Alô, é Linux?
Nova geração de celulares com software livre cresce, aparece e promete mudar o futuro da telefonia móvel.
Igor Giannasi
Com interfaces cada vez mais fáceis de usar e aplicativos diversificados, os sistemas operacionais para celulares baseados em software livre — ainda que não estejam entre os sistemas embarcados mais utilizados — têm tudo para ser a plataforma de comunicação móvel do futuro. A aposta não é apenas de especialistas em tecnologia, mas também da indústria do setor, que nos últimos tempos vem se reunindo em consórcios para aperfeiçoar sistemas open source.
“Uma das grandes vantagens é justamente a independência do hardware. Diferentes fabricantes podem trabalhar de forma cooperativa no desenvolvimento do sistema operacional, eliminando, ainda, o custo referente ao licenciamento, característico dos sistemas proprietários”, explica Osmany Arruda, professor da graduação e coordenador da célula Linux da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap). Arruda é um dos que acreditam que o desenvolvimento de sistemas operacionais — não apenas para telefonia celular, mas também para qualquer outro sistema embarcado — aponta para o modelo Linux Mobile. “Livre, com código aberto, e acima de tudo, colaborativo”, diz ele.
Paulo Hartmann, um dos organizadores do Mobile Fest — evento que promove a reflexão sobre o impacto das tecnologias móveis e sem-fio em diversas esferas sociais, e que terá a quarta edição realizada em setembro, em São Paulo –, também comemora a chegada, ao celular, da cultura de compartilhamento, típica da web. Com a colaboração, diz ele, surge a diversidade, que é um dos grandes benefícios para o consumidor final. “Começam a pipocar aplicações open source, e são mais amigáveis”, comenta. Na opinião de Hartmann, a barreira que nos desktops e laptops de certa forma afastava do Linux aqueles usuários acostumados a utilizar os programas proprietários está sendo vencida com essas novas plataformas. “Para o usuário final, a boa tecnologia é a tecnologia invisível”, diz ele. Ou seja, as tarefas são realizadas com comandos simples e diretos.
Outra boa notícia é que, em tese, a implementação e a padronização do sistema operacional baseado em Linux e seus aplicativos podem significar redução dos preços, pois não há custos com royalties. “Grandes fabricantes têm como repassar isso ao consumidor”, ressalta Arruda.
Começa a competição
O interesse da indústria em plataformas livres para celulares não é pequeno. Até o campeão entre os sistemas operacionais, o Symbian, deverá ter seu código aberto (Veja o texto ao lado). Com um mercado extremamente competitivo, as grandes fabricantes de celulares tendem a concentrar o desenvolvimento em poucas plataformas, visando a redução de custos de manutenção e evolução tecnológica, avalia Eduardo Peixoto, executivo de desenvolvimento de negócios do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar). “A plataforma livre vai ser extremamente competitiva nesse mercado”, acrescenta.
Representante da indústria, Murilo Arakaki, gerente-geral de estratégia da NEC Brasil, multinacional que produz celulares no Japão, reforça essa tese. “Em um futuro com terminais cada vez mais avançados, semelhantes aos computadores (com inúmeras aplicações), um ambiente fragmentado e proprietário poderia gerar impactos negativos”, considera. Por exemplo: pode haver encarecimento do custo de desenvolvimento, problemas na integração das aplicações e dificuldades de utilização dos serviços pelos usuários. Na avaliação Arakaki, um cenário com plataformas baseadas em um padrão consolidado como o Linux representaria “um importante alicerce para fortalecer um ambiente convergente”. Essa integração, acredita o executivo, possibilitará o desenvolvimento de aplicações customizadas e que atendam às necessidades das redes sociais.
Lançamentos
Pelo menos duas grandes movimentações nesse sentido estão agitando o setor. A Open Handset Alliance, capitaneada pelo Google, foi criada em 2007 para o desenvolvimento do Android, conjunto de softwares que congrega sistema operacional, middleware e aplicativos móveis. Fazem parte da organização fabricantes de celulares como HTC, Sony Ericsson, Motorola, Samsung, LG e operadoras de telefonia como a T-Mobile, Telefónica, Telecom Italia e Vodafone, entre outras companhias que compõem a cadeia produtiva.
O primeiro aparelho com o Android – o G1 – já está sendo comercializado nos Estados Unidos, pela operadora T-Mobile. A HTC também anunciou que colocará no mercado alguns modelos com essa plataforma. Em fevereiro, a Huawei, outra integrante do consórcio, noticiou que trará para o Brasil, ainda este ano, um modelo de smartphone (celular inteligente) com o Android, em conjunto com a operadora de celular TIM.
Outro grupo que pretende expandir a utilização da plataforma Linux na indústria de celulares, este formado no ano passado, é a LiMo Foundation (Fundação Linux Móvel). O consórcio apresentou nove modelos de celulares compatíveis com o LiMo durante o Congresso Mundial Móvel, maior feira de celulares do mundo, realizada em fevereiro, em Barcelona (Espanha). A parceria já totaliza 33 aparelhos disponíveis comercialmente. Integram a organização as fabricantes Motorola, NEC, Panasonic, LG e Samsung, entre outras. Na época do lançamento da nova coleção de celulares com a tecnologia LiMo, o diretor executivo da fundação, Morgan Gillis, comentou que a união da indústria móvel em torno da plataforma endossa a visão de que “é possível criar um verdadeiro ecossistema móvel aberto, habilitado por um modelo de desenvolvimento colaborativo, justo e transparente”.