Conexão Social


Na Educação, a tecnologia de nada adianta sem uma proposta consistente de ensino; na Segurança, as aplicações começam a ser interligadas.

ARede nº43 Dezembrio de 2008 – No processo educacional, o uso de giz ou de apresentações PowerPoint pelo educador não é propriamente irrelevante — mas é secundário. Para usá-las em sala de aula, é preciso antes explorar o potencial pedagógico das tecnologias da informação e da comunicação, porque, na sua aplicação ao processo educacional, a proposta pedagógica é mais importante do que os recursos técnicos. Além disso, a resistência dos professores à tecnologia precisa ser trabalhada de forma a motivar para o uso das ferramentas  disponíveis.

Estes aspectos foram consenso no painel sobre o uso de tecnologias móveis na educação, durante o 4º Wireless Mundi, organizado a 18 de novembro, em São Paulo, pela Momento Editorial, com a presença de representantes do governo, da academia e da indústria. Educação e segurança pública foram os dois temas do encontro.

Se o uso da tecnologia não servir, primeiro, para superar as desigualdades na educação e se não houver uma proposta pedagógica adequada, insistiu o assessor da presidência do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e integrante do conselho de administração do Instituto Internacional de Planejamento da Educação da Unesco, Ricardo Henriques, a adoção das TICs pode até ampliar as desigualdades. “Temos que dar um choque na formação de professores, pois temos pressa em abandonar a educação clássica e arcaica”, ponderou Henriques.

O responsável pelo projeto Um Computador por Aluno (UCA) junto ao gabinete do Presidente da República, José Luiz Maio de Aquino, anunciou que a licitação de 150 mil laptops para o programa será relançada pelo Ministério da

Educação e Cultura (MEC). As máquinas serão “O país está adotando um novo conceito de segurança pública,que trata da violência como um problema de todos”, explicou o general Mário Seixas istribuídas para 500 escolas, urbanas e rurais. “Hoje, o UCA é um projeto pedagógico educacional, e não mais uma discussão sobre o tipo de equipamento a ser usado”, afirmou Aquino. Na avaliação de Hélio Chaves Filho, diretor de Regulação e Supervisão em Educação à Distância do MEC, o uso das tecnologias de educação deve romper a atual desconexão entre realidade social, prática em sala de aula e formação docente. Um dos projetos do MEC para vencer a resistência dos professores, lembrou Chaves, é a Universidade Aberta do Brasil, hoje com 290 pólos.

Para o professor José Armando Valente, do Departamento Multimeios, Mídia e Comunicação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é fundamental adaptar o currículo escolar, ampliando o conceito de letramento, para que não seja apenas alfabético, mas também digital, visual e sonoro. “O uso de laptops não tornará boas as escolas ruins, mas as boas escolas serão ainda melhores”, afirmou. A secretária de Educação do Estado do Rio, Tereza Porto, descreveu o programa Conexão Professor, que planeja distribuir 52 mil notebooks a professores do Estado, com conexão banda larga. “É visível a mudança da qualidade das aulas”, disse a secretária, que pagou R$ 1.900,00 por cada um dos 38 mil computadores já distribuídos.

A parceria público-privada para enfrentar o problema da falta de inclusão digital na educação foi defendida pelos representantes da indústria de telecomunicações. “O desafio no Brasil é levar a educação o mais rápido possível à população e, para isso, não devemos desprezar as parcerias público-privadas”, destacou a presidente da Ericsson Brasil, Fátima Raimondi. A opinião do gerente de Planejamento Regulatório da Claro, Christian Wickert, foi na mesma linha e um exemplo de parceria foi apresentado por Rafael Guimarães, diretor de Marketing da Hughes, que tem contrato com o governo do Amazonas para transmissão de aulas interativas via satélite para locais remotos do Estado.

O diretor de Inclusão e TV Digital do CPqD, Juliano Castilho dall’Antonia, apresentou uma experiência de uso da TV digital interativa, com o apoio de recursos audiovisuais para desenvolvimento das aulas, numa escola municipal de Hortolândia, próximo a Campinas. Roseli Lopes, do Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, que coordena um projeto-piloto do UCA, mostrou uma experiência na periferia de São Paulo onde há, de fato, um computador por aluno — e um por professor, que enfrenta o desafio de lecionar, sozinho, para cinco níveis de aprendizagem na mesma classe.

Segurança pública

Com uma linha de financiamento de R$ 6 bilhões, a serem aplicados até 2012, o Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci), do Ministério da Justiça, liberou este ano cerca de R$ 1 bilhão em contratos com 84 municípios de 18 estados. Os recursos estão sendo utilizados em projetos de tecnologia da informação nas polícias, com integração dos vários organismos envolvidos, e instalação de câmeras de monitoramento nas cidades. “Mais do que números, a definição de uma política pública na área da segurança marca o início da adoção, pelo país, de um novo conceito de segurança pública, que trata a problemática da violência como um problema de todos — polícias, governos  e sociedade José Luiz Maio de Aquino anunciou que a licitação de 150 mil laptops para o programa será relançada pelo Ministério da Educação e Cultura(MEC) civil”, explicou o general Mário Seixas, um dos palestrantes. “Acima de tudo, o Pronasci redefine o papel do município na construção da segurança pública”, destacou o general, secretário de Segurança Pública de Campinas, uma das cidades que implementou um centro integrado de monitoramento e já computa uma melhora substancial nos índices de violência.

O Rio Grande do Sul também registra os primeiros resultados na redução da criminalidade, obtidos a partir da integração de sistemas e da instalação de um serviço de 0800. De acordo com o major Adriano de Oliveira Bokerkis, estatísticas da Brigada Militar mostram que, nos locais monitorados, a criminalidade foi reduzida em até 60% nas primeiras semanas e o tempo de resposta da polícia se tornou bem menor. Em Minas, onde o governo investiu R$ 4,8 milhões em um programa para interligar sem fio as comunicações da Polícia Militar, já estão em funcionamento dois projetos: o Sistema Integrado de Defesa Social (SIDS) e o Sistema Integrado de Comunicação (SIC), que abrangem 40 municípios da região metropolitana de Belo Horizonte. O próximo passo é investir em radiocomunicação para criar uma rede digital em todo o território mineiro, como informou o tenente-coronel Cláudio Mendes, da Polícia Militar de Minas.

De acordo com Edgar Nunes, da Alcatel-Lucent, empresa que fornece a tecnologia para a Secretaria da Segurança Pública, o Estado de São Paulo é pioneiro no país no uso desse tipo de sistema, que envolve tecnologias em três áreas: broadcasting, aeronáutica e telecomunicações. Nos debates do painel de segurança, o diretor sênior de Relações Governamentais da Qualcomm, Francisco Giacomini Soares, defendeu o uso da faixa de 700 MHz para aplicações de segurança pública e propôs que o Brasil antecipe a discussão, prevista para 2016, sobre a destinação desse espectro, hoje ocupado pela radiodifusão.