Sistema vai medir a qualidade dos serviços de banda larga em todo o país. Áurea Lopes
Você lembra daquela sensação desagradável que toma conta da gente quando estamos finalizando uma apresentação PPT para a reunião do dia seguinte, ou batendo papo com aquela pessoa interessantíssima, ou fazendo uma pesquisa na web sobre as últimas novidades do nosso assunto predileto e, de repente… puf! cai a conexão?! Além de esbravejar em alto e bom som, tudo o que se pode fazer, de imediato, é reclamar com o atendimento ao consumidor da operadora e esperar o restabelecimento do link. Na melhor das hipóteses, tem-se opção de trocar de fornecedor de acesso. Até que aconteça o mesmo problema com o outro também.
Na tentativa de ajudar os usuários a fazer essa difícil escolha — de um serviço que a grande maioria da população contrata por falta de opção ou recomendação de amigos, sem dispor de outros indicadores para avaliar a qualidade do que está sendo comprado — a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a Rede Nacional de Pesquisa (RNP) e o Comitê Gestor de Internet (CGI.br) estão desenvolvendo um sistema inédito. Trata-se de uma metodologia de medição que vai permitir comparar o desempenho das operadoras de banda larga em todo o país. “Vamos medir a qualidade dos links durante as 24 horas do dia, sem a necessidade de interferência dos usuários”, informa Milton Kaoru, diretor de Projetos Especiais e de Desenvolvimento do NIC.br, órgão do CGI.br.
No Fantástico
Os resultados dessa medição, que vem sendo testada há mais de um ano em um projeto-piloto no estado de São Paulo, serão divulgados ao público: “Vamos mostrar a todo o Brasil, no Fantástico!”, diz Kaoru. Os dados da medição também serão publicados na página da internet do Comitê Gestor. O sistema está previsto para entrar em operação em julho e a divulgação das primeiras medições nacionais deve acontecer no final de outubro. Kaoru informa que, no mês de junho, um protótipo do sistema foi instalado nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Vão se submeter às medições as cidades de Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre e Salvador.
Parte do Projeto PTT.br, o novo sistema de medição consiste na instalação, em vários pontos de cada cidade, de caixinhas que nada mais são do que pequenos computadores, de baixo custo, com capacidade razoável de processamento. Foram compradas cem unidades para serem distribuídas de acordo com as parcerias feitas com voluntários que permitam a instalação em seus pontos. Dispositivos GPS acoplados aos equipamentos vão fornecer, além da posição, um horário bastante preciso. “Com isso, vamos medir atrasos de tráfego também em relação a pontos fora do país”, conta Kaoru.
O NIC.br já dispõe de uma ferramenta similar, com a qual os usuários fazem medições de seus pontos de acesso. Em parceria com o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), o órgão do CGI.br desenvolveu, junto com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, um software que mede a banda nos protocolos TCP e UDP, e indica quanto o usuário tem disponível para upload e para download.
E daí?
O sistema de medição desenvolvido pela Anatel vai ser capaz de identificar os problemas. No entanto, muito pouco pode ser feito pela agência, além de dar mais transparência aos critérios de medição de qualidade e abrir processos de investigação para identificar a responsabilidade das operadoras, segundo avaliou Plínio Aguiar, durante o encontro Telesíntese, realizado em abril pela Momento Editorial, na capital paulista. Como o acesso à internet é um serviço de valor adicionado, mas também um Serviço de Comunicação Multimídia, a Anatel só pode investigar, determinar responsabilidades e aplicar multas caso o problema tenha sido do roteador para baixo. “Na área de serviço de valor adicionado a gente não tem os recurso legais para punir as concessionárias por problemas na oferta do serviço. A nossa lei não dá instrumentos ao regulador para atuar de forma mais efetiva”, disse ele.
Para Plínio Aguiar, parte dos problemas que as empresa estão enfrentando pode estar ligada ao baixo investimento na construção das redes e à terceirização dos serviços de operação e manutenção. “A qualidade da rede é definida no investimento, em grande parte. E também pela operação. Ao investir pouco, a qualidade cai”, afirmou ele. “Além disso, grande parte das operadoras está terceirizando completamente a manutenção e a operação da rede. Isso também aumenta o risco de falha, na medida que a operadora fica mais distante da operação da rede”, ressalta o conselheiro.