Força voluntária
Na Escola de Informática e Cidadania, Profissionais ensinam a técnica por meio de debates e reflexões sobre questões de cidadania
João Varella
ARede nº 87 – dezembro de 2012
PELOS CORREDORES da multinacional Unisys circulam técnicos de tecnologia da informação com capacidade para resolver problemas de alta complexidade envolvendo equipamentos de ponta. Segurança de dados, computação em nuvem e soluções de TI corporativas são algumas das marcas da corporação. Porém, no entorno das unidades da empresa no Brasil muita gente mal sabe ligar um computador. A partir dessa realidade, a Unisys criou a Escola de Informática e Cidadania (EIC), que coloca profissionais especializados para ajudar quem está ensaiando os primeiros cliques em um teclado. No início do projeto, em 2004, o principal público era formado pelos próprios funcionários da Unisys Brasil. Hoje, a maioria são moradores de baixa renda dos bairros onde a companhia tem presença.
Nas EICs, o ensino do uso das ferramentas digitais vai além da visão instrumentalista. O aprendizado se dá por meio de uma metodologia orientada à temática cidadã. A proposta é incentivar os alunos a refletir sobre suas realidades de vida e discutir seus direitos e deveres. Os alunos escolhem um assunto e debatem na sala de aula. Também aprendem a usar o computador e a internet para desenvolver conhecimentos sobre o tema escolhido. “Os interesses são variados, vão desde delinquência infantil até culinária, por exemplo”, conta a gestora do projeto e gerente de marketing da Unisys Brasil, Maria Antônia da Costa. Segurança, trabalho, sustentabilidade, racismo, reciclagem de lixo e uso racional da água foram temas já tratados pelos educandos.
A primeira escola foi montada em São Paulo, em maio de 2004, graças ao trabalho voluntário dos funcionários. A ideia deu frutos. Um ano depois, voluntários de Belo Horizonte abriram uma EIC. Em 2009, a unidade fluminense começou a funcionar. Os técnicos de Brasília planejam criar a sua EIC em breve. “Estamos estudando a disponibilidade dos educadores, pois precisamos ter ao menos oito para tocar uma classe em cada semestre”, diz Maria. Para se tornar um educador da EIC, o voluntário precisa passar por uma capacitação e começar como auxiliar de um educador, até ganhar experiência para assumir uma turma.
O curso, que tem parceria com a Microsoft, tradicionalmente capacitava para o uso de programas Office e fornecia noções básicas de internet. Em 2011, os alunos da capital mineira passaram a ter formação em Ubuntu, sistema operacional de código aberto baseado em Linux. A receptividade ao software livre foi tão positiva que este ano os paulistanos agregaram as plataformas livres a seu programa de aprendizagem.
A EIC, segundo Maria, tem também a função de desenvolver o espírito de solidariedade entre os funcionários. Favorece novas oportunidades de aproximação entre as pessoas, fora da formalidade e da hierarquia do ambiente de trabalho, conforme relata a mineira Simone Márcia Costa, de 44 anos. “A gente mais aprende do que ensina para os alunos”, conta ela, que diante de questões que não domina, faz pesquisas para se aprofundar e levar as respostas aos educandos. Simone, formada em Processamento de Dados, diz que essa é uma boa razão para testar as plenas capacidades dos softwares. Bianca de Paula Borges, colega de Simone como educadora na EIC do Rio de Janeiro, destaca que o curso também ajuda pessoas da terceira idade a ter voz na rede mundial. “Em 2011, uma aluna de 74 anos que participava de ações ativistas, como manifestações, não acreditava que pudesse aprender a utilizar a informática. Na formatura, ela disse que com o conhecimento que adquiriu já estava confeccionando o próprio site, realizando um antigo sonho”, conta Bianca.
Graças a Simone, Bianca e os outros 65 educadores voluntários, mais de mil alunos já passaram pelas unidades das EICs desde 2004. Em 2012, a intenção é formar mais 49 alunos. Para 2013, a meta é dobrar o número de classes. Pelo andar da carruagem, não será necessário fazer grandes anúncios para ocupar as salas de aula. “Hoje os cursos são conhecidos na base do boca a boca e sempre lotam”, diz a gerente de marketing.