conexão social – Formação e emprego: acesso à dignidade

Formação e emprego: acesso à dignidade

CPqD forma pessoas com deficiência e menores para trabalhar com TICs. A maioria é empregada pela instituição.
Thiago Blumenthal

ARede nº 84 – setembro de 2012

O CENTRO DE PESQUISA e Desenvolvimento (CPqD), de Campinas, no interior de São Paulo, iniciou em agosto as aulas da quarta turma do programa Qualificar para Incluir. Direcionado a pessoas com deficiência e menores aprendizes, o curso visa aperfeiçoar os conhecimentos dos participantes em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). A iniciativa começou em 2008. E formou, até este ano, 150 pessoas. A maioria já trabalhava com TICs e se inscreveu para aprofundar seus conhecimentos, ou aproveitou a oportunidade para redirecionar carreira. Cerca de 85% dos alunos são contratados pelo próprio CPqD, ou são absorvidos pelas empresas locais – uma vez que a região é um dos mais importantes polos tecnológicos paulistas. “Com o Programa Qualificar para Incluir, estamos dando nossa contribuição para inserir pessoas com deficiência no mercado de trabalho de TICs e ajudando a reduzir o déficit de mão de obra especializada na região de Campinas, que hoje demanda uma quantidade cada vez maior de profissionais capacitados na área”, comenta Gino Rossi, diretor de Recursos Humanos do CPqD.

O curso, que tem carga horária de 328 horas, se divide em aulas teóricas e práticas ministradas duas vezes na semana ao longo de 14 meses. Quem dá as aulas são professores da SQi Treinamentos, empresa contratada pelo CPqD. Algumas das disciplinas são Lógica de Programação, Programação em Java, Java Script e Programação Orientada a Objeto. Porém, antes de colocar a mão na massa e partir para a linguagem digital, os estudantes reforçam suas habilidades comunicativas. “Simulamos com os alunos um contexto de atendimento para treinarem oratória, comunicabilidade e a língua portuguesa, algo que outros cursos técnicos não oferecem”, explica Daniel Francisco da Silva, responsável do CPqD pelo curso.

Uma premissa do programa é facilitar ao máximo o acesso de seus participantes às aulas, a fim de evitar evasão. Por isso, os estudantes recebem o material didático sem qualquer custo e dispõem de uma linha de transporte gratuito, partindo do centro de Campinas até a sede do CPqD (situada no km 118,5 da Rodovia Campinas-Mogi Mirim).
No futuro, a ideia é estender o programa a regiões vizinhas, aumentando a quantidade e o tamanho das turmas. Mas um cronograma nesse sentido ainda não foi definido. “Estamos evoluindo a cada ano. Em 2011, por exemplo, algumas empresas nos ajudaram a compor a estrutura do projeto”, diz Daniel.

Novas perspectivas
Alexandre Cândido, 37, é um dos recém-formados da terceira turma. Jogador profissional de basquete em cadeira de rodas, ficou sabendo do programa por meio de um amigo que se formou no segundo grupo. Sempre viu os computadores como uma ferramenta, em vez de uma porta para outra carreira, mas o curso lhe deu outra perspectiva: “Foi uma lição de vida muito grande. Nesses 14 meses, a gente faz amigos, chora, ri, se diverte e sente que está construindo algo melhor não só para a gente, mas para a sociedade”. Satisfeito com os resultados, ele já aplica rotineiramente o conteúdo aprendido na disciplina de comunicabilidade. Segundo ele, aprender a lidar com o outro no ambiente profissional e até a se portar de maneira correta em diferentes situações do cotidiano fizeram toda a diferença, mesmo no esporte. “Eu conheci mais de mim mesmo e consigo me relacionar melhor com quem está ao meu lado”, revela.

Mais 42 alunos se formaram na turma de Alexandre. Eles completaram o treinamento e receberam os certificados em uma cerimônia realizada no final de junho, no auditório do CPqD. O orador da turma foi Marcelo Jacinto Ribeiro, 42, escritor. Ele sofreu um acidente na adolescência que reduziu sua capacidade de locomoção. Em 2004, uma infecção no fêmur limitou um pouco mais sua mobilidade, dificultando a volta ao trabalho de comerciante. Por isso decidiu fazer o curso, no qual se destacou. Seu desempenho fez com que o próprio CPqD o contratasse. “No começo, não tinha muita ideia. Era só mais um ‘curso de informática’, mas foi uma surpresa boa saber que ia muito além disso, que era um ‘curso da vida’. Aprendemos todos a voar”, conta ele.

As inscrições para a quarta turma, já foram encerradas, mas é importante ficar atento. A expectativa é de que uma nova turma seja criada quando a atual se formar, em 2013. O candidato deve ter no mínimo 17 anos, estar cursando a segunda série do ensino médio (pelo menos) e ter deficiência comprovada, segundo os critérios da legislação em vigor. Até a terceira turma, apenas pessoas com deficiência de locomoção podiam se candidatar. Já a quarta abriu vagas também para pessoas com deficiência visual, que usam o software Texto Fala (desenvolvido pelo próprio CPqD) para acompanhar as aulas. O curso é aberto, ainda, para menores aprendizes, que ficam com 15 das 80 vagas. 

www.cpqd.com.br