As coisas começam a acontecer
Movimentações no governo dão sinais de que o programa Telecentros.BR retoma o fôlego
Áurea Lopes
ARede nº 84 – setembro de 2012
VOCÊ SABE o que é ser caiçara? Sabe dançar fandango, sabe o que é uma rabeca ou qual árvore é a caixeta? Em 1993, jovens da região da Jureia, no litoral paulista, entenderam que as respostas a essas perguntas não podiam se perder no esquecimento. E decidiram trabalhar para a preservação da cultura das populações descendentes da fusão entre portugueses, negros e índios que habitam a área da Mata Atlântica. Junto com a história e os costumes caiçara, também começaram a levar ações de educação ambiental para escolas públicas locais. E ainda resgataram e valorizaram o artesanato regional, estimulando a geração de renda para as comunidades.
Assim surgiu a Associação de Jovens da Jureia (AJJ), organização não governamental que hoje luta para construir o Centro de Cultura Caiçara, na Barra do Ribeira. No local – que está em construção e aguarda recursos de um projeto de financiamento coletivo para terminar as obras – funcionava um telecentro onde aconteciam atividades de apoio às ações da AJJ. Só que… as máquinas quebraram e o centro de acesso à internet foi desativado.
Esta é uma das milhares de histórias de telecentros que dependem da eficácia do programa federal Telecentros.BR para continuar ou para retomar seus papéis de equipamentos públicos que utilizam as tecnologias da informação e da comunicação (TICs) para transformar realidades sociais. Na Jureia, este mês, mais um capítulo pode ser contado. E tudo indica que o final vai ser feliz. Chegou, finalmente, a conexão Gesac tão esperada. E no próximo mês os dez computadores velhos vão ser substituídos por novos. “Agora vamos poder ampliar nossas ações, como as oficinas de artesanato, as palestras sobre questões ambientais e ainda voltar a circular com a Escola Caiçara Itinerante”, diz Dauro Marcos do Prado, integrante da AJJ. “Esses meninos já fazem muita coisa. Agora, as pessoas podem ver o que eles fazem”, acrescenta Beatriz Tibiriçá, a Beá, do Coletivo Digital, instituição responsável pelo polo Sudeste Meridional.
Também chegou a antena Gesac no telecentro de Iguape (SP), onde estava tudo instalado, mas não havia conexão (ver ARede 81, junho de 2012), e equipamentos recondicionados começam a ser entregues, como aconteceu em Pilar do Sul (SP). Beá avalia: “Estamos sentindo que alguma movimentação aconteceu, no Ministério das Comunicações”. O que, segundo a ativista, é animador, pois “ninguém está parado”. Os polos estão fazendo reuniões presenciais, visitando as unidades, e cuidando da formação da última turma. No Polo Centro-Oeste, por exemplo, aconteceu, no final de agosto, o 3º Encontro Presencial de Monitores.
Os sinais de que o Telecentros.BR recupera o fôlego têm aval oficial. Novo responsável por tocar o programa federal – após a saída de Cristina Mori – e por “dar conta imediatamente de todos os pontos pendentes”, Rogério Barbosa Macedo, diretor do Departamento de Articulação e Formação, ligado à Secretaria de Inclusão Digital (SID), faz questão de ressaltar que esse é um programa estratégico para o governo. Lembrando que há um grande desafio de superar dificuldades em três níveis – entrega, instalação e conexão –, Macedo diz que houve uma repactuação com os grandes proponentes do programa, responsáveis por 85% a 90% dos telecentros.
Um dos grandes problemas que geraram os recentes entraves ao programa, o mapeamento dos beneficiários, parece que vai ser resolvido. “Reunimos os proponentes e pedimos ajuda na validação dos cadastrados. Pedimos para receber, até o início de setembro, a lista de unidades atualizada e confirmada. A partir desses dados checados serão feitas as rotas de instalações”, afirma Macedo. A previsão da SID é de concluir todas as instalações até dezembro.
Para janeiro de 2013, diz o diretor, a previsão é ter o levantamento completo dos monitores, retomar o pagamento das bolsas e começar a segunda etapa da formação. Esse cronograma será um dos itens do encontro convocado, pela SID, para a segunda quinzena de setembro, com o Comitê Gestor da Rede Nacional de Formação – que não se reunia desde maio. Outra questão de fundo, que deve voltar ao debate nessa reunião, é quanto ao formato de gerenciamento da formação. No primeiro semestre, circulava a notícia de que o Minicom tenha a intenção de excluir da Rede as quatro organizações sociais que a integram, mantendo apenas as universidades. Beá acredita que há espaço para muito diálogo no que se refere a esse assunto: “Nós, ONGs, e as universidades, estamos rediscutindo as formas de articulação, refletindo sobre o melhor formato”. Macedo garante que o governo também está aberto ao diálogo, mas alerta que, no momento, o foco das ações está voltado a resolver as pendências de estrutura e do operacional do programa.