Conexão Social – Computador para Todos – Quem vai cuidar da navegação

A conexão mais barata à internet ainda depende de decreto presidencial. Mesmo assim, operadoras de telecomunicações e provedores já estudam formas de oferecer e dar suporte ao serviço.


A conexão mais barata à internet
ainda depende de decreto presidencial. Mesmo assim, operadoras de
telecomunicações e provedores já estudam formas de oferecer e dar
suporte ao serviço.


O suporte aos novos usuários atendidos pelo
Computador para Todos inclui, além do software, o acesso à internet e
eventuais problemas com o hardware. Nos dois casos, ainda há questões a
serem resolvidas. A mais importante diz respeito à conexão a preços
mais baixos, que ainda depende de um decreto presidencial para
diferenciá-la do serviço convencional, prestado pelas operadoras de
telecomunicações. Enquanto o mercado aguarda a formalização da medida,
os provedores de acesso e as operadoras já se articulam para atenderem
os novos internautas. A Telefônica, a Brasil Telecom e a Telemar já
manifestaram seu apoio formal ao programa, assim como a Associação
Brasileira dos Provedores de Acesso, Serviços e Informações da Rede
Internet (Abranet).

O UOL, provedor de acesso e conteúdo, estuda até a criação de pacotes
especiais dirigidos a
Molento, do UOL: pacote de
conteúdo para público de baixa
renda.
consumidores de baixa renda que, no entanto, não
atendam a todas as exigências do programa Computador para Todos. O
objetivo é oferecer um valor agregado (conteúdos selecionados, de
esporte, entretenimento ou outros) e cobrar um pouco mais, explica o
diretor da empresa, Luiz Molento.

Pelas condições estabelecidas no programa, será oferecida uma conexão
discada a R$ 7,50 mensais (incluindo os impostos, a valores referentes
a julho de 2004), para 15 horas de navegação, cobrados na conta
telefônica. Só poderão contratar o serviço os consumidores que, nos
seis meses anteriores à sua solicitação, atenderem aos seguintes
pré-requisitos: não ser nem ter sido assinante de acesso em banda larga
à internet; e, se for assinante de telefone, não ter feito (nem ninguém
naquele domicílio) conexão discada à rede.

A primeira vez

A idéia é assegurar que o desconto no serviço, da ordem de 80% em
relação aos preços cobrados atualmente no mercado, beneficie apenas
cidadãos da classe C, ou de menor renda. De acordo com o consultor da
Telemar, Mario Dias Ripper, enquadram-se nas condições do programa do
governo mais de 3 milhões de pessoas. Ele considera dados do PNAD
(Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios) de 2002 e 2003, que
apontam 17% da população na classe C, ou cerca de 8 milhões de
domicílios. Desses, ele segmentou os domicílios que têm telefone, mas
não têm PC. Considerando, ainda, que 10% da população, nesse segmento
de classe, está em áreas que não dispõem de infra-estrutura para
internet discada.

Para entrar na rede pela primeira vez, o usuário do serviço
diferenciado de conexão fará um acesso para uma linha 0800 ou 4002 do
Comitê Gestor da Internet, para cadastrar um e-mail (nessa página, não
terá acesso à rede). Ali, após a criação do login (sua identidade na
conexão) e da senha, ele vai, pelo discador, escolher um provedor entre
os conveniados, e se conectará à internet. Poderá operar com mais de um
provedor, se quiser. Se navegar mais do que as 15 horas acertadas por
mês, o excedente será cobrado na conta telefônica, por minuto, com base
em valor pré-definido, que precisa ser informado ao consumidor na hora
da contratação, destaca Ripper.


Ripper, da Telemar: 3 milhões de
pessoas sem conexão no alvo do
programa.

Ainda há alguns problemas a serem resolvidos para que o acesso seja
feito, na prática, sem complicação. Entre outras medidas, diz Molento,
será preciso construir um cadastro nacional de provedores no Comitê
Gestor, e aperfeiçoar o discador baseado em Linux. O provedor
habilitado deverá estar vinculado à rede da mesma prestadora que atende
o usuário. E receberá uma numeração específica para fazer a bilhetagem
(ou cobrança) correta das chamadas destinadas a ele. As condições do
serviços serão informadas pelas equipes de atendimento das operadoras
de telecomunicações.

Máquina durável

O parceiro do governo, na área de assistência para o hardware, durante
a discussões do programa, foi a Fenainfo – Federação Nacional das
Empresas de Informática, que reúne prestadoras de serviços técnicos.
Sérgio Rosa, diretor do Serpro e coordenador-executivo do Computador
para Todos, afirma que está aguardando, da entidade, as suas
estratégias de ação. Esse suporte a eventuais falhas nas máquinas
também traz desafios, já que deve atender a uma população de baixa
renda e geograficamente muito dispersa pelo país, avaliou o diretor de
serviços da Cobra Tecnologia, Duílio Monroy, durante o painel.

Portanto, diz ele, será necessária uma estrutura de suporte técnico ao
hardware capaz de responder a chamados em todas as localidades, nos
mais distantes rincões. Razão por que os fabricantes de computadores
deverão dar muita ênfase na qualidade dos componentes e na manufatura
dos computadores, de forma a evitar que as máquinas venham a quebrar
com facilidade. Elas deverão ser projetadas para durar, no mínimo, três
ou quatro anos, sem apresentar defeito, destaca Monroy. E, ainda,
respeitando os padrões internacionais de segurança e de compatibilidade
eletromagnética.

No que diz respeito à Cobra, Monroy informa que a empresa manterá uma
central de atendimento
Monroy, da Cobra: máquinas de
qualidade
para reduzir defeitos.
para suporte integrado, de hardware e software,
preparada para dar toda a orientação possível aos usuários, que poderão
contar, também, com a assistência técnica da rede da Cobra, distribuída
nacionalmente. Além disso, o executivo acredita que pequenas empresas
locais, credenciadas pela Cobra, serão capazes de oferecer esse tipo de
assistência.

Essa questão, contudo, ainda não está bem esclarecida. O presidente da
Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação (Abrat),
Marcos Gomes, por exemplo, advertiu, durante o painel, que a indústria
só está preparada para prestar suporte técnico de qualidade nos grandes
centros. Ele se queixa de que a Abrat, que congrega cerca de 1,5 mil
empresas de todo os país, não foi chamada para participar das
discussões sobre o programa Computador para Todos. E sugeriu a
ampliação do debate, com o maior envolvimento de todas as entidades do
setor.

A mesma sugestão foi dada por Ralf Braga, gestor de projetos de TI da
The Source, desenvolvedora de software. “Temos que chamar as pequenas
empresas do país inteiro, para formar uma grande rede nacional de
suporte de hardware e software”, disse ele. E lembra que, segundo
estatísticas oficiais, apenas 6% da população brasileira têm
computador.