Conexão Social

Como se forma uma rede?

Imagens da interação entre monitores mostram uma rede emergindo, na formação do Telecentros.BR.

Patrícia Cornils

ARede nº72 agosto de 2011 – Em quatro anos de atividade, o projeto Casa Brasil implantou 90 unidades. Durante todo este período, a rede online de seus monitores e gestores – onde havia cursos à distância – chegou a ter 12,35 mil usuários e registrou 24,2 mil conversas. O Conversê, fórum de discussão dos intergrantes dos pontos de cultura, ficou no ar durante três anos. Chegou a ter 13,7 mil usuários e registrou 3,9 mil conversas online. 
Os participantes desse fórum, embora em número maior, conversavam muito menos do que os do fórum do Casa Brasil. E o Telecentros.BR? Em seis meses, a ferramenta de chat disponível no site da Rede de Formação chegou a 1,2 mil usuários. Um número menor do que a diferença entre os participantes das redes do Casa Brasil e do Conversê. Mas que se comunica muito, muito mais: o chat da rede de formação registrou 54,5 mil conversas em meio ano. Até agosto, havia 1,3 mil monitores de todo o país participando do processo de formação do Telecentros.BR. Mais de 90% deles trocam informações pelo chat do site. Como o uso da ferramenta é independente das tarefas da formação, não é preciso usar o chat para cumprir nenhuma das etapas da educação à distância. Isso significa que esses diálogos são espontâneos.

Um dos objetivos mais importantes de qualquer programa de inclusão digital é a formação de rede entre os monitores. Os monitores atendem usuários, organizam as atividades nos telecentros, fazem a ponte entre os telecentros e os interesses da comunidade. São responsáveis por manter as unidades do programa vivas. Grande parte do aprendizado dessas pessoas, na prática, se dá nesta experiência. Assim, um processo de formação precisa oferecer os instrumentos para resolver problemas e elaborar projetos neste dia-a-dia. Neste caso, o instrumento é a rede, a interação. As conversas entre os monitores, antes mesmo de concluído seu processo de formação, indicam que uma rede está emergindo no Telecentros.BR.

Por mais importante que seja essa articulação, não é todo projeto de inclusão digital que consegue realizá-la. Principalmente porque ela depende do interesse dos monitores, para acontecer, e de instrumentos preparados para recebê-los, quando a conversar começar. Assim, desde que começaram as conversas para estruturar a Rede de Formação do Telecentros.BR, a Escola do Futuro da Universidade de São Paulo, responsável pelo polo nacional, propôs uma série de medidas para, passo-a-passo, despertar esse interesse. 
E ressaltar o potencial da atuação em rede.

Já nas primeiras discussões, em novembro de 2010, foi decidido que haveria espaços de encontro – presenciais e online – para monitores de todo o Brasil, e não apenas de conversas entre pessoas da mesma região. A diversidade entre as regiões é uma das riquezas da rede. Outra decisão foi a de criar um espaço de conversa dentro da plataforma Moodle, de formação à distância, mas fora das tarefas da formação à distância. Um lugar onde o monitor não estaria respondendo a perguntas de seu tutor, nem entrando para responder a demandas relacionadas ao conteúdo da formação. O que 
se ganhou com isso? Um espaço de acolhimento, onde os monitores podem encontrar seus pares, compartilhar ideias, desenvolver uma visão mais múltipla do que são os 
telecentros pelo país.

O resultado dessa estratégia está nas figuras abaixo. Isso também é novo. O Telecentros.BR é o único programa de inclusão digital do governo federal a recolher esses dados de formação de rede. Com isso, tem agora com um instrumento para avaliar os próximos passos. Os gestores do programa podem, por exemplo, programar os encontros presenciais dos monitores de acordo com os interesses manifestados nas conversas. Podem ver que temas e histórias geram maior interação e propor tutoriais ou debates. Podem criar novos conteúdos geradores para a formação, a partir das informações que recebem nessa interação entre as pessoas. Identificar as possibilidades ou necessidades de formar subgrupos de formação. Contratar alguns desses monitores como tutores para os próximos grupos que vão passar pela formação. Identificar territórios e demandas parecidas e fazer oficinas itinerantes. Decidir os rumos do programa a partir dos dados fornecidos pela base, por meio da rede.

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