Uma pequena cidade, um grande progresso.
Programa ação digital traz desenvolvimento e conhecimento para a população de russas, no ceará.
Fred Ghedini
ARede nº63 Outubro de 2010 – A população da cidade cearense de Russas, localizada a 165 km da capital e a 80 de Mossoró (RN), em breve deverá dar um salto em termos de inclusão digital. Com 68 mil habitantes, a cidade é o polo econômico, político e administrativo do vale do Jaguaribe. Por isso, dos 66 telecentros que o estado do Ceará está recebendo do governo federal, Russas ganhará nada menos do que 13, enquanto a capital, Fortaleza, terá apenas cinco. Esse grande aporte de acesso público e gratuito à internet se deve ao Programa Ação Digital (PAD), articulado pela Secretaria Municipal de Educação e Desporto.
O PAD foi implantado em 2007 pelo bacharel em ciências da computação João Paulo de Oliveira, um jovem de apenas 25 anos que hoje coordena a iniciativa. Desde então – e até o primeiro semestre de 2010 –, o projeto instruiu em tecnologia de software livre 120 alunos dos últimos anos do ensino fundamental e também do médio, vindos principalmente da zona rural da cidade. Divididos em turmas de 20, eles são escolhidos por meio de processos seletivos bastante concorridos. “Inicialmente, a ideia era formar os 20 alunos da primeira turma, e só”, relata o jornalista recém-diplomado Higo Lima, coordenador de comunicação. A proposta foi tão bem-sucedida que acabou se consolidando. Por meio de decreto, transformou-se em política pública da Secretaria Municipal de Educação de Russas.
O núcleo central do PAD tem duração de 332 horas, com formação em software livre. Mas constam do currículo 21 disciplinas – ética e cidadania, inglês instrumental e linguagem HTML, entre outras. “Esses estudantes saem capacitados para trabalhar na área de informática e também para atuar como multiplicadores daquilo que aprenderam”, diz Lima. Alguns já estão estagiando no Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e no INSS. Em Russas, quatro participantes do curso são também facilitadores. Por essa função, recebem uma bolsa mensal de R$ 200,00, paga pela prefeitura. Porém, o curso de software livre não se restringe apenas aos alunos da rede pública. Professores, idosos, pais dos estudantes e até deficientes visuais podem assistir às aulas, com pequenas adaptações de conteúdo e o formato.
VOLUNTÁRIOS
Todas as atividades são realizadas por voluntários. Como João Paulo de Oliveira e Higo Lima, ambos de Mossoró. As exceções são os estudantes bolsistas, a secretária, a coordenadora pedagógica Alzenir da Silva e a professora Márcia Santiago, que trabalha em tempo integral e ocupa o cargo de coordenadora executiva. A cada mês, todos se reúnem para avaliar os trabalhos e planejar os próximos passos.
Entre os eventos realizados pelo PAD em 2009, destaca-se a Primeira Semana de Inclusão Digital (Semid). Oficinas, exibição de filmes e um mutirão de palestras cobrindo todas as escolas do município tiveram um público de 1.700 pessoas. Em 2010, a 2ª Semid, programada para o início de dezembro, deve receber 2 mil pessoas, segundo estimativas de Higo Lima.
Adriano Ferreira Martins, 19, fez o curso no primeiro semestre de 2009. No segundo, tornou-se monitor e recebeu uma bolsa. Mudou da casa da família, na zona rural, alugou um apartamento na cidade e não precisa mais percorrer de bicicleta os nove quilômetros entre o Sítio Coaçu – onde continuam morando os pais e parte dos irmãos – e Russas. Entusiasmado com os novos conhecimentos, resolveu sair a campo para pesquisar, junto a 48 usuários de telecentros, as mudanças que o acesso a esse espaço público de informática teve em suas vidas. O resultado dessa investigação, apresentado na Semid de 2009, foi também um dos trabalhos de iniciação científica selecionados para apresentação na Reunião Regional Nordeste da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Mas não ficou só nisso. O estudo de Martins ainda lhe abriu as portas para a Semana Nacional de Inclusão Digital, em Brasília (DF). Continuando sua trajetória de sucesso, Adriano foi um dos aprovados, em meados de 2010, na seleção dos 56 monitores dos novos telecentros, que deverão estar em operação até dezembro. Na ocasião da reportagem para ARede, contou que só faltava enfrentar a entrevista, a última etapa do processo. Estava confiante que passaria. E já traça planos para o futuro. Martins pensa em formar-se engenheiro agrônomo, sem deixar de lado, porém, o trabalho voluntário no Programa Ação Digital: “Vou fazer por outras pessoas pelo menos uma parte do que fizeram por mim”, declara.
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