“As novas parcerias permitirão instalar pontos públicos de acesso à internet em todas as cidades do Pará”, afirma Carlos Renato Lisboa Francês, presidente da Prodepa. Os computadores e o mobiliário para a montagem dos infocentros serão comprados diretamente pelo ministério e repassados ao estado. A conexão dos centros será feita pelo NavegaPará nas cidades cobertas pela infovia estadual – resultado de engenhosas parcerias, com a EletroNorte e com a Rede Nacional de Pesquisa (RNP) – e por conexões do Gesac (programa de conectividade do Ministério das Comunicações) naquelas onde a rede do estado não chega. Em julho, o NavegaPará já cobria 33 cidades digitais e tinha 108 infocentros em funcionamento e 42 pontos de acesso livre (praças e pontos turísticos, como orla e mirante, onde são instaladas antenas para acesso sem-fio e gratuito). A meta, até dezembro, é instalar mais 250 unidades, entre infocentros do NavegaPará e Telecentros.BR, atingindo um total de 62 cidades.
Polo de capacitação
A estrutura de infocentros do NavegaPará será usada para cursos de capacitação para toda a região. O Polo Regional Norte de Capacitação será responsável pela formação dos agentes de inclusão digital (monitores e conselho gestor) de todos os infocentros do programa Telecentros.BR na região. A estimativa é formar 4.800 monitores dos estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Para isso, a Prodepa formou um consórcio com a Universidade Federal do Pará (UFPA), a Universidade Estadual do Pará (UEPA) e a Universidade Federal Rural da Amazônia. Nesse treinamento, os monitores serão estudantes de graduação das universidades e o programa prevê, além da informática, o acompanhamento pedagógico.
As 62 cidades por onde passará a rede NavegaPará, até o final deste ano, representam cerca de 70% da população do Estado, mais de 7 milhões de pessoas. Em todas as cidades onde a rede já foi implementada, o governo assina convênios de cooperação com as prefeituras, que podem se conectar pela infovia do estado. O serviço também fica disponível para as câmaras municipais, delegacias e centros de referência e assistência social. Em alguns casos, o acesso é levado, ainda, para escolas municipais.
No âmbito do estado, a infovia interliga as secretarias, as instituições de ensino federais e estaduais e todas as escolas públicas mantidas pelo estado naquele município. O pacote de conectividade inclui sempre um ponto de acesso público (em geral com a antena instalada numa praça pública) e dois infocentros. A concepção do projeto também envolve a comunidade local. Os infocentros são instalados junto a entidades comunitárias – associação de moradores, paróquias, Corpo de Bombeiros etc. – que compõem um comitê gestor, responsável pelo funcionamento do infocentro e pelos cursos ali realizados.
Os cursos ministrados têm se restringido à informática básica (Linux e BrOffice). Em algumas cidades, como Santarém, que tem dez infocentros, as iniciativas foram além e são realizados cursos para crianças de 6 a 9 anos – o Hacker Mirim, que ensina linguagem de programação e jogos educativos – e para cidadãos com mais de 60 anos, que frequentam o Melhor Idade Digital. Santarém tem o privilégio de contar com gestores experientes como Tarcísio Ferreira, que há oito anos trabalha com a informática como ferramenta para inserir na sociedade jovens em situação de risco social.
Ferreira foi um dos fundadores, em 2002, do projeto Puraqué, criado em um dos bairros mais violentos da cidade. “A informática foi um chamariz para esses jovens”, conta Ferreira. Com o apoio do Instituto Luterano de Ensino Superior de Santarém, o Puraqué ganhou corpo e a informática passou a ser usada para trabalhar temas da cidadania.
Infraestrutura
Todos os infocentros instalados no estado usam tecnologia sem-fio (as antenas são da Motorola e da Alvarium), com capacidade de transmissão até 14 Mbps. Os computadores são da Positivo, que venceu o edital, realizado na modalidade registro de preço, e em todas as unidades predomina o software livre. Além de cursos de informática e de sistemas como Linux e BrOffice, os infocentros têm um período para acesso livre, momento em que crianças e jovens navegam pelas redes sociais (o Orkut é a preferência de 100%), participam de jogos online ou assistem a shows de suas bandas de música preferidas.
Os monitores, selecionados pela Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia, com base em análise curricular, são treinados por técnicos da Prodepa para ensinar informática básica e resolver pequenos problemas do dia-a-dia do infocentro. Qualquer aluno da rede pública pode se candidatar a uma vaga de monitor (quatro horas diárias de trabalho), mas se dá preferência a monitores ligados à comunidade onde está instalado o infocentro.
O NavegaPará começou com a assinatura de dois convênios, um com a Rede Nacional de Pesquisa (RNP) e, outro, com a Eletronorte, que cederam suas redes de fibras ópticas para o estado. O acordo com a RNP permitiu à Prodepa usar a rede de fibra óptica Metrobel para interligar, por internet de alta velocidade, cerca de 300 unidades administrativas, das áreas de educação, saúde e segurança. Em contrapartida, a Prodepa expandiu a rede de pesquisa, interiorizando o acesso para as unidades da UFPA e da UEPA. Os 40 quilômetros de cabos de fibra foram ampliados para 137. Em Belém foram usados enlaces sem-fio.
Já o convênio para utilizar os 1.800 quilômetros de fibra óptica da Eletronorte permitiu interligar o estado, a partir da conexão dos principais órgãos públicos. O governo construiu pequenas redes para levar o sinal da rede Eletronorte e interligar os principais órgãos públicos (federais, estaduais e municipais), como escolas, hospitais e delegacias. Com as parcerias, o governo do estado gastou até agora R$ 40 milhões para construir sua infovia – uma quantia quase insignificante, se comparada ao preço médio de US$ 80 por metro de fibra óptica instalada, o que resultaria numa despesa de pelo menos R$ 250 milhões para criar uma rede de alta velocidade como a NavegaPará.
Escolas conectadas, blogs educativos e rádios-web.
Com o acesso à internet, professores e alunos paraenses descobriram novas ferramentas para compartilhar o conhecimento, não só em sala de aula, mas também com a comunidade do bairro. “Aqui, a internet é uma ferramenta que rompe barreiras espaço/tempo e já se tornou uma política pública”, assegura Ocimar Marcelo Souza de Carvalho, da Coordenadoria Tecnológica de Aplicação a Educação (CTAE).
Entre as iniciativas surgidas espontaneamente nas 510 escolas paraenses já conectadas – de um total de 1.216 no estado – estão as várias rádios-web, como a Rádio Aluno Repórter, a Rádio Tagarela e a Conexão Escolar. Por meio delas, os alunos divulgam notícias da escola e da comunidade, tocam músicas e conectam culturas e línguas. Até dezembro, o número de escolas conectadas no estado deverá chegar a 713.
Outra iniciativa importante é o Educablog Paraense, um concurso estadual de blogs educativos. Criados de forma colaborativa, os blogs se transformaram em um laboratório de escrita virtual, como ferramentas de ensino-aprendizagem, com as quais alunos e professores fazem enquetes, socializam, interagem e trocam experiências. Segundo Carvalho, os blogs são usados pelos professores de diversas modalidades de ensino e de todas as áreas do conhecimento como uma ferramenta de coautoria de atividades e assuntos que podem ser abordados com os alunos, ao mesmo tempo em que vão criando o domínio da ferramenta.
O uso de blogs nas escolas foi estimulado pela criação do concurso estadual, que já está em sua segunda edição. No ano passado, mais de 200 escolas se inscreveram, 12 foram finalistas e a Escola Dona Helena Guilhon, de Belém, levou o troféu, com um blog, de iniciativa do professor Erick Siqueira, que envolveu todo mundo na escola. Mais do que uma competição, o concurso de blogs escolares permitiu que os alunos deixassem de ser apenas receptores e passassem a ser produtores de informação. Para este ano, foi criada a categoria Blog do Aluno.
Carvalho destaca que o concurso teve a adesão dos Núcleos Técnicos Educacionais (NTEs) do estado, que deram suporte pedagógico e técnico para que os professores as e escolas começassem a fazer uso da tecnologia. “O resultado foi a criação de vários e diversificados ambientes virtuais de aprendizagem, que estimulam processos cooperativos de construção de conhecimentos”, destaca o coordenador do CTAE.
A conexão das escolas está contribuindo também para a formação dos professores por meio do ensino a distância. Já em 2008, a Secretaria de Educação iniciou o curso Mídia na Educação, em parceria com o MEC e a Universidade Federal do Pará (UFPA). O curso termina em 2011, quando dois mil professores vão concluir a pós-graduação. (F.F.)