Inclusão de educadores
Plataforma ajuda gestores e educadores no acolhimento de alunos com necessidades especiais Carmen Nery
ARede nº 85 – outubro de 2012
“A LÓGICA DA inclusão não é preparar o aluno para entrar na escola, mas preparar a escola para receber o aluno”, define Augusto Galery, coordenador do portal Diversa, criado em 2011 pelo Instituto Rodrigo Mendes (IRM). O instituto aliou tecnologia à experiência de 18 anos em educação inclusiva para ajudar a tirar do papel as políticas públicas e diretrizes nacionais que em 2007 e 2008 obrigaram escolas regulares a receber crianças com necessidades especiais.
“O grande impacto foi na escola pública, pois as escolas particulares encontram meios para recusar esse aluno. A criança especial, que estava na escola segregada, teve de ir para a escola regular pública, mesmo que frequentasse também a especial. O decreto 6571/08 obrigou a escola a se instrumentalizar para receber este aluno. Em 2011, voltou a possibilidade de o aluno frequentar a escola especial, mas manteve-se a determinação de que, se um pai quiser matricular o filho em uma escola regular, a criança deve ser aceita”, explica Galery.
Até 2005, o instituto dirigia o foco das ações aos alunos de escolas públicas, mas constatou que poderia gerar ganhos em escala se passasse a trabalhar também com os professores – que resistiam à inclusão por não se sentirem capacitados. A partir dos cursos promovidos para os professores, os gestores do IRM perceberam que eles gostavam muito de ter acesso a conteúdos e que alguns já tinham práticas bem inovadoras na educação inclusiva. Foi assim que nasceu o Portal Diversa, uma plataforma para troca de experiências e construção de conhecimento em educação inclusiva. Entre outros conteúdos, o site divulga principalmente casos bem-sucedidos de inclusão nas escolas regulares. Os casos são identificados com apoio do Ministério da Educação (MEC) e União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Unidme). E os pesquisadores do Diversa visitam as famílias para colher informações.
Os depoimentos são registrados em vídeos e vão compor estudos de casos que, além de ficarem disponíveis no portal, subsidiam as formações para professores. Assim, o projeto do Diversa se tornou uma espécie de núcleo de pesquisa e tem sido fonte de referências para educadores, gestores de instituições educacionais e outros profissionais comprometidos com a educação inclusiva. Regularmente também são postados novos conteúdos destinados à formação de educadores da área, como artigos e relatos de vivências.
Com essa proposta de elaboração contínua e compartilhada de conhecimento entre as instâncias educacionais, acreditam os responsáveis pelo projeto, será possível acelerar a inclusão de mais de 300 mil crianças com deficiências atualmente fora das escolas.
O IRM desenvolveu um modelo de pesquisa e ensino que pode ser desdobrado em projetos na comunidade escolar. As bases dessa metodologia levam em conta as políticas públicas, a gestão da instituição, as práticas pedagógicas, as famílias dos portadores de deficiência e dos não portadores, e as parcerias que apoiam a escola. Os estudos de caso desenvolvidos a partir desse modelo são utilizados hoje como bibliografia de cursos de formação, incluindo o novo curso telepresencial, que vai beneficiar, em 2012, cerca de 300 educadores e gestores em 11 cidades.
“Como decorrência do novo posicionamento, fomos convidados para um congresso da Agência Europeia que trata do tema da inclusão, com participação de 18 países da Comunidade Econômica Europeia. Além disso, temos hoje resultados quantitativos expressivos: 86 mil visitas no portal e capacitação de 10 mil pes-
soas”, enumera Galery.
No portal, os especialistas que publicam artigos também podem ser contatados para tirar dúvidas ou prestar uma consultoria, sem custos. Além disso, o projeto tem desenvolvido mecanismos de monitoramento das políticas públicas da área, o que permite ao instituto acompanhar os compromissos assumidos por secretarias municipais de educação.
A meta para os próximos anos é formar 6 mil profissionais da área da educação – educadores, diretores de escolas e técnicos das secretarias de educação – e produzir 15 estudos de caso, três livros e dois seminários. O Diversa tem como meta chegar a 50 mil visitantes por mês e evoluir o sistema para uma plataforma de formação a distância.
