conexão social - De receptores a protagonistas

De receptores a protagonistas

Projeto Ação Digital prepara jovens e adultos para a produção de conhecimento
Renato Godoy de Toledo

ARede nº 82 – julho de 2012

A ROTINA DE ESTUDOS de Madalena Glaênia Oliveira, de 19 anos, mudou para melhor com a criação dos blogs dos telecentros comunitários da cidade cearense de Russas, a 165 km da capital Fortaleza. A estudante passa três horas diárias em trânsito para cursar o quarto semestre de ciência da computação, em Mossoró (RN), a 90 km de Russas, o que a impede de se inscrever em algumas disciplinas oferecidas nos telecentros. Agora, com os blogs, ela pode fazer downloads de todo o conteúdo ministrado. “É muito importante para mim e para pessoas de outras comunidades que não podem comparecer às aulas”, aponta.

Os blogs comunitários, inaugurados oficialmente no dia 21 de junho, são mais um passo do Projeto Ação Digital (PAD), que desde 2007 é coordenado pela Secretaria Municipal de Educação e Desporto. O PAD visa universalizar o acesso à internet para os 69 mil habitantes da cidade, além de oferecer cursos gratuitos de capacitação em informática baseados em software livre. O programa já formou 1.856 alunos, de crianças a idosos, segundo levantamento realizado pela prefeitura em dezembro de 2011. O município tem atualmente 15 telecentros, 14 montados em parceria com o programa Telecentros.BR, do governo federal. Até o fim de julho, mais uma unidade deve ser inaugurada, esta em parceria com o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), vinculado ao Ministério da Fazenda.

A criação dos blogs tende a estreitar a relação com a comunidade, que pode atualizá-los com informações referentes à inclusão digital, às políticas públicas do município, à cultura local e à programação dos cursos das unidades. Os usuários deixam a condição de meros receptores de conhecimento para assumir a de protagonistas do processo de inclusão social e de difusão de informações.
Os telecentros do projeto têm 35 monitores, que recebem uma bolsa de R$ 241,50 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNpQ). São jovens formados em cursos regulares de 300 horas, com duração de um ano, realizados nos próprios telecentros. Além de dar assistência aos frequentadores das unidades, os monitores são responsáveis por atualizar os blogs, desenvolvidos sob a plataforma WordPress.

Os bolsistas, envolvidos no cotidiano das comunidades, podem redigir posts a partir das demandas apresentadas por moradores. “O objetivo é aumentar a conexão entre as comunidades. Os blogs colocarão em prática a produção e a difusão do conhecimento, objetivos da inclusão digital na cidade”, explica João Paulo Oliveira, coordenador e idealizador do PAD. O município oferecerá ainda um curso de 20 horas de língua portuguesa e técnicas de redação para os bolsistas realizarem as postagens. A monitora Mônica Costa, de 18 anos, conta que a população tem visto os blogs com entusiasmo: “Fizemos pesquisas entre os moradores mais idosos e pedimos para que contassem a história de cada comunidade”.

Os avanços em Russas são inegáveis, mas ainda há barreiras. Para o coordenador do PAD, um grande entrave para o programa tem sido o receio de parte da população de tomar contato com as novas tecnologias da informação. “Sobretudo na zona rural, o maior desafio é estimular a frequência aos telecentros. Há muitas notícias de golpes e crimes virtuais noticiados pela mídia. Isso preocupa a população. Mas, de maneira geral, o programa vem despertando a curiosidade dos moradores. E esse temor aos poucos deve desaparecer”, acredita. O município também está prestes a concluir a instalação de 12 antenas de banda larga via satélite, cedidas pelo programa Gesac, do governo federal, que possibilitarão o aumento do acesso à internet na zona rural. De acordo com o Censo 2010 do IBGE, é aí que se encontram 35% da população de Russas.

Cultura do software livre
Além de propiciar o acesso às novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), o programa tem formado adeptos do software livre, como revela o coordenador do PAD: “Poucos sabiam o que era o software livre. Depois do PAD, muitos dos alunos e bolsistas passaram a difundir e defender a importância desse tipo de ferramenta”, assegura. Ian de Araújo Lima, de 17 anos, frequentou os cursos do PAD em 2010. Hoje ele é monitor do projeto e considera-se um “apaixonado por software livre”. “As pessoas pensam que por ser gratuito não deve funcionar direito.
Explico que o principal não é a gratuidade, mas o fato de ter o código aberto. É uma questão de liberdade de expressão”, defende. Ian acrescenta que o envolvimento no projeto o ajudou a superar a sua timidez. Atualmente, o aluno, que pretende cursar ciência da computação em Mossoró, realiza debates sobre tecnologia e inclusão no município. Desde 2007, faz parte do calendário da cidade a Semana de Inclusão Digital, em que a importância do software livre é discutida por estudantes da rede municipal de ensino e por usuários dos telecentros.

Onde as coisas acontecem

Confira os blogs dos telecentros do Projeto Ação Digital (PAD)

Telecentros Projeto ABC
www.projetoacaodigital.com.br/sede

Comunidade de Ingá
www.projetoacaodigital.com.br/sitioinga

Telecentro dos moradores da Rua Araibu
www.projetoacaodigital.com.br/araibu

Telecentro da Av. Cel Araújo Lima
www.projetoacaodigital.com.br/araujolima

Poço de Onça
www.projetoacaodigital.com.br/pocodeonca

Córrego da Catita
www.projetoacaodigital.com.br/corregodacatita

Gracismões
www.projetoacaodigital.com.br/gracismoes

Melancias
www.projetoacaodigital.com.br/melancias

Timbaúba dos Simplícios
www.projetoacaodigital.com.br/timbauba

Sítio Paraíso
www.projetoacaodigital.com.br/sitioparaiso