Conexão Social – Mídia militante

Uma rede internacional, disposta a publicar quase qualquer coisa, chega à fronteira do potencial democrático da internet.  


Uma rede internacional, disposta a publicar quase qualquer coisa, chega à fronteira do potencial democrático da internet.  Leandro Quintanilha


O site, em princípio, aceita qualquer
contribuição. Só materiais violentos
são deletados.

Liberdade de expressão requer meios de expressão. Eis o mote do Centro
de Mídia Independente (CMI), uma rede internacional horizontal (sem
coordenadores) e apartidária, que publica informações, idéias, análises
e reivindicações de movimentos sociais em 30 países, há quase seis
anos. Inclusive no Brasil, onde mantém grupos de militância organizada
em 15 cidades.

O movimento nasceu em Seattle, no ano 2000, para divulgar uma cobertura
alternativa do “Encontro do Milênio” da Organização Mundial do Comércio
(OMC), realizado em novembro de 1999. A idéia era de ter um site na
internet que publicasse vídeos, imagens, sons e textos produzidos por
internautas. E os mantivesse disponíveis, como uma biblioteca virtual,
para reprodução gratuita por qualquer pessoa ou órgão de mídia
independente – desde que sem fins comerciais, é claro.

O site funciona assim: à direita, ficam os links institucionais, que
remetem a coletivos do mundo inteiro; ao centro, uma espécie de coluna
editorial, com matérias escritas, selecionadas ou traduzidas pelos
membros do CMI nacional; e, à esquerda, por fim, links para textos
enviados pelos internautas, geralmente ligados a movimentos sociais. Os
temas das matérias são os mais variados, da estética punk à reforma
agrária.


Identidade secreta

Mais especificamente, o site do CMI se propõe a publicar conteúdos
comprometidos com “a construção de uma sociedade livre, igualitária e
que respeite o meio ambiente”. Mas, em princípio, todo mundo tem
espaço. “Excluímos apenas materiais com ataques pessoais ou propaganda
racista, homofóbica, etc.”, explica Guilherme, voluntário do coletivo
de São Paulo, que prefere não revelar o sobrenome.

Os voluntários mantêm suas identidades secretas por segurança, já que
temas polêmicos são a pauta de todo dia. A maioria do material que não
se enquadra na política editorial do site é removido para uma espécie
de lixo público, que pode ser acessado pelo internauta por meio de um
link na página principal.

O Centro de Mídia Independente é um projeto sem fins comerciais,
desenvolvido por voluntários e, claro, usuários. “Não temos
coordenadores”, afirma Alexandre, voluntário do coletivo de Fortaleza,
no Rio Grande do Sul. “Somos uma rede sem hierarquia, funcionamos de
forma horizontal. Qualquer voluntário pode responder pelo CMI.”

O Centro de Mídia Independente do Brasil nasceu, em São Paulo, como
desdobramento do movimento antiglobalização, que promoveu um protesto
no dia 26 de setembro de 2000, quando se reuniram, em Praga, o FMI e o
Banco Mundial. O site nacional foi ao ar três meses depois. A partir do
final de 2001, novos grupos começaram a se organizar em outros pontos
do país. Hoje já são 19 coletivos, em 11 estados. Cada um desenvolve
projetos locais e todos, juntos, participam da gestão do site, segundo
os princípios internacionais de política editorial.

O CMI se pretende uma ponte entre a internet e as tecnologias
tradicionais de mídia (principalmente, rádio e jornal). Os conteúdos de
áudio, por exemplo, podem ser veiculados em rádios comunitárias. Alguns
coletivos da rede CMI Brasil também elaboram boletins de notícias,
enviados para emissoras ligadas a movimentos sociais. São produzidos,
ainda, jornais de poste (sim, lambe-lambes!), como o CMI na Rua, de São
Paulo, além de videodocumentários. E, para se constituir um coletivo,
um grupo local precisa, pelo menos, de cinco voluntários.