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Empresas apoiam qualificação profissional

Programa realizado no Rio de Janeiro ensina tecnologia e
gera empregos entre jovens de baixa renda
Lia ribeiro dias

ARede nº 84 – setembro de 2012

EM AGOSTO, mais uma turma se formou no programa Forsoft, que capacita jovens de baixa renda em tecnologias da informação e da comunicação. Já são mais de 500 beneficiados pelo projeto desde 2009, dos quais uma parcela considerável está empregada e atua em funções de programador. Eles aprendem as linguagens Java e .Net.

Esta edição do Forsoft foi bancada pela Delphos, desenvolvedora de softwares e sistemas. O curso reuniu 32 jovens de sete comunidades carentes próximas à sede da empresa no Rio de Janeiro, no bairro do Rio Comprido: Escondidinho, Fogueteiro, Querosene, São Carlos, Coroa, Fallet e Mineira. Participaram também familiares de funcionários da empresa. Focar a ação nos arredores geográficos tem motivo, afirma Eduardo Menezes, presidente da Delphos: “Além de favorecer as pessoas da região, é um modo de trazer para a empresa pessoas dedicadas, que cresceram ouvindo falar da gente e desejando trabalhar aqui”.

Para fazer o curso de programação em Java, os alunos precisavam ter 24 anos e segundo grau completo. Eles fizeram uma prova presencial em janeiro, que eliminou 218 dos 250 inscritos. A chamada para as inscrições foi feita por panfletos e cartazes colocados em padarias, farmácias, bares, além da portaria da empresa. O programa Forsoft, nome também da metodologia utilizada, resultou de parceria entre a Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex).

A Softex desenvolveu a metodologia, o MCTI forneceu o material e a Brasscom reuniu as empresas apoiadoras. A iniciativa começou pretensiosa: curso de um ano ministrado por ensino a distância. Aconteceu com esse formato em 16 cidades, para 500 jovens, com apoio de 14 empresas-madrinhas. Empresa-madrinha é a que financia as despesas do estudante (vale transporte e vale refeição) e se compromete a contratar 30% dos jovens que ajuda a selecionar.

Mas o modelo se revelou pouco eficaz, com alta evasão. “Verificamos que o ensino de programação requer aulas e monitoria presenciais. Além disso, a duração não pode ser superior a seis meses, tempo limite que as famílias podem prescindir da ajuda financeira desses jovens”, conta Ricardo Saur, ex-diretor da Brasscom, que esteve à frente do projeto no início.

Assim, o programa foi revisto, adotando-se o curso presencial com monitoria. Nesse período, a Brasscom deixou a parceria. Seu lugar foi assumido pela Assespro-RJ, instituição que reúne as empresas de software do estado. O MCTI continua como parceiro, mas outras instituições passaram a apoiar a iniciativa, agora limitada ao âmbito do Rio de Janeiro.

Esta turma, a terceira do Forsoft no Rio, foi a primeira a ter o curso totalmente custeado por uma única empresa. A Delphos investiu R$ 92 mil no projeto, que teve apoio da Assespro e da RioSoft. O curso começou em março, com quatro horas diárias de aulas, e foi concluído em julho. Os formandos não admitidos pela Delphos serão encaminhados a companhias parceiras. O sucesso do treinamento foi tão grande que a empresa pretende continuar no próximo ano, formando uma nova turma de profissionais.

O que há de diferente no Forsoft, de acordo com Álvaro Cysneiros, vice-presidente da Assesspro-RJ, é o envolvimento direto das empresas no projeto. “Há um problema de mão de obra, as faculdades formam menos profissionais de TI do que as empresas absorvem. Já o curso forma profissionais para qualquer empresa, tanto na área de infraestrutura como na de programação. Assim, facilita a entrada do jovem no mercado de trabalho, permite a ele, durante o curso, conhecer o trabalho dentro da empresa e facilita o desenvolvimento de sua carreira”, diz.

Menezes, o presidente da Delphos, concorda. “O programa é importante porque tem dois focos: o primeiro é beneficiar jovens de baixa renda, oferecendo uma formação condizente com as necessidades do mercado de trabalho atual e conseguindo uma colocação para eles. O outro é propiciar para as empresas pessoas capacitadas para trabalhar como programadoras em estágio inicial de carreira. O mercado até tem mão de obra, mas faltam iniciantes”, observa.

Diogo Ferreira, de 27 anos, se destacou entre a turma. Seu currículo chamou a atenção e lhe rendeu um posto de trabalho na Delphos. “Sou formado em ciência da computação e já vinha procurando cursos do tipo para fazer, mas custavam mais de R$ 7 mil. Me inscrevi e foi uma ótima oportunidade, que somou bastante para meu conhecimento”, reflete. Seu colega, Rodrigo Elias, de 19, também foi chamado para trabalhar na Delphos, seu primeiro emprego: “Pude aprender com professores excelentes, conseguir uma colocação profissional e conhecer novas pessoas”.