
representação do que dizem os números. Filha de administrador de
empresas e empresária, Fernanda pertence ao mundo do topo da pirâmide
que tem computador em casa, com banda larga. Desde os nove anos, usa o
computador para pesquisas escolares, baixar músicas e falar com os
amigos. “Acesso em casa pelo menos uma vez ao dia”, diz ela, que
considera o computador “o meio mais prático e rápido de buscar e trocar
informações”. Jonas está no mundo dos sem-computador, na base da
pirâmide social. Estudante do terceiro colegial, conseguiu se colocar
no mercado de trabalho por meio do programa Primeiro Emprego. “Gostaria
de ter computador em casa para aprimorar os estudos porque,
infelizmente, o que a gente aprende na escola não é suficiente”,
relata. Morador do Jardim Antártica, na zona norte de São Paulo, Jonas
tem que ir a uma lan house para fazer suas pesquisas escolares. Prefere
pagar R$ 1,00 por meia hora de acesso do que enfrentar a fila do
telecentro.

A distribuição dos PCs por faixa de renda dos domicílios mostra
claramente que o acesso a computadores é limitado pelo poder aquisitivo
da família. Assim, políticas públicas que forcem a queda dos preços dos
computadores, ao lado da melhor distribuição de renda no país, são
fundamentais para fazer avançar a inclusão digital domiciliar. Ou seja,
para que mais famílias possam ter computadores em casa, uma ferramenta
que se tornou fundamental para formar as crianças e jovens e
habilitá-los a ter um lugar, como cidadãos e profissionais, na
Sociedade da Informação.

Na avaliação do sociólogo Sergio Amadeu da Silveira, todos deveriam
poder ter um computador em casa para se comunicar, a partir da rede,
com a velocidade, qualidade e possibilidades que a internet oferece. “O
computador em casa melhora as condições de vida, educação e trabalho,
levando-se também em conta que uma série de serviços públicos e
privados está migrando para a rede”, pondera. Mas Amadeu defende que,
ao lado de políticas públicas para fomentar a inclusão digital
domiciliar, são necessárias políticas públicas para dar, especialmente
à população de baixa renda, acesso coletivo. “Num país como o nosso,
com brutal concentração de renda, é ilusório pensar só em inclusão
digital domiciliar. A população de baixa renda não tem recursos para
comprar um computador e pagar a conexão. Se não tiver equipamentos
coletivos, vai ficar totalmente excluída”, analisa.


Nos domicíliosmais pobres,
poucos micros acessam a
internet.

Mas, para que os computadores possam ser uma ferramenta eficiente de
inclusão digital, precisam estar conectados à internet. E, aí, de novo,
a renda é uma barreira. A forma mais comum e barata de acesso à
internet é através da linha telefone fixa. Embora 66% das residências
contem com telefone fixo e/ou celular, a penetração é muito maior entre
as famílias que ganham mais: cai de 99% entre os domicílios com renda
superior a 20 salários mínimos a 30% entre as famílias que ganham até
dois salários mínimos. E nessa faixa de renda, é grande o número dos
domicílios que só têm celular – através do que, é inviável acessar à
internet em função do custo do serviço, que também demanda aparelho
mais sofisticado.

Disparidade regional

O avanço do computador nos domicílios brasileiros tem sido mais ou
menos constante nos últimos três anos: cerca de 850 mil novos
domicílios, a cada ano. Em 2003, de acordo com a PNAD, 15,3% tinham
computador. Em 2004, o percentual subiu para 16,6%, com 75% conectados
à internet. Um ritmo de crescimento muito lento, que só terá uma
inflexão na curva em decorrência de políticas públicas de estímulo ao
barateamento e ao uso do computador pelas famílias de menor renda.

Acompanhando outros indicadores sociais, como taxa de analfabetismo, a
distribuição de computadores nos domicílios também varia entre as
regiões do país. Ele é de 26% em São Paulo, onde opera a concessionária
de telefonia Telefônica, e de apenas 11,62% na área de concessão da
Telemar, que cobre estados da regiões Leste, Nordeste e Norte do país.
Na área de concessão da Brasil Telecom, que atua no Sul e Centro-Oeste,
ficam em 17,79%. Essa diferença se explica pelo poder aquisitivo das
famílias das distintas regiões: ele é muito menor no Nordeste e Norte
do que no restante do país. Mas se compararmos, nas distintas regiões,
a penetração do computador nas residências de famílias da mesma faixa
de renda, não há oscilações representativas.


*Colaborou Vitória Guimarães