Conexão Social – A nova economia da cultura livre

Encontro no Rio aponta os novos caminhos da produção de riqueza. E critica o uso de controles digitais de cópias



Encontro no Rio aponta os novos caminhos da produção de riqueza. E critica o uso de controles digitais de cópias
  Rosane de Souza


Um encontro em defesa da livre produção e circulação do conhecimento –
cultura, tecnologia e ciência – reuniu o ministro da Cultura, Gilberto
Gil, o criador da enciclopédia Wikipédia, Jimmy Wales, e representantes

de 49 países no Hotel Marriot, no Rio de Janeiro, de 23 a 25 de junho.
O que se discutiu durante o segundo iSummit, promovido pelo Creative
Commons, foi a desconstrução dos alicerces da economia mundial: a forma
de apropriação, pelos homens, dos seus bens culturais e científicos e
mesmo dos meios de produção dessas mercadorias. “O modo de produção da
riqueza está mudando. Hoje, quanto mais se dissemina a cultura, mais
aumenta o seu valor e mais seu autor ganha dinheiro com ela”, acredita
Ronaldo Lemos, professor da Escola de Direito da Fundação Getúlio
Vargas, organizadora do evento no Rio, e responsável pelo Creative
Commons no Brasil.

Ronaldo cita a produção cinematográfica da Nigéria, considerada a
terceira maior do planeta em receita, US$ 200 milhões. Seu mercado é
estimado em US$ 1 bilhão, gerando 150 mil empregos e o sustento de 1,2
mil famílias. O cinema na Nigéria é feito em formato digital, de baixo
orçamento, sendo os DVDs vendidos diretamente pelas comunidades e
comercializados para os países vizinhos. São filmes produzidos a US$ 30
ou US$ 100 e vendidos a US$ 3. “Assim, a pirataria não compensa”,
afirma Ronaldo.


Camisas vendidas pelas
bordadeiras de Igarapé

Os participantes aprovaram a Declaração do Rio, em defesa da liberdade
de acesso a produção cultural e científica e pela regulação do Digital Rights Management Systems
, um mecanismo digital de controle de cópias. De acordo com
o presidente do Creative Commons, Larry Lessig, já foram licenciadas
livremente 140 milhões de fotos, imagens, músicas e vídeos. Até uma
cerveja dinamarquesa, a Free Beer. 

A gravadora Trama libera algumas músicas para livre reprodução, cobra
barato por outras, desprezando o DRM, como forma de combater a
pirataria. “Enquanto isso, grandes gravadoras vêem suas vendas caindo,
sem saber que modelo de negócios adotar”, diz Carolina Rossi, líder de
projeto do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV.

Carolina citou o grupo Tecno-Brega, do Pará, que formou uma rede de
distribuição através dos camelôs, cobrando R$ 5,00 por cada CD. “O
resultado das vendas paga a produção e remunera os vendedores
ambulantes, eles ganham dinheiro nos shows”, diz. Até as bordadeiras de
Igarapé, em Belo Horizonte (MG), encontraram uma forma de ganhar
dinheiro, com computador, internet e software livre: camisas estão no flickr (site para publicação de fotos), por R$ 35,00.

Durante o evento, o MinC lançou o Acervo Livre, um dos módulos do
projeto Estúdio Livre, licenciando as músicas do grupo pernambucano
“Originais do Sample”. A Microsoft, em meio a protestos, divulgou um
recurso do seu editor de texto, que insere a licença CC no documento
criado. Enquanto o Google e o Yahoo lançaram buscas dirigidas a obras
com essas licenças.

www.flickr.com/photos/bordadosigarape/ — Para os bordados de Igarapé.

www.creativecommons.org.br


www.estudiolivre.org.br


www.midiatatica.org/principal/node/36
– Para ler o relato de um participante do evento