Conexão Social

Copa do Mundo, saúde e inclusão em debate.

Seminário Wireless Mundi reúne especialistas para discutir as 
contribuições das TICs para a melhoria dos serviços públicos e para o fomento da cultura digital

ARede nº 74, outubro de 2011 – As operadoras de telefonia móvel e as prefeituras brasileiras vão construir grandes redes WiFi, que vão se conectar às redes 3G e 4G das operadoras, para dar conta do tráfego a ser gerado pelos usuários durante a Copa do Mundo – a exemplo do que está acontecendo em Londres, que se prepara para as Olimpíadas de 2012.
Essa é a previsão de Rodrigo Uchôa, diretor de Novos Negócios da Cisco. Em palestra realizada no 10º Wireless Mundi, promovido pela Momento Editorial em São Paulo, no dia 6 de outubro, Uchôa afirmou que os investimentos com as redes de suporte de telecomunicações nas 12 cidades-sede e nas cidades sub-sede da Copa do Mundo de 2014 deverão variar entre R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões. Esses recursos referem-se somente à expansão da infraestrutura de transmissão e rede IP. As companhias também vão preparar seus sistemas internos para o aumento da demanda e vender serviços a quem puder pagar. Ainda não está claro que legados esses investimentos vão deixar para o país, mas uma coisa se sabe: as redes das prefeituras podem contribuir para ampliar o acesso não comercial à banda larga.

Mas não basta oferecer WiFi gratuito para ampliar a cultura digital dos cidadãos. As experiências de inclusão digital mostram que é preciso dar formação às pessoas para que possam entender o potencial do digital em suas vidas. Para contribuir com isso, o programa federal Telecentros.BR vai abrir o acesso à sua Rede de Formação também a outros programas públicos de inclusão digital, como as iniciativas de telecentros das prefeituras, e aos funcionários públicos municipais. Para Cristina Kiomi Mori, a Kiki, coordenadora do Telecentros.BR na Secretaria de Inclusão Digital do Ministério das Comunicações (Minicom), a alfabetização digital e o aprendizado para que o usuário se aproprie das tecnologias é tão essencial à inclusão digital quanto o acesso a infraestrutura e equipamentos. Em especial, diz ela,  em um país onde, até o ano passado, mais da metade da população nunca havia acessado a internet.

Kiki explica que esse conceito de inclusão e alfabetização digital deve ser aplicado ainda aos serviços públicos, que em muitos casos ainda não sabem lidar com a tecnologia. Restringem-se a promessas de WiFi gratuito.“Também queremos formar o servidor público, para enraizar essa cultura digital nos municípios”, disse Kiki, durante o 10º Wireless Mundi. “Tem município que nem faz a lição de casa interna [de melhorar serviços e se conectar] e quer oferecer WiFi gratuita na cidade inteira”, revela. Ela destaca que, nas classes D e E, no Brasil, 81% nunca acessaram a web – e as prefeituras precisam ter pessoas preparadas para atender e auxiliar esses cidadãos.

A meta do Telecentros.BR é formar 15 mil monitores de telecentros nos próximos dois anos, com participação nos cursos, nas redes de monitores e com bolsas para monitores, cedidas pelo CNPq. “Queremos oferecer bolsas também para telecentros comunitários e unidades de inclusão do programa Gesac”, disse Kiki.

A oferta de acesso gratuito, por meio de redes WiFi está se ampliando lentamente no Brasil. O Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) lançou, no último dia 16, WiFi público gratuito em pontos estratégicos da região central de Brasília. “Todo o ‘coração do avião’ já está coberto com banda larga grátis, revelou o superintendente de produtos e serviços do Serpro, José Gomes Junior, durante o 10º Wireless Mundi. “Foram escolhidos alguns pontos centrais em Brasília para oferecer WiFi, já visando a Copa”, acrescenta. Entre os locais de acesso estão o ainda não completo Estádio Nacional de Brasília e a Rodoviária do Plano Piloto. Vinod Rebello, professor da Universidade Federal Fluminense, também anunciou uma parceria de seu departamento com a prefeitura do Rio de Janeiro para oferecer internet sem-fio em Copacabana “em um ano”.

Cidades inteligentes
Os estádios de futebol de concreto e ferro deixarão de fazer parte do cenário das 12 cidades-sede da Copa do Mundo, no Brasil em 2014. Em seu lugar, estão sendo construídos 12 estádios inteligentes, com cabeamento de fibra óptica, controle automatizado de energia, gestão integrada, automação de ingressos, detector de incêndio informatizado e mais de vinte sistemas de captação e transmissão de sinais de áudio e vídeo.

Se esse é um dos legados que ficarão para o Brasil, ainda não está muito claro qual será o legado a ser deixado pelas TICs para as cidades inteligentes, alerta o diretor de novos negócios da Cisco, Rodrigo Uchôa. Ele espera que, pelo menos as novas áreas que estão sendo construídas pelas prefeituras de Recife e do Rio de Janeiro transformem-se em embrião das cidades inteligentes. Além dos estádios, Uchôa aponta o centro de comando e controle – que irá unificar a atuação das polícias – como a outra importante contribuição das TICs no apoio aos grandes eventos desportivos que ocorrerão no país.

Em sua décima edição, o seminário Wireless Mundi – além de discutir as estratégias de inclusão digital do país e o uso das tecnologias da informação e da comunicação pela perspectiva dos investimentos para a Copa e para as Olimpíadas – abordou o uso da computação em nuvem pelo governo, tratando da segurança, da interoperabilidade e da portabilidade dos dados na nuvem, além de discutir os avanços da sincronização com dispositivos móveis, como celular e notebooks. Outro painel do evento, que abrigou ainda diversas palestras técnicas, teve como tema a área de saúde, com foco no prontuário eletrônico e na integração das bases de dados nacionais da Saúde.

Com a regulamentação, no início de maio de 2011, do novo Sistema Nacional de Saúde, o país passa a construir um registro eletrônico para a saúde. A meta do Datasus, departamento responsável pelas áreas de TI e telecom do Ministério da Saúde, é que, em dois anos, 80% dos pacientes tenham seus dados médicos em um banco de dados. A integração dessas informações reduz o custo dos atendimentos, evita procedimentos repetidos, melhora a gestão do sistema de saúde.

O Datasus vai lançar ainda este mês edital de licitação para aquisição de sistema para limpeza de cadastro e ferramentas para colocar na web um sistema acessível por órgãos municipais, estaduais e federais destacou. O Ministério optou pela arquitetura SOA (sigla em inglês para arquitetura orientada a serviços), baseada nos princípios da computação distribuída, para que todos os municípios tenham acesso ao sistema. O SUS realiza, mensalmente, 280 milhões de procedimentos ambulatoriais, atendide 14 milhões de pacientes e faz 1 milhão de internações.

A arquitetura SOA foi a escolhida também pelo município de Belo Horizonte, que está partindo para a nova etapa do projeto Saúde em Rede. Na capital mineira, o prontuário eletrônico vem sendo utilizado desde 2002, conforme relatou, no painel sobre saúde, João Bosco Fernandes Jr., diretor de Sistemas e Informação da Prodabel, a empresa de Informática de BH. O sistema fornece o prontuário completo do paciente, com informações sobre agendamentos, atendimentos realizados, solicitações de exames e outros procedimentos, resultados de exames e medicamentos prescritos, tudo registrado em um prontuário único. Está implantado em todas as unidades básicas de saúde da cidade.

No mesmo painel, o chefe do Departamento de de Gestão e Investimentos da Área de Inclusão Social do BNDES, Marcelo Barbosa Fernandes, informou que o banco está discutindo com o Datasus a criação de uma linha de financiamento para a aquisição, pelos municípios, dos equipamentos para a informatização da saúde.

Leia as reportagens sobre esses temas na revista Wireless Mundi, disponível no site:
 www.wirelessmundi.inf.br.

{jcomments on}