Casa Rio Digital:Aposta na formação.
PROGRAMA MUNICIPAL DE INCLUSÃO DIGITAL PRIORIZA A OFERTA GRATUITA DE CURSOS E OFICINAS PARA COMUNIDADES DE BAIXA RENDA.
ARede nº68 abril/2011 – Pausa no baile funk da favela. O som diminui e o DJ dá o recado: “Beleza galera! Quero convidar vocês pro curso de manutenção de computadores que rola lá na Casa Rio Digital, no prédio do Rinaldo De Lamare. É só levar um documento de identificação e comprovante de residência pra faturar a sua vaga. Valeu, vamos dançar que o baile não tem hora pra acabar!”. Ao longo da noite, o agito é interrompido mais duas ou três vezes e a moçada fica sabendo também que pode aprender a fazer um currículo ou participar de oficinas de formação profissional na área de informática. Tudo gratuitamente. Essa foi a forma que Rogério de Jesus Pessoa de Souza, supervisor da Casa Rio Digital Rocinha (e DJ nos finais de semana) encontrou para divulgar, diretamente aos principais interessados, as atividades do programa de inclusão digital idealizado pela Secretaria Especial de Ciência e Tecnologia (Sect), do município do Rio de Janeiro. Fora os bailes, Rogério ainda fez anúncios em escolas, igrejas e associações da comunidade.
Morador da Rocinha, ele conhece 60% dos cerca de 150 usuários da unidade que supervisiona, aonde vão pessoas não só do bairro de São Conrado, mas também de outras comunidades, como Vidigal, Vila Canoas e Gávea. A Casa Rio Digital Rocinha foi inaugurada em 2010, mas começou a funcionar este ano. Para atender o público, além do supervisor, há mais três tutores. Todos trabalham em regime de 40 horas, contratados pela prefeitura. O horário de funcionamento da Casa é das 8h às 19h, de segunda a sexta, para cursos e oficinas, com acesso livre à internet das 12h às 15h.
O espaço foi montado com o kit do programa Telecentros Comunitários, do Ministério das Comunicações. São 20 máquinas conectadas à internet – mas pela rede da prefeitura, que já servia ao Centro de Cidadania Rinaldo De Lamare, onde a comunidade dispõe de outros serviços públicos. A conexão via satélite Gesac, que faz parte do kit foi cedida a outra unidade do programa.
Atualmente com dez Casas Digitais, o programa do município do Rio de Janeiro tem como meta chegar a 16 unidades, até o final deste ano. Já estão em funcionamento as Casas de Bangu (dentro do Poupatempo), do Centro Integrado de Atendimento ao Deficiente Mestre Candeia (Ciad, que fica no Centro), na Maré, no Realengo, na Reta João XXIII, na Rocinha, em Santa Cruz, na Vila Kennedy. Mais dois estão em fase de implantação, no complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro. Nas outras unidades, o número de máquinas e monitores varia de acordo com o tamanho do espaço. A maior parte, tem dez máquinas e um ou dois monitores.
“Nossa prioridade são os cursos”, justifica Bárbara Brígida Lisboa de Andrade, coordenadora do Programa Casa Rio Digital. Por enquanto, acontecem duas formações na área de tecnologia da informação. Uma em parceria com a empresa Cisco, que oferece o curso IT Essencials, para maiores de 18 anos, ou para estudantes que estejam terminando o ensino Médio. Outra formação tem como base o programa Intel Aprender, com os cursos Tecnologia no Trabalho e Tecnologia e Comunidade, para jovens entre 12 e 18 anos. Em breve, começará um curso de inglês, em parceria com o Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos.
Mas nem só os jovens desfrutam da Casa Rio Digital. A alfabetização digital é outra atividade bastante procurada. A moradora da Rocinha Célia dos Santos Araújo, de 54 anos, procurou a unidade porque queria aprender a mexer no computador. Estoquista há oito anos, ela lamenta já ter perdido oportunidade de um emprego melhor porque não sabia nada de informática: “Meus filhos entendem, mas não têm paciência. Vim aprender com quem está preparado para me ensinar!”.
Célia já fez três aulas, começando pelo be-a-bá. “Na primeira vez, o monitor me apresentou o computador. Me ensinou a ligar e desligar, me mostrou o que tem por dentro…”. Ela sai do trabalho às 15h e vai para a Casa Rio Digital Rocinha. Em breve, terá a companhia do esposo: “Sabe como é homem, né? Não querer ficar por baixo. Se eu estou aprendendo a mexer no computador, ele também quer aprender!”.
SOB CONTROLE
Focada na oferta de cursos e oficinas, a Casa Digital Rocinha oferece acesso livre apenas no horário de almoço, entre as grades de atividades dirigidas, da manhã e da tarde. Mesmo nesse horário, o acesso às redes sociais está bloqueado. Mas nem por isso a galera – predominam estudantes de 12 a 16 anos – fica sem Facebook ou Orkut. Há um ponto de acesso que pega o sinal do programa Rocinha Digital, rede do governo do estado do Rio de Janeiro que não tem restrições de acesso.
Outro mecanismo de controle ainda em teste, uma câmera de monitoração deverá exibir à central de gestão do programa, em tempo integral, todas as movimentações na sala. “É uma questão de segurança e também para acompanharmos se os monitores estão realizando o trabalho de acordo”, revela Antônio Carlos da Silva Filho o técnico responsável pela instalação do equipamento.
Como estratégia de sustentabilidade e expansão do programa, a ideia é criar comitês gestores nas unidades, em articulação com as comunidades locais. Na Rocinha, algumas iniciativas já começam a acontecer. O supervisor Rogério firmou uma parceria com a associação Acadêmicos da Rocinha, que mantém o projeto Qualificar, com cursos gratuitos de informática. “Vamos usar a oficina de manutenção de computadores da Acadêmicos para aulas práticas de nossos cursos. E eles vão trazer as crianças deles para os nossos cursos de alfabetização”. A coordenadora do programa, Bárbara, conta que também estão em elaboração atividades junto à Secretaria de Assistência Social, à Secretaria Especial de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida e ao Instituto Reação.
Capital da inovação e do conhecimento
O Programa Casa Rio Digital é apenas uma das iniciativas dentro de um amplo programa de inclusão digital capitaneado pela Secretaria Especial de Ciência e Tecnologia (Sect), do município do Rio de Janeiro (RJ). “Para além do conceito de cidade digital, que remete à questão da infraestrutura, nossa proposta é combinar tecnologia com economia digital. Queremos nos tornar a capital da inovação e do conhecimento”, diz o secretário Franklin Coelho.
Uma das novidades de grande impacto social, prevista para o final deste ano, é a abertura ao público da Praça do Conhecimento, que está sendo construída no bairro de Padre Miguel, zona Oeste, um dos locais mais populosos da cidade do Rio de Janeiro. “Trata-se de um complexo cultural e educacional que vai abrigar uma nuvem do conhecimento, com ações integradas entre diversas secretarias”, explica Coelho. Entre as atividades programadas para o espaço, que terá cobertura de rede sem-fio para acesso gratuito à internet, estão telecentro, biblioteca, cinema ao ar livre, ambientes para exposições. Coelho ressalta que as articulações para oferta de atividades estão em andamento, mas que a principal vocação da Praça é abrir oportunidades para a comunidade promover suas próprias iniciativas.
Também parte do projeto global da Sect, Rede Rio Digital, a rede Comep deve terminar a primeira fase de implantação, em maio, com 28 pontos implantados. Até o final deste ano, a meta é cobrir mais 400 pontos, de um total de 2 mil pontos previstos no projeto total. Dentro do programa Ilumina Rio, de cobertura sem-fio, no final de 2010 começou a funcionar a rede de Santa Cruz, na zona Oeste. Coelho revela, ainda, que já foi entregue à prefeitura, que deverá encaminhar à Câmara de Vereadores, um projeto de criação da Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio de Janeiro (FapRio). Será a primeira fundação de apoio à pesquisa municipal do país.