Online, colaborativa e gratuita
Revista Espírito Livre oferece matérias e artigos sobre cultura livre e pode ser baixadA Na internet
Tatiana Merlino
ARede nº 86 – novembro de 2012
FOI EM UMA LISTA de discussão online, em 2010, que o analista de sistemas Alexandre Alves Borba, de 31 anos, conheceu a revista digital Espírito Livre: “Logo virei leitor porque achei o conteúdo muito bom e porque gostei da proposta de ser um projeto colaborativo”. Idealizada por João Fernando Costa Júnior, a publicação está disponível na rede sob a licença Creative Commons. Tem foco em tecnologia, cultura livre, compartilhamento, internet e software livre. A primeira edição da revista, que é mensal, foi publicada em abril de 2009.
Os autores dos artigos, matérias e entrevistas de cada edição são colaboradores voluntários, especialistas nos temas abordados. Inicialmente, eram amigos e convidados. “Hoje, são colaboradores dedicados e participativos. A escolha dos temas é feita entre vários deles”, explica Costa. A diagramação é feita por ele e mais outro profissional da área. “É uma tarefa complexa e trabalhosa, mas que rende bons frutos a cada mês. Como boa parte dos participantes se conhece, na maioria dos casos virtualmente, facilita bastante o processo.”
A distribuição da publicação é feita via postagem dos textos no site oficial e por download em PDF. O material é todo publicado em português, mas, segundo Costa, ainda em 2012 a revista ganhará versão em espanhol. De acordo com o idealizador do projeto, “a revista busca mesclar assuntos pertinentes aos usuários de computador e envolvidos direta ou indiretamente com tecnologia, mas que, de alguma forma, também envolvam software livre, culturas livres e outras iniciativas de liberdade e compartilhamento de conhecimento e informação”. Excelência nos artigos e nos critérios de seleção, escolha dos temas a serem abordados e a exclusividade das matérias também são objetivos da proposta.
Todo o processo de produção da revista se dá somente por meio de programas livres. A máquina onde é composta roda o sistema operacional Ubuntu 12.04. Costa usa os programas Scribus (para editoração), Gimp (editação de imagens), Inkscape (produção de banners e artes), LibreOffice (edição de textos) e Ghostscript (tratamento dos PDFs e inclusão de metadados). A fonte utilizada é da família Liberations (sob licença GPL) e as imagens também ficam disponíveis em Creative Commons.
O sucesso pode ser medido pelos downloads de cada edição da revista: média de 5 mil. “Mas, se somarmos para além dos meses específicos em que as edições são lançadas, temos uma amplitude muito maior. A primeira edição, lançada há mais de dois anos, por exemplo, já ultrapassou os 20 mil downloads”, explica João Fernando.
Entre os frutos gerados pelo trabalho da publicação está uma solução implementada em laboratórios em Duque de Caxias (RJ). “Técnicos daquela cidade utilizaram a documentação publicada na revista para instalar uma solução em laboratórios de informática”, relata. Para o leitor Alexandre Borba, a revista agregou muito conteúdo técnico ao seu conhecimento, ajudando-o a crescer e ensinando-o a compartilhar o conhecimento: “Pessoalmente, mudou a minha percepção sobre software livre e cooperação”, explica.
Segundo Costa, a maior dificuldade de manter o projeto foi, e continua sendo, a questão financeira. Como a Espírito Livre não gera recursos, os profissionais envolvidos não conseguem dedicar-se exclusivamente à iniciativa. “Costumamos dizer que é um hobby sério, uma vez que os leitores a cada mês nos cobram novas edições. Conforme o tempo passa a coisa fica mais e mais difícil.”
Recentemente, no Espírito Santo, a revista começou a promover fóruns de discussão e minicursos sobre a temática da publicação. “Levamos o que é discutido ao alcance do leitor, que normalmente tem contato com o material apenas na revista, mas que agora pode participar do evento com o redator que escreveu esse ou aquele artigo. A meta, nesse caso, é encurtar a barreira entre leitor e redator, colocando-os frente a frente”, explica Costa.
Para o futuro, a ideia é ter outros meios de veiculação de mídia, como o canal e rádio web. “Mas, para realizar esses projetos, o financiamento é primordial. Afinal, a aquisição de bens para a produção e a existência de material humano dedicado a esse processo são fundamentais”. Costa também quer realizar os eventos em outros estados.
Os fóruns têm como objetivo reunir a comunidade interessada em desenvolvimento de tecnologias e aplicações de software livre e de código aberto. O público é formado por estudantes, professores, pesquisadores, empresários e profissionais do setor, pessoas da comunidade de software livre, de movimentos sociais, gestores públicos e de organizações não-governamentais.
O evento, que é itinerante, já foi realizado nos municípios de Vitória, Vila Velha, Colatina e Serra. Na primeira edição, houve 415 inscritos. Na segunda, 1.450; na terceira, 930; e na quarta, 508. Os encontros são gratuitos e, além das apresentações, oferece minicursos gratuitos sobre tecnologia aberta.